Igreja enfrenta ofensiva difusa e disfarçada

Reitor da Universidade Católica defende que a Igreja deve estar aberta ao mundo

Passámos da hostilidade aberta contra a Igreja para uma ofensiva difusa e disfarçada que, sob a capa do respeito, vai afastando a religiosidade da vida social, afirmou o reitor da Universidade Católica Portuguesa (UCP), Manuel Braga da Cruz, durante as Jornadas Missionárias.

Segundo aquele responsável, este ataque orquestrado manifesta-se no condicionamento das actividades assistenciais da Igreja, na limitação das propostas educativas apenas a quem tem capacidade económica, assim como na cobiça dos bens culturais da Igreja e na recusa da devolução dos imóveis e peças expropriadas.

Em síntese, pretende-se confinar a religião à esfera da consciência pessoal, impondo-se o indiferentismo e o agnosticismo de poucos. Para o reitor da UCP, aqueles que defendem abertamente as suas convicções religiosas são excluídos de cargos públicos, como sucedeu com o deputado europeu Rocco Bottiglione.

Apagamento da religiosidade

Durante a sua intervenção, intitulada “Uma Igreja aberta para o mundo”, Manuel Braga da Cruz considerou que o individualismo, o consumismo e a informalização que caracterizam os países permeáveis à globalização estão a diminuir a influência da religiosidade.

Apesar de o globo estar cada vez mais interligado, as pessoas vivem isoladamente juntas.

O sublime e o intocável, que caracterizam o sagrado, são destruídos pela supressão dos interditos, ao passo que a ascese e a mística são afectadas pela dessacralização da vida social. O consumismo dirige-se não só aos bens materiais, mas também para as pessoas, que se tornam objectos de compra e venda.

Os códigos de comportamento, por seu lado, foram reduzidos ao mínimo. O improviso impôs-se ao rito e a novidade tomou o lugar da continuidade. A verdade e a moral foram postas em causa enquanto absolutos, contribuindo para a perda de diferenciação entre bem e mal.

Estas circunstâncias implicaram a perda do ascendente que a Igreja tinha na modelação dos comportamentos, em detrimento da influência dos meios de comunicação social. Exclui-se quem professa a prática religiosa.

Estratégias a seguir

O progressivo apagamento dos vestígios do religioso na esfera pública implica que a Igreja considere o mundo ocidental como “terra de missão”. O individualismo, o consumismo e a informalização exigem abordagens específicas.

Para contrariar o isolamento e o egoísmo, é necessário que a Igreja afirme a dimensão comunitária. Esta opção concretiza-se através da defesa das estruturas sociais intermédias, que preservam e promovem a proximidade das pessoas entre si. Diante da dificuldade constituída pela crescente urbanização, que implica desde logo a dispersão, o cristianismo é chamado a traduzir-se para a grande metrópole, não só no que diz respeito à transmissão de conteúdos, mas sobretudo na construção de relações.

A recuperação da ascese, base da religiosidade, deverá ser a estratégia a seguir para combater o consumismo e o hedonismo. As sociedades expressam actualmente aquele valor através do desporto, da valorização do corpo e da preservação da natureza. Mas não basta: Manuel Braga da Cruz defende que a lógica do consumo deve dar lugar à criatividade

Por fim, é necessário restaurar a ritualidade, cuja índole repetitiva contribui simultaneamente para a consolidação e para a recriação. A sociedade está a deixar de ser letrada, cedendo o predomínio à imagem e ao som. A Igreja deverá saber utilizar esses instrumentos, o que exige adaptação e capacidade de resposta. O reitor da Universidade Católica evocou as “liturgias particularmente cuidadas” das igrejas de São Filipe de Nery, em Londres, de Notre Dame, em Paris, e de São Pedro, no Vaticano, que são “verdadeiros espectáculos”. Numa “cultura esteticista”, é importante dar relevo ao que é belo e bonito, acrescentou.

Caridade inspira a acção da Igreja

A recristianização da Europa pede a restauração das condições sociais que garantam a pertença comunitária, o regresso ao sagrado e a vivência ritual da fé. Para alcançar objectivos, é essencial que os católicos encontrem formas de exigir o respeito pelas suas convicções.

Para Manuel Braga da Cruz, a estratégia da Igreja deve inspirar-se na dimensão essencial da sua identidade, que se define pelo amor ao próximo. “A caridade sempre foi o maior testemunho da presença de Deus no mundo”, e é por meio dela que se pode recuperar a ascese e assistir ao ressurgimento da fé e da esperança. A caridade é o coração da missão, pelo que “nos devemos entregar a ela dedicadamente”.

Foto: Jornadas Missionárias Nacionais, Fátima, 19.09.2009

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