Igreja/República: Movimento católico português esteve presente na construção da democracia – Pedro Silva Rei

Investigador evoca realidade «muito plural», antes da revolução de 1910

Foto: Agência ECCLESIA/LFS

Lisboa, 05 out 2023 (Ecclesia) – Pedro Silva Rei, investigador de História, considera que os católicos portugueses “não estiveram alheios” e “interagiram na vida partidária e associativa” na construção democrática portuguesa.

“A implantação da República em Portugal (5 de outubro de 1910) é uma data importante na história portuguesa e, paradoxalmente, para a história da Igreja em Portugal e para o movimento católico português”, realça à Agência ECCLESIA.

Para o investigador que concluiu o mestrado com um trabalho intitulado ‘Ser Bispo entre a Monarquia e a República. D. António Mendes Bello, um príncipe leonino em Portugal (1885-1911)’, na área da História Contemporânea, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, existem “muitas zonas nebulosas” que precisam “de serem estudadas” em relação ao papel dos católicos na dinâmica do século XX.

“É importante olhar um pouco para trás” e perceber a situação da Igreja em Portugal na Monarquia Constitucional e as “vésperas da revolução”, afirmou.

“Não se pode equacionar a problemática religiosa na I República sem levar em linha de conta todo o regime regalista que presidia à Monarquia Constitucional” que fazia do “rei o primeiro garante da religião do Estado, que era o catolicismo”, e “onde os bispos e os padres eram membros do funcionalato público”, frisou Pedro Silva Rei, que integra o Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa (CEHR – UCP).

Antes da Implantação da República, em 1910, os bispos “tinham lugar na câmara dos pares e faziam parte do poder legislativo e os padres eram funcionários do Estado” e “organizavam eleições, além de presidirem aos cultos”.

O investigador realça que o “religioso era um elemento de identidade nacional”, mas alguns setores do republicanismo “colocam isso em causa” e até colocavam a religião “como um atavismo cultural, um obscurantismo e a causa da decadência dos povos peninsulares”.

A 5 de outubro de 1910, o catolicismo era “muito plural”, desde logo do ponto de vista político-partidário, com representantes em todos os partidos, “desde o progressista ao regenerador”.

O historiador refere o voto católico “era muito disputado” durante a monarquia constitucional.

Com a Implantação da República, a rutura entre a Igreja e os políticos “foi notória”, particularmente após a Lei da Separação entre a Igreja e o Estado e a expulsão das ordens religiosas.

“Não são apenas as franjas republicanas que olham com relutância para a confessionalidade do Estado”, porque vários setores do “movimento católico português já advogavam o fim” da separação “institucional da Igreja e do Estado”.

O historiador Pedro Silva Rei concedeu uma entrevista ao programa ECCLESIA que vai ser transmitida, esta quinta-feira, pelas 15h00, na RTP2.

LFS/OC

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