«Laudate Deum»: «Papa percebeu que a Casa Comum, criada por Deus, estava a ser completamente maltratada»- padre Tony Neves

Missionário espiritano destaca que uma das ideias chave é «evitar que a tragédia seja maior»

Foto: Ricardo Perna

Roma, 04 out 2023 (Ecclesia) – O padre Tony Neves, missionário português da Congregação dos Espiritanos, disse que o Papa Francisco “percebeu que a Casa Comum, criada por Deus, estava a ser completamente maltratada” e escreveu a exortação ‘Laudate Deum’, que foi divulgada hoje pelo Vaticano.

“Na ‘Laudato Deum’, o Papa vem fazer o ponto da situação, e começa por lamentar que de facto a terra foi ainda mais maltratada do que estava em 2015, este é claramente um sinal de alerta”, disse o sacerdote que vive em Roma, em entrevista à Agência ECCLESIA.

A nova exortação do Papa sobre ecologia integral, na sequência da encíclica ‘Laudato Si’, de 2025, foi, simbolicamente, publicada hoje, a 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis, e encerramento do ‘Tempo da Criação 2023’; o Papa apela a um “percurso de reconciliação com o mundo”.

O padre Tony Neves, assistente geral da Congregação dos Missionários do Espírito Santo (Espiritanos), destaca que “uma das ideias chave da ‘Laudatte Deum’” é “evitar que a tragédia seja maior” porque em algumas situações ainda é possível, e afirma que o Papa “percebeu que a Casa Comum, criada por Deus, estava a ser completamente maltratada”.

“Acho interessante no Papa é, por um lado, fazer uma focagem muito espiritual de tudo, para dizer que é uma responsabilidade também espiritual o intervir no domínio da ecologia, e, claro, aqui está a responder a algumas vozes dissonantes e que não concordam com esta perspetiva”, assinalou.

O sacerdote português explica que, desde a publicação da ‘Laudato Si’, “apareceram bastantes vozes” a dizer que ‘este não é um assunto de fé’, que ‘a Igreja não tem que se meter’, e, “dentro” da Igreja Católica continuam a existir pessoas “a dizer que a Laudato Si não é uma encíclica no sentido técnico do termo, porque não trata de questões de fé e de costumes”.

“A fé tem de apanhar todas as dimensões da vida, se de facto as alterações climáticas vão estragar a vida de muitas pessoas, isso torna-se um problema espiritual, quer dizer que a nossa prática cristã não está a ajudar a resolver o problema da vida das pessoas. Como cristãos estamos a tomar atitudes que põem em causa a dignidade das pessoas, esmagam os direitos das pessoas.”

O missionário português destaca que na nova exortação o Papa “volta a insistir” na ideia que a criação feita por Deus “implica” que os seres humanos se entendam e respeitem, “mas também toda a questão ligada ao cuidado da Casa Comum, que é também uma questão bíblica.

O padre Tony Neves destaca que Francisco na ‘Laudato Deum’ “faz um ataque muito cerrado à mentalidade tecnocrática”, “rebate o argumento económico” dos negacionistas das alterações climáticas, e usa a “expressão muito feliz” ‘redesenhar’ para falar sobre as estruturas da Comunidade Internacional, apontando para as capacidades nas nações do sul, e alerta que a “aplicação prática” de COPs “foi muito ténue”, por isso, “joga as cartas todas no Dubai”, a COP28, onde é preciso que “tomem a sério estas preocupações que o Papa exprime”.

Para o entrevistado, o Papa Francisco “ganha credibilidade moral” ao entrar nestes temas e preocupações com “muita qualidade em termos de preparação, de escuta, de base científica” mas também com uma espiritualidade “muito profunda e propostas muito concretas de prática”.

A entrevista ao padre Tony Neves, uma conversa sobre a exortação ‘Laudate Deum’, vai ser emitida este domingo, dia 8 de outubro, no Programa ECCLESIA, na Antena 1 da rádio pública, pelas 06h00.

OC/CB

 

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