Igreja missionária em tempo de crise

A Carta Pastoral da CEP: “Como Eu fiz, fazei vós também – para um Rosto Missionário da Igreja em Portugal” aparece num momento crucial da sociedade hodierna e da Igreja em Portugal. Tempo de mudança, de crise, de procura de sentido e de esperança tão propícia a uma busca de caminhos novos de implemen-tação de valores evangélicos que a humanidade tanto anseia e busca.

Este documento coloca a missão no âmago do ser Igreja e apela, de forma pertinente, ao compromisso cristão, colocando cada baptizado em confronto com a sua própria identidade mais profunda: Ser cristão é ser missionário, é ser testemunha do Evangelho, é viver em Cristo e com Cristo ser testemunha da ressurreição.

Ir ao encontro, sair de si e dispor-se a realizar o gesto paradigmático de toda a dimensão missionária: “Como Eu fiz, fazei vós também”, é concretizar o lava-pés, sinal do verdadeiro encontro, na gratui-dade dos gestos que se dão, na simplicidade e na coerência entre aquilo que se anuncia e a força testemunhante que só a força do Espírito é capaz de dinamizar.

A missão evangelizadora é uma dimensão essencial da identidade ou da razão de ser de toda a Igreja. Para que esta dimensão missionária seja possível, todos, em comunhão, na unidade e na diversidade, somos necessários, agentes “qualificados” para transmitir o Evangelho. Somos todos participantes e colaboradores na mesma missão da Igreja.

Só a partir do Amor, a partir de Cristo, é que a dimensão missionária se concretiza. É a partir de Jesus servo e servidor, em atitude de gratuidade amorosa, num sinal de entrega sem limites, num gesto de amor e de serviço, que se efectiva a maravilha do dom, protótipo de toda doação e entrega que a missão da Igreja é chamada a viver em cada época concreta na história. A imagem do Bom Pastor aparece na Carta como ícone missionário por excelência. Bom Pastor que leva as ovelhas a pastagens verdejantes onde há Vida e há futuro: “Eu vim para que tenham Vida e Vida em abundância” (Jo10,10).

O Documento interpela para a urgência da Evangelização. Há uma consciência cada vez maior, de que Jesus Cristo é cada vez menos conhecido. Os critérios do Evangelho estão cada vez mais distantes da vida e do actuar dos homens e mulheres da sociedade actual.

É urgente, é a hora propícia a uma “nova cultura de evangelização” onde todos os baptizados se sintam comprometidos no desafio de anunciar o Evangelho, com paixão, com audácia evangélica, com dinamismo e atitudes novas.

A proclamação da Boa–Nova é a primeira missão que a Igreja é chamada a realizar. A humanidade de hoje precisa de pessoas portadoras de esperança, de sentido de vida e de liberdade. Foi o convite deixado pelo Papa em Portugal: “Meus irmãos e irmãs, é necessário que vos torneis comigo testemunhas da ressurreição de Jesus.”

Esta Carta Pastoral ajudará toda a Igreja Portuguesa a levar por diante a dimensão missionária, na medida em for capaz de promover o espírito de “Igreja – comunhão”, chamada a viver na sua acção/missão o sentido profético, denunciando tudo aquilo que é contra o projecto de Deus, mas sobretudo, envolvendo-se criativamente em SER anúncio libertador, portadora de esperança no mundo de hoje.

O documento aponta como desafios a criação, em todas as Dioceses, de Centros Missionários Diocesanos – para fomentar a animação missionária e promover formação e acções concretas na linha da Missão. Em cada paróquia pede-se a dinamização de grupos paroquiais missionários que, trabalhando em rede e em comunhão com todos os organismos da paróquia, possam ser células vivas de animação missionária.

A Igreja em Portugal está a viver um momento privilegiado do Espírito. Comprometer-se nesta causa é acreditar que é possível um novo dinamismo missionário em Portugal, é fazer com que a VIDA seja gerada, acolhida, anunciada e testemunhada. É a “Vida abundante” que somos chamados a viver, a anunciar, a testemunhar e a animar.

Maria de Lurdes Farinha Alves – FMM

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