Liturgia: Igreja vive um “desinteresse pela formação litúrgica”, depois de um acolhimento conciliar “positivo”

Padre Pedro Ferreira comemorou 30 anos como diretor do Secretariado Nacional da Liturgia e lamenta “os retrocessos” nesta área.

Foto: SNL

Lisboa, 18 nov 2024 (Ecclesia) – O diretor do Secretariado Nacional da Liturgia considera que se assiste a um “desinteresse pela formação litúrgica”, depois de um acolhimento “muito positivo” da constituição Sacrosanctum Concilium do Concilio Vaticano II (1962-1965).

“Os encontros nacionais de liturgia dizem o que foi a reforma litúrgica em Portugal, com os seus temas, com os seus interesses e até com os desinteresses, mas o que está a acontecer agora é um desinteresse pela formação litúrgica, uma desorientação litúrgica”, disse o padre Pedro Ferreira à Agência ECCLESIA.

O padre Pedro Lourenço Ferreira, Carmelita Descalço, completou, este domingo (17 de novembro) 30 anos como diretor do Secretariado Nacional de Liturgia (SNL).

Natural de Fontes, diocese de Leiria-Fátima, tomou o hábito religioso de carmelita em 1967, tendo professado em setembro de 1975 e ordenado presbítero em 1976.

Ao falar destes anos ao serviço da Pastoral Litúrgica, o sacerdote realça que a constituição Sacrosanctum Concilium foi acolhida como “uma novidade nova”, essencialmente, passagem “da língua latina para a língua vernácula porque as pessoas não entendiam o latim, não sabiam o que é que se celebrava”.

Esta reação “positiva” traduziu-se “em necessidade de formação litúrgica” e SNL investiu “muito nesta formação para além da tradução dos livros oficiais”.

Um trabalho “moroso e laborioso”, mas feito com “grande paixão por toda a igreja portuguesa porque todos desejavam que a missa fosse em língua vernácula, todos desejavam entender o que na celebração se dizia e se fazia”, sublinhou o diretor do SNL.

“Esta necessidade que o povo de Deus sentiu encorajou muito os pastores e as atividades pastorais foram muito frutíferas”, acrescentou.

Para além da revisão dos livros, os cânticos também sofreram alterações porque “antes cantava-se em gregoriano”.

“Como não havia muitos cânticos para a liturgia em língua vernácula, os músicos foram convidados a escrever e escreveram muito e bem”, salientou o padre Pedro Ferreira.

“A nossa reforma litúrgica na área da música foi muito eficaz”.

Com a passagem para a língua vernácula, os leigos tornaram-se “muito mais” ativos nas celebrações.

“Esse é o princípio do concílio, a participação ativa” e “a língua era um grande impedimento para a participação”, contou o diretor do SNL.

Atualmente, por prática litúrgica entende-se “muita coisa que não corresponde à verdade” porque “cada celebrante pensa que ele é senhor da celebração e pode fazer o que quer e como quer. Isto é uma grande desorientação na vida da igreja”

“Há pessoas que têm uma formação excelente em liturgia”, mas “que fazem um mau serviço à liturgia”, lamenta o sacerdote carmelita.

Ao fazer um balanço destes 30 anos a dirigir o Secretariado Nacional da Liturgia, o padre Pedro Ferreira refere que as pessoas “não imaginam o trabalho que deram e que ainda continuam a dar os livros litúrgicos”.

Os livros litúrgicos “não consistem numa pura tradução”, mas “uma criação, uma adequação aos novos tempos, à nova linguagem”.

Com um missal novo, publicado há dois anos, “muitas paróquias não o querem e não o usam” porque “dizem que estão bem servidas”

O padre Pedro Ferreira referiu também que “há padres a voltarem ao latim” o que levanta “problemas a essas igrejas locais onde isso acontece”

“Há padres que voltaram a rezar de costas para o povo. Há questões muito delicadas nesta área da pastoral litúrgica”.

Estas atitudes são “um retrocesso” à constituição Sacrosanctum Concilium do Concilio Vaticano II (1962-1965), conclui.

LFS

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Agência ECCLESIA

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