«Muita da riqueza» vivida pelos fiéis «parece ter dificuldade em refluir para as instâncias de decisão e organização», considera Alfredo Teixeira
Lisboa, 03 out 2012 (Ecclesia) – A hierarquia da Igreja nem sempre está atenta às experiências inovadoras das comunidades de base e por isso perde oportunidades para evangelizar, considera o sociólogo católico Alfredo Teixeira.
“Por vezes as diversas instâncias eclesiais estão pouco atentas ou talvez não tenham encontrado forma de enquadrar e rentabilizar experiências que revelam sinais claros de um modo de estar diferente da Igreja, afirma em entrevista publicada na edição desta terça-feira do Semanário Agência ECCLESIA.
Por isso, salienta, “muita da riqueza” vivida pelos fiéis “parece ter dificuldade em refluir para as instâncias de decisão e organização”, refere o antigo diretor do Centro de Estudos de Religiões e Culturas, pertencente à Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa.
A “atitude de alguma humildade e fragilidade”, que conduz as comunidades a estarem atentas às transformações na sociedade e a tentarem adaptar-se à mudança “pode ser um desafio muito grande para pensar os problemas da nova evangelização”, tema que está no centro do Sínodo dos Bispos que começa este domingo no Vaticano.
O coordenador do inquérito ‘Identidades religiosas em Portugal: representações, valores e práticas’, apresentado em abril na última assembleia plenária da Conferência Episcopal Portuguesa, critica quem pensa que “uma simples remodelação, quase cosmética, de algumas coisas que a Igreja fez no passado poderá dar resultado hoje”.
“Falar de nova evangelização implica sempre reconhecer que as condições de comunicação do Evangelho se alteraram, não só pela forma como a própria Igreja se está a reconstituir, recompor e reformar permanentemente, mas também porque os interlocutores da sua mensagem vivem em situações sociais diferentes”, realça.
Alfredo Teixeira diz que a presença dos católicos no mundo é mais delicada hoje do que há algumas décadas mas realça que este contexto pode oferecer à Igreja a possibilidade de “descobrir na fragilidade um modo de estar, pelo testemunho, muito diferente e talvez muito mais eficaz do que noutros tempos”.
No Concílio Vaticano II, iniciado há 50 anos, a Igreja escolheu uma maneira diferente “de estar na sociedade e dialogar com ela”, lembra o agora diretor do Instituto Universitário de Ciências Religiosas, da Faculdade de Teologia.
“Quando refletimos sobre o que pode ser uma Igreja em estado de concílio, que procura construir consensos e que tenta enfrentar as realidades pastorais mais desafiantes, olhamos para um estilo à maneira do Vaticano II. Penso que este é um traço importante que a reflexão sobre o encontro deve ter”, acrescenta.
PTE/RJM