Igreja/Portugal: Capelães militares chamados a uma «presença humana» e empenhada nos problemas das corporações

Bispo das Forças Armadas e de Segurança celebrou hoje a Missa Crismal, alertando para «o perigo de marcar o ponto e cumprir horário»

Lisboa, 23 mar 2016 (Ecclesia) – O bispo das Forças Armadas e de Segurança celebrou hoje, na Igreja da Memória, em Lisboa, a Missa Crismal com os capelães militares, incentivando-os a sobreporem sempre a sua missão de sacerdotes ao mero “funcionalismo eclesiástico”.

Na homilia da celebração, enviada à Agência ECCLESIA, D. Manuel Linda referiu que atualmente “a figura do padre” está “socialmente desvalorizada” e “é vítima frequente de uma comunicação social sensacionalista (…) e mesmo de cristãos que se imaginam apenas portadores de direitos e não de deveres”.

“Não é fácil ser padre, de facto”, admitiu o prelado, apontando no entanto para o facto de muitas das razões por trás desta desvalorização terem por base a realidade atual do clero.

O Ordinariato Castrense antecipa esta celebração para a Quarta-feira Santa, permitindo assim aos sacerdotes a participação na mesma celebração nas suas dioceses de origem, na manhã de quinta-feira.

“Se é verdade que esse anticlericalismo é praticamente inexistente no âmbito das Forças Armadas e de Segurança, mesmo assim devemos colocar-nos em atitude de perene questionamento”, defendeu D. Manuel Linda, desafiando os capelães a uma avaliação de vida e a da sua presença no meio militar.

“Para quê um capelão num Serviço ou Unidade? Apenas para celebrar a Missa no Natal e na Páscoa ou rezar uma oração de dois minutos pelos mortos no Dia da Unidade? As minhas atitudes mostram o ‘suplemento de alma’ de que o sacerdote deve ser portador? Sou ‘padre’ ou oficial?”, questionou ainda.

O responsável católico frisou que, sem esta avaliação, sem uma vigilância permanente, torna-se mais fácil “resvalar sem dar conta”.

“É o perigo de marcarmos o ponto, de cumprirmos um horário, arrastarmo-nos entre o gabinete da capelania e o bar à espera do toque de ordem e… nada mais. É o vazio da ação. Ou a ausência dela”, enumerou o prelado.

D. Manuel Linda sustentou que um capelão deve ser sobretudo uma “presença humana” empenhada na “inventariação” dos problemas das pessoas, dos militares.

Deve também ser uma figura apostada na “formação religiosa” de todos os que o rodeiam, “para a oração e para a caridade, mesmo que não seja seguido”, mesmo nas dificuldades.

O responsável pelo Ordinariato Castrense apontou para a “ladeira escorregadia das compensações” que muitas vezes se coloca diante do sacerdote, a quem “falta o calor humano de uma esposa e dos filhos”.

Uma via que pode levar o padre a “tentar suprir este vazio com determinados preenchimentos, nem sempre recomendáveis”, sendo “o mais tentador o dinheiro”.

Algo que “pode tornar-se a grelha mediante a qual se olha o mundo e inclusive o sacerdócio” e “quando assim acontece, tudo são dificuldades: não se pode ir aqui e ali porque se gasta um quartilho de gasolina; não se permanece no meio castrense porque lá fora ganha-se mais; não se participa na formação contínua porque não se passa guia de marcha”.

“Senhores padres, não demos pretexto para que se riam de nós. Pensemos que, porventura, 80 ou 90 por cento dos militares e polícias ganharão menos que o menos graduado dos nossos capelães”, afirmou D. Manuel Linda.

Ao longo da sua intervenção, o bispo das Forças Armadas e de Segurança avisou ainda que, apesar de “não ser contra o facto de o padre vestir uma farda e usar galões”, não é daí que lhe advém “a sua autoridade”.

A Igreja Católica coloca sob a jurisdição do Ordinariato Castrense todos os fiéis militares e também aqueles que, por vínculo da lei civil, se encontram ao serviço das Forças Armadas; são também setores integrantes as Forças de Segurança, ou seja, a Guarda Nacional Republicana e a Polícia de Segurança Pública.

JCP

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