Igreja/Sociedade: «A linguagem informal pode ser muito útil na comunicação», afirma padre Luís Rafael Azevedo

Sacerdote da Diocese de Lamego destaca que Jesus tinha «uma linguagem completa» e «sinais de informalidade» do Papa Francisco

Lisboa, 11 dez 2024 (Ecclesia) – O padre Luís Rafael Azevedo, autor da obra ‘De 30 d.C ao tempo do 5G’, afirmou que “a linguagem informal pode ser muito útil na comunicação” da Igreja, tema que procurou aprofundar no seu mestrado em Comunicação Aplicada.

“Eu fui vendo, ao longo da minha vida, que a linguagem informal permitia às pessoas compreender melhor a mensagem de Jesus. Então, para não ser apenas uma ideia da minha cabeça, ao fazer o mestrado em Comunicação Aplicada, decidi que este seria o tema da minha dissertação, e a verdade é que a linguagem informal pode ser muito útil na nossa comunicação”, disse o jovem sacerdote da Diocese de Lamego, em entrevista à Agência ECCLESIA.

O padre Luís Rafael Azevedo explica que as pessoas “muitas das vezes queixam-se do ‘catoliquês’”, o que os padres dizem não é compreendido, os catequistas falam também de uma maneira que “os miúdos não percebem”, e, os católicos praticantes, entre si, às vezes, têm “uma linguagem que não é de todo percetível”, por isso, a boa nova de Jesus, não está a “chegar às pessoas”.

‘O papel da linguagem informal na comunicação da Igreja: De 30 d.C ao tempo do 5G’, é o novo livro deste sacerdote diocesano, apresentado no dia 1 de dezembro, que resulta do mestrado em Comunicação Aplicada, realizado na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Viseu; defendeu a tese no dia 17 de junho de 2024.

“Vai de 30 DC ao tempo do 5G; a partir do momento que Jesus começa a comunicar a sua mensagem de maneira oficial, e fazemos uma ponte até este tempo, que é o tempo do 5G, a começar por Carlo Acutis, com esta ligação à informática e ao mundo digital. Pelo meio, não vou tocar em nada, vou de 30 DC, Jesus Cristo, São Paulo, duas figuras no início do Cristianismo, até agora, e vamos ver que há muitas coisas que são semelhantes”, desenvolveu.

O padre Luís Rafael Azevedo destaca que Jesus tinha “uma linguagem completa”, muitas vezes era formal, e descobre-se que “Jesus era um comunicador improvável”, pelas parábolas, os gestos e os sítios aonde ia.

“E vemos que Jesus tinha muito de informalidade e o poder da informalidade foi o que levou a que a mensagem fosse passando”, desenvolveu o sacerdote, salientando que, “às vezes, não corria muito bem”, mesmo com os discípulos.

O entrevistado sublinhou que ficou óbvio da sua investigação que uma linguagem informal “desperta a atenção das pessoas”, como “contar uma piada, levar algum símbolo diferente para uma reunião, o padre estar num sítio em que não é óbvio”.

“Nós fomos ver também a maneira como o nosso Papa Francisco comunica, e fomos detetando que há ali muitos sinais de informalidade. Claro que muitas das vezes ele faz discursos e lê, e aquilo tira um pouco do seu à-vontade: na Jornada Mundial da Juventude conseguimos constatar isso muito bem, fala sem papéis, vemos que a informalidade dele chama muito a atenção e consegue dar bons títulos de jornal”, desenvolveu o padre Luís Rafael Azevedo, no Programa ECCLESIA, transmitido esta quarta-feira, dia 11 de dezembro, na RTP2.

Sobre o título do livro – ‘O papel da linguagem informal na comunicação da Igreja: De 30 d.C ao tempo do 5G’ – o autor explicou que existe “uma questão também de som ‘DC 5G’”, mas queria “ter Cristo na capa, no título”, e, às vezes, “em ambientes que não da Faculdade Católica, poderá não ser tão fácil”.

No índice da nova publicação, o leitor encontra temas como ‘Das Epístolas ao Whatsapp’, ‘Da Exegese à Easyjet’, ‘De Profetas a Patetas’; ‘Papa Francisco: Uma lufada de ar fresco’; ‘São Paulo Um Apóstolo online’; ‘Beato Carlo Acutis: Um nativo digital nos altares’.

HM/CB/OC

O padre Luís Rafael Azevedo é também mestre em Teologia, defendeu a tese ‘Discípulos missionários do “Deus desconhecido”: um estudo exegético-pastoral de At 17, 16-34’, que se baseia na passagem de São Paulo pelo areópago, onde foi falar “com os gregos, que são politeístas, e adapta o seu discurso”.

De maneira muito vulgar, este texto é visto como um insucesso. São Paulo devia ter pregado da mesma maneira, falar de Cristo crucificado, mas a verdade é que a investigação vem propor esta adaptação da linguagem. Nós não podemos estar a falar para um povo que é politeísta da mesma maneira que estamos a falar para um povo que é monoteísta”, desenvolveu.

O jovem sacerdote da Diocese de Lamego, pároco em Oliveira do Douro (Cinfães), destaca que não se podem “estar a falar para crianças como quem está a falar para os avós das crianças”, ou falar para pessoas que “acreditam como para gente que não acredita”, porque a mensagem é a mesma, mas a forma de transmitir “tem de ser adaptada”.

 

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Agência ECCLESIA

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