Igreja: «Uma representação de Quaresma seria tirar uma fotografia à noite, com exposição elevada, para poder apanhar a luz» – padre Christopher Sousa

Sacerdote de Viana do Castelo defende «gesto do encontro» como marca do caminho até à Páscoa

Foto: Christopher Sousa

Viana do Castelo, 17 mar 2023 (Ecclesia) – O padre Christopher Sousa, da Diocese de Viana do Castelo, disse à Agência ECCLESIA que alia a Quaresma a “uma fotografia tirada à noite”, um tempo marcado pelo “gesto do encontro”.

“Se tivesse de fazer uma representação plástica da Quaresma eu faria através da fotografia; a máquina fotográfica é um instrumento fabuloso, tudo acontece numa caixa escura, tudo se desvela e é necessário a escuridão e apenas uma entrada de luz, a Quaresma pode ser vista através desta analogia”, descreve o sacerdote. 

O padre Christopher Sousa defende que os 40 dias de preparação para a Páscoa, a festa maior dos cristãos, são para “deixar entrar esta luz na vida” e que tudo se possa revelar, “um caminho para ter uma relação saudável com Deus e com os outros”.

Tirar uma foto à noite, com exposição elevada para poder apanhar a luz que existe na noite, entendo que na Quaresma também é esta a dinâmica”.

O pároco de Santa Marta de Portuzelo entende a Quaresma como um “tempo em que o mundo não para”, “não se trata de uma pausa”, mas em que se pode permitir que o “interior de cada um possa abrandar” e até chegar a um equilíbrio. 

“A Quaresma pode ser uma espécie de dieta das coisas que estão como ‘bibelots’ na nossa vida, queremos arrumar e limpar mas não podemos esquecer que é tempo para mais, para promover mais os aspetos positivos da nossa vida, entendo ser importante, promover a proximidade com Deus e com os outros, tem de ser tempo para mais, mas sabemos que o mais e o menos equilibram-se, acho que a Quaresma é a procura de equilíbrio”, explica.

O padre Christopher Sousa indica ainda que este tempo pode ser um “convite a poder parar e fazer um equilíbrio interior para projetar a vida para a frente” e a libertar de “pesos mortos que não permitem caminhar com leveza e serenidade ao longo da vida”.

Estudante de Belas Artes, o sacerdote desconstrói a cor roxa, predominante neste tempo de vida da Igreja, como “a fusão de duas realidades distintas, o vermelho o lado mais carnal da vida, a nossa humanidade e o azul, o lado mais nobre da vida”.

Quase a celebrar 10 anos de sacerdócio, o entrevistado partilha que, para si, a marca da Quaresma é o “gesto do encontro”. 

O gesto do encontro, diria de duas formas, comigo mesmo nesse convite com o nosso íntimo, e depois também o encontro com os outros, principalmente com os mais frágeis, no período da Quaresma deve ser esse reforçado o gesto de ir ao encontro de pessoas que estejam a passar por situações de debilidade, fragilidade emocional, que estejam doentes, que o tempo de Quaresma seja para isso e permito ainda que haja mais espaço e tempo para que outros se possam encontrar comigo”.

Foto: Christopher Sousa

Assistente da Pastoral dos Estudantes, o padre Christopher Sousa refere que os “anos da juventude são definidos pela procura” e que as experiências a que os jovens se expõem “vincam o caminho para o futuro”.

“A Quaresma pode ser importante na vida de um jovem, sendo convite a poder fazer escolhas e esperando que sejam escolhas positivas e acertadas, para o crescimento individual e comunitário, como animadores e pároco, devemos propor a Quaresma como caminho de conversão, apresentada de outras formas, como oportunidade de mudança”, aponta.

Na diocese do Alto Minho, rodeada por duas realidades, o mar e a serra, “os melhores lugares de contemplação” para o sacerdote são as caminhadas pela serra do Gerês, um momento de paragem em tempo de Quaresma.

“A serra, a floresta, gosto de pegar no carro e ir dar uma volta pelo Gerês, gosto de estar no alto e ajuda-me a olhar para o horizonte e perceber que o Mundo é muito maior do que eu, e que também deve ser tempo para nos situarmos na vida; sugiro um passeio até à Serra de Arga e depois ter espaço de contemplação, com um livro, música ou só em silêncio”, aconselha.

Em ano de Jornada Mundial da Juventude, a acontecer em Lisboa na primeira semana de agosto, o sacerdote defende que se “deve estar sempre de olhos postos nos jovens” e que neste ano a juventude se torna “protagonista de forma particular”.

“Espero que seja um ano de muita graça, porque a Igreja em Portugal estava a precisar deste “boost”, já estamos a viver a JMJ, tivemos os símbolos na nossa diocese e quando vemos que temos uma comunidade ativa em todas as gerações dá-nos uma motivação que nos permite trabalhar de forma mais próxima e com mais esperança”, acrescenta.

Olhando a Páscoa deste ano o padre Christopher Sousa “nem precisa ser desafiado” para a tradição da visita pascal, uma vez que este regresso à normalidade vai “trazer uma dinâmica interessante” e que o pároco espera que também ali os jovens “tenham um papel de protagonista”.

A entrevista integra o programa ECCLESIA deste sábado, pelas 06h00, na Antena 1 da rádio pública, ficando depois disponível online e em podcast

Em tempo de Quaresma o programa ECCLESIA, a cada sábado, convidou um sacerdote jovem para, em jeito de conversa informal, conte como vive este tempo, e as suas dificuldades, deixe a sugestão de um local a visitar e uma música que convide à reflexão.

SN

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