Sínodo: Papa convida a superar «interesses ideológicos», dando prioridade à «escuta»

Francisco sublinha importância das diferenças, sustentando que «harmonia não significa síntese»

Foto: Ricardo Perna

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 04 out 2023 (Ecclesia) – O Papa pediu hoje no Vaticano que a nova Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, “interesses humanos, pessoais, ideológicos”, com “prioridade à escuta”.

“A harmonia não significa síntese, mas uma ligação de comunhão entre partes diferentes”, disse, perante as centenas de participantes reunidos no Auditório Paulo VI.

Francisco sustentou que, se no final dos trabalhos, saíssem “todos iguais”, o Espírito teria “ficado fora”.

“Cada comunidade cristã, cada pessoa tem as suas particularidades”, que fazem parte da “sinfonia” da Igreja, precisou.

“Não somos um parlamento, não somos as Nações Unidas. É algo diferente”, insistiu, reforçando a mensagem que tinha deixado na homilia da Missa de abertura do Sínodo, a que tinha presidido esta manhã.

A Conferência Episcopal Portuguesa está representada no Sínodo pelo seu presidente e vice-presidente, D. José Ornelas e D. Virgílio Antunes, respetivamente.

Francisco saudou todos os que começam este “caminho sinodal”, recordando que foi São Paulo VI, Papa que encerrou o Concílio Vaticano II (1961-1965), a recuperar a ideia de “sinodalidade” na Igreja ocidental.

“A expressão da sinodalidade ainda não está madura”, admitiu, defendendo que “todos devem exprimir-se com liberdade”.

Francisco destacou que o tema foi escolhido após uma consulta a “todos os bispos do mundo”, manifestando “a necessidade de refletir sobre a sinodalidade”, apósUm caminho com quase 60 anos.

“E hoje podemos chegar a este Sínodo sobre a sinodalidade. Não é fácil, mas é belo”, disse, falando de improviso.

O Papa apresentou este assembleia sinodal como “um caminho que o Espírito Santo faz”, admitindo que “não é fácil”.

“O protagonista do Sínodo não somos nós, o Espírito Santo”, realçou, ao oferecer aos participantes um conjunto de textos da antiguidade cristã, de São Basílio (séc. IV).

Francisco recordou a agitação provocada no Pentecostes, que abre caminho “à grande obra do Espírito”, que é “a harmonia de todas as diferenças”.

A intervenção advertiu contra as “palavras vazias” e as “bisbilhotices”, considerando-as contrárias ao Espírito Santo, falando numa “uma doença muito frequente”.

“Se não estás de acordo com aquilo que dize aquele bispo, aquele padre, aquela irmã, di-lo na cara. Este é um Sínodo”, apelou.

No final do seu discurso, o Papa dirigiu-se aos jornalistas, elogiando o seu “trabalho muito importante”, para explicar que, no Sínodo, “mais do que a prioridade de falar, há a prioridade da escuta”.

Francisco apelou a um “certo jejum da palavra pública”, para que todos sejam capazes de “oferecer uma comunicação que seja reflexo desta vida no Espírito”.

Após referir que, nos últimos tempos, se multiplicaram “hipóteses para este Sínodo”, o Papa desejou que os profissionais da comunicação desenvolvam um trabalho “bom, justo”, para que “as pessoas de boa vontade percebam que, também na Igreja, existe a prioridade da escuta”.

O Sínodo, prosseguiu, deve ser visto como uma “pausa da Igreja”, sem “medo”, para ouvir.

A reunião inaugural, com transmissão online pelos canais da Santa Sé, abriu-se com um momento de oração, invocando o Espírito Santo.

Os trabalhos começaram com uma saudação de D. Ibrahim Isaac Sedrak, um dos presidentes-delegados da Assembleia.

“Se por um lado não foi fácil, por outro lado a preparação do Sínodo foi uma experiência fantástica”, referiu o patriarca de Alexandria dos Coptas (Egito).

Os participantes estão sentados, em mesas-redondas, nas quais acompanham o desenrolar dos trabalhos, tanta nas reuniões gerais como nos trabalhos de grupo linguísticos (círculos menores), incluindo um de língua portuguesa.

A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos decorre até 29 de outubro, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.

Parceria Consistório e Sínodo/OC

Foto: Ricardo Perna

O encontro tem 365 votantes – 54 mulheres – a quem se somam, sem direito a voto, 12 representantes de outras igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), oito convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.

Outras 57 pessoas, entre elas 20 mulheres, vão participar como peritos, à imagem do que acontecia no passado, ou “facilitadores”, ou seja, “pessoas especializadas cuja missão é facilitar os trabalhos nas diferentes fases”, sem direito a voto.

O Papa nomeou nove presidentes-delegados da Assembleia, incluindo duas mulheres: a consagrada japonesa Momoko Nishimura, membro do Grupo de Trabalho Sinodal da Federação das Conferências Episcopais da Ásia (FABC), e a religiosa mexicana Maria de los Dolores Palencia.

Estes delegados – entre eles D. Lúcio Andrice Muandula, bispo de Xai-Xai (Moçambique) – presidem aos trabalhos da Assembleia Sinodal “em nome e por autoridade” do Papa.

 

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