Igreja desafia a compromisso com os ODM

Comunidades Católicas são desafiadas a acompanhar a próxima Cimeira da ONU de avaliação dos Objectivos do Desenvolvimento do Milénio com a celebração das Missas de 19 de Setembro

A Fundação Evangelização e Culturas (FEC) quer desafiar as comunidades paroquiais e diocesanas a acompanhar a Cimeira das Nações Unidas que junta os líderes políticos em Nova Iorque, entre 20 e 22 de Setembro, para avaliar os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) e traçar caminhos para os próximos cinco anos.

Os oito ODM foram assumidos em 2000 e têm como meta o combate à exclusão social e à pobreza no mundo, em áreas como o ensino universal, a saúde, a igualdade de género, ambiente e desenvolvimento de parcerias globais.

A cinco anos de atingir a meta, que termina em 2015, e apesar dos esforços desenvolvidos nos últimos anos, os ODM estão longe ainda de ser atingidos.

Em parceria com a CIDSE (plataforma de 16 ONG católicas para o Desenvolvimento da Europa e América do Norte, que a FEC integra), esta organização católica portuguesa quer lançar algumas recomendações aos líderes políticos e propor às comunidades que se unam numa rede de oração.

Desta forma a FEC propõe um guião como base para a celebração de uma missa, antecipando a Cimeira em Nova Iorque (a 18 ou 19 de Setembro), onde as comunidades paroquiais possam reflectir “nos princípios da igualdade e da fraternidade”, assim como “na finalidade dos bens que são confiados e que são úteis apenas na medida que favorecem a construção da fraternidade”.

O guião propõe uma reflexão das leituras do XXV Domingo do Tempo Comum, uma proposta para a oração dos fiéis e algumas acções simbólicas. De forma a garantir a “abertura, diálogo e união em torno de causas comuns”, a FEC sugere o envolvimento de entidades civis na organização de acções nas comunidades locais.

A FEC sugere ainda o empenho na sensibilização para os ODM, nomeadamente através da participação nos dias 17 a 19 de Setembro, na acção «Levanta-te e faz-te ouvir contra a pobreza!», geralmente realizada a 17 de Outubro, mas este ano antecipada devido à realização da Cimeira de revisão dos ODM.

Apesar de alguns progressos em áreas-chave do desenvolvimento, 10 anos após a sua aprovação, o impacto dos ODM sobre as causas estruturais da pobreza tem sido limitado ou inexistente. A CIDSE afirma que esta situação é “fruto de uma ambição inadequada, da falta de uma abordagem de direitos humanos e de uma ênfase dada aos resultados em detrimento dos processos”.

A plataforma das organizações católicas faz algumas recomendações num relatório lançado antes ainda da Cimeira da ONU em Nova Iorque. No documento Meta 2015 – Cinco anos para construir uma parceria efectiva para o desenvolvimento, a CIDSE afirma que o desenvolvimento só será possível se as políticas de combate à pobreza forem decididas “com transparência e em diálogo com os actores que são cruciais para as pôr em prática”.

Os governos precisam elaborar “compromissos e prazos claros” para que possam vir a  ser “responsabilizados”, uma vez que “os doadores do Norte não canalizaram o dinheiro que tinham prometido para o desenvolvimento”, factor que coloca em sério risco o progresso dos ODM.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico – OCDE alertou no seu relatório de 2010, que o valor total da ajuda ao desenvolvimento neste ano ficará aquém, em mais de 13 mil milhões de euros, dos compromissos assumidos em 2005.

As alterações climáticas e as crises alimentar e financeira inverteram tendências positivas na redução da pobreza e no combate à fome. “Os governos que vão reunir em Nova Iorque devem reconhecer que as políticas não podem ser pensadas isoladamente e que as suas acções em todas as áreas têm influência no desenvolvimento”, afirma a CIDSE.

A crise no preço dos alimentos de 2008, que fez aumentar o número de pessoas famintas no mundo para mais de 1 bilhão, teve origem nas políticas económicas, comerciais e agrícolas propagadas pelos doadores, que afectaram a agricultura de pequena escala nos países em desenvolvimento e foi agravada pela especulação irresponsável nos mercados de alimentos.

“Aumentos substanciais e sustentados do investimento na agricultura sustentável de pequena escala nos países em desenvolvimento, tanto por governos do Norte como pelos do Sul, são essenciais para defender o direito à alimentação dos famintos no mundo”, diz René Grotenhuis, presidente da CIDSE e director da organização holandesa Cordaid. “É essencial reforçar a posição dos pequenos agricultores nos mercados locais, nacionais e internacionais.”

As comunidades pobres dos países em desenvolvimento são também as primeiras a ser atingidas, e mais profundamente, por um clima cada vez mais imprevisível e por catástrofes mais frequentes e intensas, por falta de um acordo ambicioso para combater as alterações climáticas e os seus impactos.

A CIDSE recomenda que os governos do Norte e do Sul avaliem honestamente o que tem de ser feito para superar os atuais obstáculos e lidar com sucesso com os desafios que o mundo enfrenta, construindo assim uma parceria de cooperação global e solidariedade.

A FEC é uma Organização Não Governamental para o Desenvolvimento da Igreja Católica em Portugal, que promove o desenvolvimento humano integral através da mobilização de pessoas, comunidades e Igrejas, com o objectivo de erradicar todas as formas de pobreza, alcançar a justiça social e o respeito pela dignidade humana.

A FEC coordena em Portugal, com o apoio da Campanha do Milénio das Nações Unidas, a Rede Fé e Desenvolvimento, plataforma de mobilização da Igreja Católica nas questões do Desenvolvimento.

Mais informações em www.fecongd.org e www.redefedesenvolvimento.org

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top