«Laudate Deum»: Novo documento do Papa desafia COP28 a tomar decisões «históricas» (c/vídeo)

Francisco destaca urgência de «transição para energias limpas» e de «redesenhar o multilateralismo» na política internacional

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 04 out 2023 (Ecclesia) – O Papa desafia os participantes na próxima COP28, no Dubai, a fazer desta cimeira do clima uma ocasião “histórica”, promovendo uma transição urgente para “energias limpas” e abandonando os combustíveis fósseis.

“Não podemos renunciar ao sonho de que a COP28 leve a uma decidida aceleração da transição energética, com compromissos eficazes que possam ser monitorizados de forma permanente. Esta Conferência pode ser um ponto de viragem”, escreve, na sua nova exortação ‘Laudate Deum’ (Louvai a Deus), divulgada hoje.

Francisco apela à assunção de “fórmulas vinculantes de transição energética que tenham três caraterísticas: eficientes, vinculantes e facilmente monitoráveis”.

A COP28, acrescente, deve “iniciar um novo processo que seja drástico, intenso e possa contar com o empenhamento de todos”.

A nova exortação sobre o tema da ecologia integral visa dar continuidade à reflexão da encíclica ‘Laudato Si’ (2015).

A 28ª conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas  vai ser realizada de 30 de novembro a 12 de dezembro, na Expo City, Dubai.

O Papa adverte que “companhias petrolíferas e do gás têm a ambição de realizar novos projetos para expandir ainda mais a sua produção”.

“Adotar uma atitude renunciante a respeito da COP28 seria autolesivo, porque significaria expor toda a humanidade, especialmente os mais pobres, aos piores impactos das alterações mudanças climáticas”, sustenta.

Para Francisco, sem “mudanças substanciais”, a humanidade corre o risco de ficar bloqueada na “lógica do consertar, remendar, retocar a situação”.

“Supor que qualquer problema futuro possa ser resolvido com novas intervenções técnicas é um pragmatismo homicida, como pontapear uma bola de neve”, prossegue o documento.

Duma vez por todas acabemos com a atitude irresponsável que apresenta a questão apenas como ambiental, ‘verde’, romântica, muitas vezes ridicularizada por interesses económicos. Admitamos, finalmente, que se trata dum problema humano e social em sentido amplo e a diversos níveis”.

Em vésperas da COP28, Francisco passa em revista os “progressos e falhanços” das Conferências sobre o Clima, sublinhando que “as propostas tendentes a garantir uma transição rápida e eficaz para formas de energia alternativa e menos poluente não conseguiram fazer progressos”.

O Papa desafia a comunidade internacional a “redesenhar o multilateralismo”, face à situação de “fragilidade da política internacional”.

“A globalização propicia intercâmbios culturais espontâneos, maior conhecimento mútuo e modalidades de integração dos povos que levarão a um multilateralismo ‘a partir de baixo’ e não meramente decidido pelas elites do poder”, realça.

A exortação alude a uma crise da “velha diplomacia”, que, se for capaz de se reformular, “deverá ser parte da solução, pois a própria experiência de séculos não pode ser descartada”.

Para Francisco, é necessário “reagir com mecanismos globais aos desafios ambientais, sanitários, culturais e sociais, sobretudo para consolidar o respeito dos direitos humanos mais elementares, dos direitos sociais e do cuidado da casa comum”.

A ‘Laudate Deum’ é publicada a 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis, santo que inspira o nome do documento.

OC

 

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