Igreja/Media: Mundo digital alimenta ideia de «campos opostos» e lança desafios à ideia de «comunidade» humana – Rita Figueiras

Docente da UCP comenta desafios lançados em novo documento do Vaticano

 

Lisboa, 26 jun 2023 (Ecclesia) – Rita Figueiras, professora da Faculdade de Ciências Humanas da UCP, assinalou que o mundo digital, em particular as redes sociais, têm alimentado a ideia de “campos opostos”, em vez de “comunidade”, numa lógica de “nós e os outros”.

“Na forma como estas redes sociais se vão organizando, tende a ser colocada e cada vez mais alimentada, na sociedade, a ideia de que os próximos são só os que pensam exatamente como eu, os que fazem exatamente as mesmas coisas”, observa a investigadora, em entrevista à Agência ECCLESIA.

O Vaticano lançou a 29 de maio um documento sobre a presença dos católicos nas redes sociais, apelando à construção de novos modelos, que superem a lógica das “bolhas” e transformem um “ambiente digital tóxico”.

“Temos de reconstruir os espaços digitais, para que se tornem ambientes mais humanos e saudáveis”, refere o texto intitulado ‘Rumo à presença plena. Uma reflexão pastoral sobre a participação nas redes sociais’.

Para Rita Figueiras, a reflexão deve recuperar princípios fundamentais da convivência humana, como o respeito, a tolerância e a vontade de escuta recíproca.

“No ambiente digital, embora tenha caraterísticas particulares, distintas, é preciso pensar que, do outro lado, estão pessoas como nós”, sustenta.

O clima de confronto permanente, acrescenta a docente universitária, coloca em causa princípios de cooperação e de colaboração, na busca de “um espaço comum”.

“Do ponto de vista cultural e tecnológico, há novas formas de olhar para os outros, como os que estão comigo e os que estão contra mim”, precisa.

Em entrevista emitida hoje no Programa ECCLESIA (RTP2), a investigadora aborda a atual reflexão sobre o que acontece aos dados, após a morte dos utilizadores, perante a hipótese de uma “reconstituição digital” da pessoa.

“É a grande transformação que vemos atualmente, com a ajuda da inteligência artificial generativa. Todos temos uma quantidade enorme de informação online: o nome, a idade, o percurso profissional”, aponta.

Coloca novas questões antropológicas, questões religiosas, tecnológicas e legais, também. De quem é a informação de alguém que já não está cá, para zelar pelos seus dados?”

A investigadora na área da Comunicação fala numa “ilusão de quantidade” que “não se traduz em diversidade” de perspetivas.

“As pessoas foram percebendo que quando são mais agressivas, quando são mais emocionais, mais taxativas nas suas observações, isso gera mais impacto”, adverte.

Rita Figueiras assinala que a inteligência artificial traz novos desafios e “exponencia a produção em série”, colocando a “questão da autenticidade”.

“De um princípio bom, que é o acesso livre, aproveitou-se para questões de desinformação, as fake news, que vão deturpando não só o conhecimento existente na sociedade, mas também vão alimentando muito ressentimento”, realça.

O documento ‘Towards Full Presence’ (Rumo à presença plena), com versão original em inglês, tem 82 pontos, desenvolvidos em mais de 20 páginas, sendo acompanhado pelo lançamento de um site próprio, para partilha de boas práticas e a “nova alfabetização mediática”.

PR/OC

Igreja/Media: Vaticano lança «guia» para promover presença nas redes sociais

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