Jornadas Pastorais para o Clero da diocese do Porto

Na Casa Diocesana de Vilar, Porto, decorreram de 14 a 18 de Janeiro de 2008, com a participação de mais de meia centena de padres e diáconos, as Jornadas Pastorais sob o tema “Somente o Amor, coração da vida cristã, nos torna testemunhas de Cristo”, na linha da Exortação Apostólica pós-sinodal “Sacramentum Caritatis”, do Papa Bento XVI. “O mistério da Eucaristia a partir da sua origem trinitária. O primado do Amor”, “A Eucaristia, mistério vivido, princípio de vida nova em nós e forma da vida cristã” e “A Eucaristia, fonte e ápice da missão da Igreja” – foram os temas apresentados por intervenções de D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátma, de D. Manuel Clemente, Bispo do Porto, e do Cón. Jorge Cunha, director da Faculdade de Teologia-Porto, que permitiram uma alargada reflexão dos participantes. Foram complementadas pelas comunicações dialogantes do Cón. João Peixoto, do P. Manuel Amorim e do P. Lino Maia: “Mistério da Fé – Como viver esta exclamação que convida a aclamar Jesus Cristo que se torna presente no memorial da Sua Páscoa?”, “A Arte da celebração é a melhor condição para a participação do Povo de Deus no rito sagrado” e “A relação entre mistério eucarístico e compromisso social”. Perspectivas de reflexão e acção 1. O mistério de Deus, Amor Trinitário, é o primeiro conteúdo da Fé eucarística, o que implica algumas atitudes por parte de quem preside e por parte de quem participa, nomeadamente a de procurar escutar, respeitar e acolher o Mistério com uma linguagem e esforço de conversão, humildade e busca de mais profunda relação com Deus. 2. O primado de Deus, do Seu Amor e da sua Graça, deverá levar-nos a ultrapassar um olhar utilitarista e a assumir uma atitude contemplativa que nos faça centrar a celebração no dom que ali vamos buscar. Isso pede-nos mais cuidado no arranjo da igreja, nos tempos de silêncio, na própria iluminação do Sacrário, no esforço de sugerir mais do que tentar explicar tudo, nas oportunidades de Adoração, no apelo à comunhão e no zelo de saber aproximar as pessoas e ajudá-las a descobrirem o gosto pelas coisas em vez de dar tudo feito e pronto a consumir. 3. O Amor de entrega por parte de Cristo é o coração do sacrifício, o que exige que se viva “o memorial do sacrifício de Cristo” na linha de um amor realizado, vitorioso, levado até ao fim. Será preciso, então, deixar que Deus, por mim, fale, dê alento, envie em missão e mostre como Ele é bom e dá sentido à vida em todas as ocasiões. Fonte da vida comunitária 4.A Eucaristia deve ser fonte da vida comunitária e da missão da Igreja, o que reclama apelo à comunhão como expressão do Amor acolhido e celebrado, saboreado e capaz de transformar e dar qualidade à vida em todas as circunstâncias. Não se trata de mais uma devoção mas do ponto fundamental da vida cristã, onde deve colocar-se tudo o que somos e, assim, celebrar os diversos acontecimentos. Na Eucaristia se encontrará a luz que ilumina o caminho e a força que faz viver plenamente toda a semana. 5. A Eucaristia, como mistério vivido, deve levar à descoberta e a uma mais profunda vivência do Domingo. Para isso, nomeadamente na iniciação cristã, cuidar-se-á de concretizar a nossa participação na vida divina em progressivas atitudes. Será de aproveitar a Catequese, os encontros com pais, o coro infantil, os leitores e acólitos, a colocação das festas da Catequese em momentos próprios, as novas tecnologias, a organização de festas, encontros… para que a Eucaristia, mais do que ponto de chegada, seja ponto de partida para toda uma semana. E quem completa a iniciação cristã pelo Crisma deve ser integrado na acção apostólica para que possa viver a sua vida em testemunho decorrente da sua Fé. 6. A vida quotidiana, a família, o emprego, a ocupação dos tempos livres podem alimentar-se da Eucaristia. Quem viu, escutou e recebeu a vida em plenitude há-de passar a experimentar uma nova maneira de viver, dar glória a Deus através de uma vida realizada, feliz, partilhada e comunicada em atitude de serviço. Num tempo em que vai morrendo o espírito comunitário, a Missa do Domingo é, quase um isolado apelo à vivência familiar e