Igrejas seguras: igrejas abertas

É lamentável que as nossas igrejas estejam fechadas, isto é, que não tenham um horário razoável, conhecido publicamente e publicitado, de abertura diária, não apenas para a celebração da Eucaristia e dos sacramentos, mas também para a oração espontânea, comunitária ou pessoal e para a simples fruição estetico-espiritual. Sem dúvida que não devem menosprezar-se as razoáveis e sensatas medidas de segurança, a fim de evitar o furto, os danos ou o desrespeito pelo lugar sagrado (aspectos em que o Estado se compromete a colaborar com a Igreja – v. Concordata). Contudo, um excesso de zelo neste ponto poderá pôr em causa o sentido e a finalidade desses edifícios, independentemente do seu especial valor artístico ou histórico e dos bens culturais neles contidos. Por outro lado, não é líquido que as igrejas fechadas sejam mais seguras que as abertas. A experiência mostra o contrário. Os assaltantes sentem-se muito mais seguros nas igrejas fechadas do que naquelas igrejas que têm movimento de fiéis. Isto só nos deve levar a promover a visita às igrejas, cujo maior tesouro que possuem é a reserva do Santíssimo Sacramento, não só por causa dos ausentes, mas em favor da adoração dos fiéis. Eis uma medida pastoral de relevo a ter em conta, não tanto pela segurança, como pelo uso adequado das igrejas. Nisto, deveríamos implicar os fiéis, os ministros extraordinários da comunhão, os acólitos e outros ministérios, bem como outras associações, instituições e grupos, Confrarias do Santíssimo Sacramento, Apostolado da Oração, Conselho Pastoral, Conselho de Fábrica da Igreja e outros ministérios litúrgicos, catequéticos e de serviço. Neste aspecto, importa, sobretudo, que os responsáveis pela pastoral e as comunidades compreendam o sentido espiritual desses bens e atinjam o alcance das suas possibilidades evangelizadoras e catequéticas e das suas potencialidades interpeladoras e formativas ao nível das sensibilidades. Abrir as igrejas significa oferecer a todos, crentes e mesmo não crentes, uma mensagem explícita, gravada em arquitectura, escultura e pintura, em livros e objectos litúrgicos, coerentes entre si, como testemunhos, do passado e do presente, de uma vida inspirada no Evangelho e continuada hoje, de forma ágil e eficaz, graças ao Espírito que sopra onde quer. E, além disso, um ambiente acolhedor, sereno que permite a quem entra, que se encontre consigo próprio e, rico de silêncio e tranquilidade, possa ouvir a voz misteriosa que fala na profundidade interior de si mesmo. A leitura dos sinais dos tempos deverá levar-nos, a nós cristãos, a saber adaptar-nos para responder, em circunstâncias próprias, mesmo quando se manifestam carências (aparentemente adversas!), ao apelo do Senhor e do seu Espírito: ai de mim, se não evangelizar! Com efeito, o desenvolvimento do turismo, o interesse, cada vez mais generalizado, pelo património cultural, mesmo o de raiz cristã (entre nós, o mais numeroso e significativo), é um desafio a uma nova “fantasia” pastoral. Este instrumento pastoral que assim nos é oferecido, gratuitamente, está longe de ser cultivado e potenciado, como contrapartida acrescida à escassez de outros meios que foram importantes ou mesmo decisivos em tempos passados recentes. Não quereríamos ver as nossas igrejas reduzidas a museus e/ou a meros auditórios para espectáculos de música e outros, mas sim a espaços de espiritualidade de distinção, onde culto e cultura, evangelização e cultura se unem num resultado excelente de humanismo transfigurado. Não podemos conformar-nos com estas propostas (mesmo que possam ser, em último caso, uma saída mais razoável para monumentos de extraordinário valor cultural que já não consigamos revitalizar). A mudança de finalidade nunca será a melhor escolha, também do ponto de vista cultural. Manter abertas as igrejas tem custos. Mas há custos que valem a pena! Ter guardas/guias preparados, não apenas do ponto de vista artístico, mas também teológico; promover um voluntariado formado e organizado; prever brochuras instrutivas, orientadoras e formativas (não apenas numa perspectiva historico-estetica, mas também cultural-espiritual, ilustrando o seu sentido e finalidade); incluir a participação financeira dos visitantes (prática hoje comum e aceite) e outras formas de patrocínios, em muitos casos necessários, para a conservação e manutenção desses espaços, elaboração e divulgação de estudos; estabelecer protocolos com o Estado (como prevê a última Concordata, num sentido de uma respeitosa cooperação mútua) e/ou com outras instituições da sociedade, no mesmo espírito; etc. Eis, algumas sugestões que a pastoral para o nosso tempo não pode subestimar. Tudo isto que aqui se aponta não é novo e foi, de certo modo, objecto de sugestões consignadas em documentos da Igreja para o Ano da Eucaristia. Secretariado Diocesano de Liturgia do Porto

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