II Concílio do Vaticano: Um conceito de Igreja bem diferente

Com o II Concílio do Vaticano surgiu um conceito de Igreja bem diferente daquela que era vivida. Gestos novos nasceram com o decorrer desta assembleia convocada pelo Papa João XXIII e continuada pelo seu sucessor.

Quando se realizou o II Concílio do Vaticano (1962-65), o padre Ramón Cazallas Serrano estudava em Roma e teve a oportunidade de ver e sentir o pulsar deste acontecimento do século XX. “A igreja passou a ter uma Teologia e Eclesiologia, um tipo de conduta e de vida religiosa diferentes”, sublinhou este missionário da Consolata.

Na obra «Quando a Igreja desceu à Terra – Testemunhos de memória e futuro nos 50 anos do Concílio Vaticano II», o sacerdote espanhol revelou ao jornalista António Marujo que ainda estava “impresso” na sua cabeça, o momento em que foi aprovada a constituição sobre a Igreja «Lumen Gentium».

No dia seguinte à promulgação, o professor de eclesiologia chegou à aula e disse: «Podem fechar o livro porque a eclesiologia era particamente uma apologética. Agora vamos estudar isto»; e “mostrou as folhas com o documento aprovado no dia anterior, que trazia consigo”, disse na entrevista concedida a António Marujo.

Com o II Concílio do Vaticano surgiu um conceito de Igreja bem diferente daquela que era vivida. Gestos novos nasceram com o decorrer desta assembleia convocada pelo Papa João XXIII e continuada pelo seu sucessor. O missionário espanhol – nascido em 1942 em Castela, La Mancha – recorda o encontro com os bispos conciliares nas paragens de autocarro, na cidade romana. E lembra-se que, um dia, participou com alguns colegas num debate de teólogos com Henry de Lubac como conferencista. Essa iniciativa contava também com a presença de muitos bispos. “Apareceu D. Hélder da Câmara, que se sentou nas escadas, porque o anfiteatro estava cheio. Levantámo-nos para ceder o lugar, porque ele era arcebispo e ele disse. «Não, não. Eu sou uma pessoa como vocês, fiquem nos vossos lugares»” (In: «Quando a Igreja desceu à Terra – Testemunhos de memória e futuro nos 50 anos do Concílio Vaticano II»; página 17).

O missionário da Consolata revela também que a constituição «Gaudium et Spes» é o “olhar amoroso da Igreja sobre o mundo, a cara carinhosa da Igreja sobre as realidades terrenas. Toca os temas candentes da Igreja de há 50 anos mas, em embrião, estão lá todas as situações que hoje afligem a humanidade: a fome, a guerra e a paz, a dignidade e os direitos humanos”. Baseada no Evangelho, ela ilumina a pessoa humana e a sua problemática existencial. “A Igreja não pode ficar fechada na sacristia, mas deve sair ao encontro do homem na sua realidade existencial”.

O sonho e a ousadia de João XXIII lançaram a Igreja num diálogo aberto com a modernidade.    

LFS

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