incentivo para a disponibilidade para o serviço aos outros. Será preciso um pouco mais de criatividade para responder à crescente mobilidade, dispersão de horários de trabalho e hábitos de fim-de-semana e de férias. Viver o sentido do domingo 7. Há uma série de actividades dominicais que, na linha da Eucaristia, podem dar um tom diferente às comunidades e encher de graça a vida das pessoas. Viver segundo o Domingo, significa dar concretização à libertação trazida por Cristo ao tempo, à relação com as pessoas, ao trabalho, à vida e à própria morte, seja através de encontros de amizade, de formação, de oração ou de peregrinações e de obras de caridade. Importa saber fazer a ligação educativa e motivadora dos diversos tempos, das festas e dos encontros de férias, por exemplo dos emigrantes. A preparação adequada dos momentos de festa poderá congregar, dinamizar e formar muitos agentes de uma sociedade mais participativa. 8. “Fonte é ápice da vida da Igreja”, a Eucaristia permite que se possa encontrar Cristo nas realidades do mundo e descobrir o sentido da vida humana, vivida na linha da história do Amor de Deus. Recebe-se essa missão no fim da Missa e é, com esse novo vigor, que se inicia todo o Apostolado. Alguns pontos, entretanto, precisam de nova linguagem e de reconversão de sentido: a) as intenções da Missa sejam por vivos e defuntos, salientando a comunhão: passar do culto dos mortos à comunhão dos santos e da “minha Missa” à Missa por todos (não se tema dizer o nome das pessoas, enfrentando a morte e vencendo a melancolia e o medo; b) valorizar o ofertório como partilha de bens em gestos de caridade, que são missão da Igreja, e cuidar bem de dizer para onde vai o dinheiro; c) dar a conhecer, com clareza, o destino dos estipêndios das missas, nomeadamente os das intenções acumuladas. Oásis de vida 9. Em vez da ideia de preceito dominical ajude-se a experimentar a Missa como “oásis” de uma vida que, ao menos ali, é sempre marcada pelo apelo à mudança, ao serviço, à vida fraterna e à ousadia de perdoar e de dar prioridade no afecto aos mais necessitados. 10. Maior cuidado no acolhimento e mais sabedoria para lidar com casos difíceis num esforço de apelo à conversão e à descoberta das “razões da nossa esperança”. O dia do Senhor seja um tempo de encontro com aqueles que na Eucaristia alimentam o caminho da liberdade com a exigência de uma dedicação sempre maior… até ao dom total. 11. A Eucaristia é para edificar a Igreja e, por isso, depois de uma boa celebração a assembleia deverá sentir-se enviada a levar a todos os lugares e pessoas o alento de Cristo ressuscitado. 12. Cuidar da celebração significará ajudar a participação das pessoas no dom que é oferecido à Igreja e há-de proporcionar o acolhimento do mistério que nos é dado e que nos constitui como povo em acção de salvação. 13. Sem a acção caritativa não haverá Igreja, pois a atenção ao necessitado por razões de Fé é uma consequência do acolhimento e da vivência do Evangelho. Poder-se-á fazer coisas que outros também são capazes de fazer, mas hão-de ser feitas com “outra matriz” e, assim, envolver sempre toda a comunidade, devem ser abertas a todos, atender-se cada um, com afecto, como pessoa e cuidar de não isolar as pessoas mas saber manter a sua relação com os outros na sua diversidade. 14. A acção caritativa e de apoio social, para ser evangélica, deverá ser vivida num esforço de comunhão, de acção junto dos mais esquecidos e de motivação de leigos e diáconos para que abracem esta dimensão da vida da Igreja. Muitos reformados, com competência e generosidade reconhecidas, poderão sentir-se valorizados numa idade em que se vêem arrumados como dispensáveis e tidos como um peso para a sociedade. 15. Reconhecida foi, ainda, a oportunidade do tema escolhido, a qualidade das intervenções, o esforço de participação de todos e até a importância da vivência litúrgica e dos breves momentos de conversa nos intervalos. A presença e a atitude dos bispos em grande parte das jornadas foi ainda um elemento marcante, bem como a qualidade do serviço de uma casa que, nestes encontros, experimenta a sua principal razão de ser.

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