II Concílio do Vaticano: Manifesto dos «101 católicos» portugueses

O manifesto dos 101 católicos teve um importante impacto na vida política, não só pelo claro apoio manifestado pela primeira vez à oposição, por setores católicos, como congregar nomes que já assumiam (ou viriam a assumir) relevo na nossa sociedade.

As reflexões emanadas do II Concílio do Vaticano (1962-65) entraram na consciência de alguns portugueses, mesmo antes do encerramento da assembleia magna convocada pelo Papa João XXIII e continuada pelo seu sucessor, o Papa Paulo VI.

A 4 de outubro de 1965 é publicado, em Portugal, o manifesto dos «101 católicos contra a política colonial da ditadura». Convém recordar que nessa data estava a decorrer a última sessão do II Concílio do Vaticano. Para o historiador Fernando Rosas, o II Concílio do Vaticano vai ser, no nosso país, para os católicos mais importante do que o 25 de Abril de 1974.

“Aí se vai basear toda a intensa renovação, a abertura de novas perspetivas, a tomada de consciência sobre a ausência de democracia e de um regime de direitos e liberdades, o equacionar da questão colonial (posta por Mounier em “L’eveil de l’Afrique Noire” ou por François Mauriac a propósito da questão argelina…”, escreveu Guilherme d´Oliveira Martins num artigo do Centro Nacional de Cultura.
“As tomadas de posição de setores católicos contra o regime salazarista não eram inéditos”, escreveu Nuno Teotónio Pereira no livro «Tempos, Lugares, Pessoas» editado pelo Jornal «Público».

Desde a campanha eleitoral de Humberto Delgado para a Presidência da República que eram divulgados abaixo-assinados subscritos por católicos, nos quais se incluíam padres, “denunciando o conluio entre o estado e a Igreja, a existência da censura e as violências da polícia política”, sublinhava o Nuno Teotónio Pereira no artigo – «Há trinta anos: o manifesto dos 101» – localizado na mesma obra.

É preciso não esquecer a carta do bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, que se desmarca do regime ao visualizar situações desagradáveis na vida dos portugueses. Quando os papas João XXIII e Paulo VI se mostram favoráveis da “progressiva realização do acesso à soberania dos povos da África”, no nosso país o governo continuava a “justificar a guerra como a defesa da civilização cristã”, realça Nuno Teotónio Pereira.

O manifesto dos 101 católicos teve um importante impacto na vida política, não só pelo claro apoio manifestado pela primeira vez à oposição, por setores católicos, como congregar nomes que já assumiam (ou viriam a assumir) relevo na nossa sociedade. “Entre eles, podem citar-se António Alçada Baptista, António Barbedo de Magalhães, Francisco Lino Neto, Helena Cidade Moura, João Benard da Costa, Ruy Belo, Sophia de Melo-Breyner, Pedro Tamen e Nuno Teotónio Pereira”. Ficava assim selada, dentro da Igreja, uma divisão quanto à política do país.

LFS

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