II Concílio do Vaticano: O «gigantismo» de D. Hélder da Câmara

A presença de D. Hélder da Câmara no II Concílio do Vaticano (1962-65) foi fundamental para que a primavera sonhada pelo Papa João XXIII tivesse sucesso. O arcebispo de Olinda e Recife (Brasil) foi uma das mais notáveis figuras do concílio.

A presença de D. Hélder da Câmara no II Concílio do Vaticano (1962-65) foi fundamental para que a primavera sonhada pelo Papa João XXIII tivesse sucesso. O arcebispo de Olinda e Recife (Brasil) foi uma das mais notáveis figuras do concílio. A sua modéstia leva-o a “não intervir na aula conciliar”, mas a sua “irradiação foi imensa”.

Na obra «O Diário do Concílio – Volume 2» de Henri Fesquet lê-se que o bispo brasileiro era conhecido em Roma como o pastor dos pobres e que tinha colocado “o seu paço episcopal deles e eles sentem-se como em sua casa”. Era notório e visível que o Papa Paulo VI (agora beato) tinha “uma particular estima” por D. Hélder da Câmara e chegou mesmo a confessar-lhe “toda a influência que ele exercia sobre si mesmo” (Obra citada na página 325).

D. Hélder Pessoa Câmara OFS (Fortaleza, 7 de fevereiro de 1909 — Recife, 27 de agosto de 1999) foi um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e grande defensor dos direitos humanos durante o regime militar brasileiro. Pregava uma Igreja simples, voltada para os pobres e a não-violência. Pela sua atuação, recebeu diversos prémios nacionais e internacionais e foi indicado quatro vezes para o Prémio Nobel da Paz.

Quando hoje se fala tanto na reforma da Cúria Romana convém recordar o que pensava o bispo dos pobres sobre esta temática. Em relação ao Senado, D. Hélder da Câmara defendia que devia ser composto por cardeais, patriarcas e de um bispo eleito por cada uma das conferências episcopais com duração de dez anos.

Este Senado estaria “encarregado da eleição do Papa e colaboraria no programa dos concílios futuros, que poderiam realizar-se todos os dez anos (justamente o equivalente a um século de outrora, dada a aceleração da história)”. Para além deste Senado plenária devia ser escolhido um senado executivo (escolha pessoal do Papa) com mandato de dois anos e que não devia ultrapassar os 10% do Senado plenário. Este grupo devia ser convocado ao menos uma vez por ano para o exame dos problemas mundiais da Igreja. (Cf. «O Diário do Concílio – Volume 2» de Henri Fesquet).

D. Hélder da Câmara propunha também que a cúria romana fosse um órgão executivo ao serviço “não só do Papa, mas do Senado e dos organismos pós conciliares”. A cúria, segundo o bispo brasileiro, “não possui mais do que homens prisioneiros do passado”. Poderia “compreender no futuro” novos dicastérios e “talvez um serviço especial” que D. Hélder da Câmara definiu como “uma antena muito sensível, capaz de captar as violências sofridas no mundo inteiro por pessoas de qualquer raça, condição política, fé religiosa e posição ideológica”.

Ao olharmos para o quadro atual, será que D. Hélder da Câmara não foi um visionário? Captou, logo no início, os alicerces do II Concílio do Vaticano.

LFS

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