Igreja: «Vejo a Quaresma como um pedido de ensinar a amar» – padre António Jesus Silva 

Sacerdote do Coração de Jesus, ordenado há menos de um ano, olha a primeira Quaresma com «curiosidade» e como convite a «ligar e religar»

Foto: Padre António Jesus Silva com a família

Porto, 10 mar 2023 (Ecclesia) – O padre António Jesus Silva, religioso dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos), disse à Agência ECCLESIA que o tempo de Quaresma pode ser um “pedido de ensinar a amar” e um convite a “ligar e religar”.

“Há sempre uma surpresa que a Quaresma nos guarda, vejo a Quaresma como este pedido de ensino, de ensinar a amar e preparar para a ressurreição”, afirma o religioso de 29 anos. 

Ordenado sacerdote há menos de um ano, o padre António Jesus Silva percorre a primeira Quaresma como padre, com “expetativa e curiosidade”, e considera um tempo que o leva a “ligar e religar”, como “uma novidade”.

“Temos um noção sombria da cor roxa mas, reconhecer naquela cor, que se vai aclarar durante a Quaresma, que tem significado de ligação, isto tem a ver com a minha visão de Quaresma, religar, voltar a pegar em fragmentos, e juntando, unificando que é novamente o caminho para a Páscoa”, explica. 

O sacerdote defende que “uma Quaresma sem reconciliação ficaria pelo caminho”, considera o “desafio de aceder à possibilidade de perdão” para haver um “coração mais aberto e livre” e, depois de juntar as “partes partidas voltar a unir com emenda de ouro”, lembrando a técnica oriental “kintsugi”.

A fragilidade é a única maneira de, como humanos, conseguirmos curar novamente e restabelecer a liberdade interior que tanto esperamos e que Deus nos promete”.

O sacerdote, natural da Ilha da Madeira, sente que este tempo de preparação para a Páscoa, possa ser “conhecido pelas regras e restrições”, devido “ao tipo de pregações ou de formação” mas que podem ganhar novo sentido. 

“A oração, jejum e esmola, estas palavras ao início assustam mas este tempo pode ser desconstruído para explicar aos jovens; vivemos num tempo que se faz jejum intermitente, não é difícil explicar, ser capaz de estar mais vazio e livre de correria que nos ocupa, é uma espécie de jejum, depois a esmola pode ser a preocupação para estar mais atento a diversas situações e relações que estabelecemos no dia a dia”, indica. 

Na sua formação, o padre António Jesus Silva passou por Itália e é de lá que tem a maior e mais forte marca quaresmal.  

“Lembro a Quaresma da pandemia, bastante diferente, eu estava no epicentro da epidemia, na Itália, e, naquela altura, viveu-se com ansiedade e medo, num lugar onde se ouvia novos casos e na comunidade paroquial vivemos essa experiência, muito marcante, vivida quase em catacumba, com os quatro padres com quem partilhava a comunidade e as irmãs que viviam connosco, fez lembrar as primeiras comunidades onde não se podia celebrar”, recorda.

O religioso de 29 anos, colaborador com a paróquia de Fânzeres, na diocese do Porto, entende esta época de preparação para a Páscoa como “tempo de vitalidade e voltar ao essencial”.

Foto: Agência ECCLESIA/MC

“Um tempo jovem de preparação para a Jornada Mundial da Juventude lembra a volatilidade que é preciso um cristão ter para aceitar a ressurreição na sua própria vida e se levantar”, indica.

Para o padre António “é sempre uma alegria preparar uma festa” e considera que é preciso “empenho, esforço e disposição interior” para preparar a Páscoa.

Como sugestão de local de reflexão neste tempo o sacerdote, “adepto das caminhadas”, sugere a marginal do Rio Douro.

“Para chegar ao silêncio primeiro há o movimento, as caminhadas… Posso sugerir a marginal do rio Douro, onde se pode encontrar os dois sentidos, o movimento nosso, em que caminhamos, e o movimento de um rio que nunca para”, explica.

A viver a primeira Quaresma como sacerdote, o religioso confessa sentir uma “grande expetativa” e curiosidade.

A grande expetativa é de uma celebração vivida com a parte emocional e ritual, espero conseguir estar disposto para que Deus possa agir dentro de mim, que possa transmitir o que quer naquelas assembleias onde celebrar, a minha expetativa é a expetativa de Deus”.

Envolvido já na dinâmica da visita pascal, tradição comum no norte do país no domingo de Páscoa e seguintes, o padre António revela que espera “encontrar muita alegria e muitas portas abertas”, neste ano em que se regressa à normalidade, depois das limitações impostas pela pandemia. 

A entrevista integra o programa de rádio ECCLESIA deste sábado, 11 de março, pelas 06h00, na Antena 1 da rádio pública, ficando depois disponível online e em podcast

Em tempo de Quaresma o programa de rádio ECCLESIA, a cada sábado, convidou um sacerdote jovem para, em jeito de conversa informal, conte como vive este tempo, e as suas dificuldades, deixe a sugestão de um local a visitar e uma música que convide à reflexão.

SN

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