Igreja missionária contra a crise

Novo Bispo Auxiliar de Braga deixa desafios no dia da sua ordenação e promete atitude optimista no seu ministério O novo Bispo Auxiliar de Braga deixou este Domingo o desafio de uma Igreja mais missionária, que seja sinal de esperança para a sociedade. D. António Couto revelou que espera “ver nascer, neste mundo em mudança, em cada paróquia e em cada pessoa, um rosto missionário, evangelizado e evangelizador, acolhido e acolhedor”. O prelado falava durante a cerimónia de ordenação, que decorreu no Seminário das Missões, em Cucujães, pertencente à Sociedade Missionária da Boa Nova de que D. António Couto era Superior Geral. Saudando todos os presentes, o Bispo Auxiliar de Braga falou do seu sonho de uma Igreja missionária e confessou, por outro lado, que já perdeu “várias lutas com Deus” e que a sua escolha para este cargo “é mais uma vitória Dele”. “Já são muitos a zero”, gracejou. “Assumo publicamente a derrota, mas compreendo, cada vez melhor, que a verdadeira vocação do homem é lutar com Deus mil vezes por amor e mil vezes sair derrotado por amor”, disse ainda. A celebração foi presidida por D. Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga, para quem “esta ordenação episcopal deve ser, para a Igreja em Portugal, uma maior consciencialização pela causa do Evangelho, comprometendo-se num autêntico empenho que, nos tempos actuais, deve transparecer como sinal e semente de esperança”. Na sua homilia, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa falou de “sinais inquietantes” na sociedade do nosso país, que deveriam desafiar a Igreja “a tornar-se profecia viva da esperança, acreditando que nestes contrastes é possível descortinar uma aurora desde que não caminhemos em adaptações fáceis, mas ousemos apostar na exigência e coerência evangélica”. Entre esses indícios de inquietação, D. Jorge Ortiga falou de “um mundo de desigualdades económicas, culturais e sociais”, “uma cultura de morte”, “uma mentalidade de massificação e anonimato”, “experiências de solidão nos idosos e vazio existencial nos jovens que procuram outras experiências sem conteúdo”. Sinal de esperança Em declarações à Agência ECCLESIA, D. António Couto revelou que o lema que adopta se baseia numa passagem da profecia de Jeremias (1,11): “Vejo um ramo de amendoeira”. “Numa altura dificílima da história de Judá, em que o povo vai para o exílio e cai a cidade de Jerusalém, com a destruição do Templo”, Deus ofereceu ao profeta uma visão que foi para “além da desgraça, da morte e da miséria”, explica. “A amendoeira é uma das poucas árvores que floresce em pleno Inverno. Jeremias, em vez de ver a catástrofe ou a crise, tem os olhos postos na flor da esperança”, acrescenta o prelado. D. António Couto assegura, por isso, um ministério que não seguirá “o lado do pessimismo, mas o lado positivo”, desafiando as pessoas “a verem o belo e o bom”. Na homilia da celebração deste Domingo, D. Jorge Ortiga aludiu ao simbolismo da amendoeira, frisando que “a grande lição a extrair é que importa estar no presente da história com olhos de serenidade”. “Caminharemos com o D. António Couto através duma oração constante e duma unidade permanente para que a sua vida, no meio de diversos desafios e perplexidades seja «tranquila» e para que, rodeado por tantos conflitos e confrontos, tenha uma vida «pacífica»”, assegurou, depois. D. António Couto, que chega à Diocese de Braga no próximo dia 10 de Outubro, nasceu a 18 de Abril de 1952 em Vila Boa do Bispo, concelho de Marco de Canaveses, diocese do Porto. Com 11 anos entrou no seminário de Tomar da Sociedade Portuguesa das Missões Ultramarinas, então conhecida por Sociedade Missionária. Recebeu a ordenação sacerdotal a 3 de Dezembro de 1980. Os primeiros anos de sacerdócio foram vividos no Seminário de Tomar. Em 1982 fez o curso da Academia Militar e foi nomeado capelão militar. Transferiu-se depois para Roma, no Colégio Urbaniano, onde em 1986 obteve a licenciatura em Sagrada Escritura. Em 1989, depois de uma permanência de cerca de um ano em Jerusalém, no Instituto Franciscano de Emaús, obteve o doutoramento em Teologia Bíblica. Foi seguidamente professor de Sagrada Escritura até 1991, no Seminário de Luanda, em Angola. Regressado a Portugal, foi colocado no Seminário de Valadares com o encargo da formação dos estudantes de teologia. De 1996 a 1999 foi reitor do Seminário de Valadares e leccionou na Universidade Católica Portuguesa, no Porto. De 1999 a 2002 foi vigário geral e, neste ano, eleito Superior Geral da Sociedade Missionária da Boa Nova. A SMBN é composta por sacerdotes diocesanos e leigos que se consagram à evangelização. Surgida em Portugal, no ano de 1930, encontra-se actualmente em Angola, Brasil, Japão, Moçambique e Zâmbia. Em 2004, João Paulo II nomeou o futuro Bispo Auxiliar de Braga como membro da Congregação para a Evangelização dos Povos. D. António Couto é colaborador do Programa ECCLESIA (RTP2), da Igreja Católica, onde colabora regularmente desde 2005 na sua qualidade de biblista. É autor de artigos em enciclopédias, colectâneas e revistas, para além dos seguintes livros: Até um dia (poemas) 1987; Raízes histórico-culturais da Vila Boa do Bispo; A Aliança do Sinai como núcleo lógico-teológico central do Antigo Testamento (tese de doutoramento), 1990; Como uma dádiva. Caminhos de antropologia bíblica, 2002 (2.ª edição revista em 2005); Pentateuco. Caminho de uma vida agraciada, 2003 (2.ª edição revista, 2005). Foto: Paulo Rocha/AE

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