II Concilio do Vaticano: Do santo João ao beato Paulo (II)

O Papa Roncalli convocou o II Concílio do Vaticano, mas o Papa Montini foi um estratega. Tanto que o João XXIII reservou um apartamento no Vaticano para o Cardeal Montini.

No próximo domingo, o Papa Paulo VI vai ser beatificado, numa cerimónia a realizar na Praça de São Pedro, no Vaticano, que coincide com o encerramento da da Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos sobre a família e o Dia Mundial das Missões.

Um autêntico laborioso na construção e realização conciliar e que soube dirigir os trabalhos da maratona que foi o II Concílio do Vaticano (1962-65). Um homem que intuiu as mudanças do mundo. Foi com Montini que se reuniu, em Roma, Itália, o primeiro Congresso do Apostolado dos Leigos, na estação outonal de 1951. Através do seu olhar estético fez nascer a Comissão Pontifícia para o cinema e o Comité Pontifício de Ciências Históricas.

Em 1952, consta que “recusou o cardinalato para ficar a trabalhar com o Papa Pio XII”, (In: «Os Papas do século XX», D. Manuel Clemente, Lisboa, Paulus Editora) no cargo de pró-secretário de Estado para os Negócios Eclesiásticos Ordinários. Em janeiro do ano seguinte, no consistório secreto, o Papa Pio XII confidenciou: “Era nossa intenção fazer membros do vosso Sacro Colégio os dois prelados insignes que presidem aos serviços da Secretaria de Estado [Montini e Tardini]. Os seus nomes estavam destinados a encimar a lista já preparada para a criação de novos cardeais. Dando uma notável prova de virtude, estes prelados pediram insistentemente para que nós os dispensássemos de uma tão alta dignidade”.

A 01 de novembro de 1954, o Papa Pio XII nomeou-o arcebispo de Milão, sendo ordenado a 12 de dezembro do mesmo ano pelo cardeal Tisserant, na Basílica de São Pedro. No dia 05 de janeiro de 1955, ao entrar no território milanês, “beijou a terra molhada”.

Ficou célebre a sua frase quando tomou posse na catedral milanesa: “Rezai, rezai comigo para que o ruído das máquinas se converta em música e em incenso o fumo das chaminés”. Era um verdadeiro pastor. Acompanhava os cristãos de perto e sempre com palavras amigas. Tanto visitava doentes como operários. Numa visita, a uma fábrica de Sesto San Giovanni disse aos trabalhadores: «Os primeiros a renegar a religião não foram os operários, mas sim os grandes empresários e economistas do século passado [XIX] que sonhavam construir um progresso, uma civilização e uma paz sem Deus e sem Cristo».

Visitou as mais de cem paróquias da cidade do norte de Itália, tal como as restantes que compunham a diocese. Nas aldeias falava com linguagem simples adaptada. O seu trabalho pastoral era reconhecido e a 15 de dezembro de 1958, o Papa João XXIII criou-o cardeal, com o título dos santos Silvestre e Martinho. O Papa Roncalli convocou o II Concílio do Vaticano, mas o Papa Montini foi um estratega. Tanto que o João XXIII reservou um apartamento no Vaticano para o Cardeal Montini.

Foi eleito Papa a 21 junho de 1963. A melhor garantia da continuação do concílio. Não desesperava os conservadores, nem decepcionava os progressistas. O Papa Paulo VI viveu o Verão de 1963 cheio de labor. Para além da preparação do II Concílio do Vaticano chegou a fazer duas e três alocuções por dia. Aos domingos ia celebrar nas vilas dos arredores de Roma para estar em contacto com as pessoas. Notava-se que existia um verdadeiro cuidado de Paulo VI em aliar à profundidade da sua doutrina a acessibilidade.

LFS

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