Igreja/Deficiência: «Só estamos completos quando estiverem todos», diz coordenadora do Serviço Pastoral do Patriarcado de Lisboa

Carmo Diniz sublinha necessidade de superar barreiras e promover acessibilidades a todos os níveis

Foto: RR/Miguel Rato

Lisboa, 28 nov 2021 (Ecclesia) – A coordenadora do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência do Patriarcado de Lisboa afirmou a necessidade de superar barreiras e promover acessibilidades, para que as comunidades católicas e as sociedades incluam todos.

“Nos últimos anos tem havido uma evolução muito grande na vontade da inclusão e no reconhecimento de que nós como comunidade só estamos completos quando estiverem todos”, referiu Carmo Diniz, em declarações à Agência ECCLESIA e Renascença.

A convidada da entrevista semanal conjunta, emitida e publicada ao domingo, sustenta que todos precisam das pessoas com deficiência e do seu contributo.

“Ficamos melhor se estivermos todos juntos, e não é só cuidar das necessidades básicas, é ‘viver com’. Viver com as pessoas, todas”, precisa.

Carmo Diniz destaca a dificuldade colocada pelas barreiras arquitetónicas, observando que “se as pessoas não chegam fisicamente aos lugares, mais dificilmente chegarão aos conteúdos e ao coração da Igreja”.

O Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência lançou o projeto da ‘Vigararia Acessível’, para mapear a realidade das várias paróquias.

“Há edifícios e estruturas que já são acessíveis, há outras que não são e podem ser, e outras que não são e não podem ser”, indica a responsável.

Carmo Diniz, mãe de cinco filhos, um deles com 99% de incapacidade, refere que há “vontade de inclusão” e “já se evoluiu muito”, tanto na Igreja, como na sociedade, mas o “não saber como agir” impede muitas vezes o acolhimento.

“Percebo a dificuldade, e há casos mesmo complicados, que precisam de uma atenção especial, de um planeamento e que dão mais trabalho, mas dizer ‘não podemos receber esta pessoa na Igreja’ quase que devia ser proibido”, afirma, sublinhando as várias posições do magistério em favor do acesso das pessoas com deficiência aos sacramentos.

“É possível. O meu filho Bernardo confessa-se, não fala, e tem catequese. É possível e é recomendável”, acrescenta, sublinhando que esse acompanhamento “faz toda a diferença”.

Apontando à celebração do Dia Internacional das Pessoas com Deficiência (3 dezembro), Carmo Diniz fala das dificuldades do dia a dia e das iniciativas que se têm promovido, para que a inclusão seja cada vez mais uma realidade no Patriarcado de Lisboa, mas recorda aspetos que ainda não estão presentes na prática comum.

“A consciência de que a cadeira de rodas é pertença das pessoas, e não é um objeto disponível para ser utilizado, é uma consciência que não existe”, exemplifica.

A entrevistada considera “muito importante” que a Igreja Católica dê exemplos de inclusão, elogiando o trabalho desenvolvido no Santuário de Fátima com a interpretação das cerimónias litúrgicas em Língua Gestual Portuguesa.

Questionada sobre as principais dificuldades que identifica na sociedade portuguesa, Carmo Diniz realça que o país tem “ótimas leis de acessibilidade” que não se concretizam na vida diária.

“Temos um pensamento bastante evoluído, em relação ao tema da inclusão. Falta a prática”, observa.

Ângela Roque (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)

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