Igreja/Abusos: Bispo de Angra precisa que interrupção do magistério «não é nem uma pena nem uma condenação»

«Esperamos que chegue o tempo em que se valorize a denúncia, a vítima e a vida, que é bela mas que fica arruinada com situações de abusos» – D. Armando Esteves

Foto: Agência ECCLESIA

Angra do Heroísmo, Açores, 11 mar 2023 (Ecclesia) – O bispo de Angra afirmou que “não é nenhuma pena nem condenação” a interrupção do magistério que acordou com dois padres, na quarta-feira, na sequência da denúncia de alegado abuso de menores.

“O que fizemos não é nenhuma pena nem condenação. Se há uma denúncia devemos atendê-la com seriedade. Estamos na fase de um processo prévio, mas sério, seguindo as orientações de Roma”, disse D. Armando Esteves, esta sexta-feira, aos jornalistas, informa o portal diocesano ‘Igreja Açores’.

O bispo de Angra acrescenta que, neste processo, “o sacerdote foi convidado a interromper o seu magistério, com direito à sua defesa”.

A Diocese de Angra anunciou a abertura da uma investigação prévia aos dois sacerdotes – um de São Miguel e outro da ilha Terceira – identificados pela Comissão Independente (CI) para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, afastando-os cautelarmente do ministério, esta quarta-feira.

“O bispo diocesano já falou com ambos e, em conjunto, acordaram que os sacerdotes em causa ficarão impedidos do exercício público do ministério até ao final do processo de investigação prévia, que já foi iniciado na Diocese e de acordo com as normas canónicas. Igualmente seguirá a participação ao Ministério Público”, informava num comunicado enviado à Agência ECCLESIA, no dia 8 de março.

De acordo com o relatório da CI, entregue a 3 de março, foram recebidas denúncias relativas a oito casos de alegados abusos ocorridos em sete concelhos da Região Autónoma dos Açores, cometidos entre 1973 e 2004, por pessoas diferentes, quatro delas- três sacerdotes e um leigo – já falecidas; após a apresentação deste relatório a Comissão Diocesana para a Proteção de Menores de Angra recebeu uma denúncia, que envolve um sacerdote de São Miguel já falecido, “após três anos de atividade sem qualquer denúncia”.

Esta sexta-feira, aos jornalistas, no âmbito da assinatura de um protocolo entre a diocese e a Universidade dos Açores e a UCP, D. Armando Esteves confirmou o envio de uma “certidão negativa” para o Ministério Público, participando o início do processo mas reforçando que no arquivo diocesano não há mais informação do que a que consta na denúncia.

“É o tempo de nos direcionarmos para as vítimas e para as denúncias. Nós entendemos que o processo estava avançado de forma a podermos agir. Não se trata de fazer diferente, nem primeiro”, realçou D. Armando Esteves, assinalando que nas dioceses estão “todos sintonizados em querer que o relatório e as denúncias tenham consequências”.

Foto Agência ECCLESIA/HM

“E que se entre num tempo em que se valorize a vida. Estamos sincronizados num tempo de esperança de justiça também”, acrescentou.

O bispo de Angra disse que têm “de agir” depois da apresentação do relatório da CI mas “não” andam “numa caça às bruxas”, o “foco são as vítimas – acolher pessoas, acompanhá-las e curá-las”.

“As vítimas com quem queremos contactar, e para as quais estamos disponíveis, dirão o que precisam; não podemos ajudar quem não conhecemos e esta é a realidade”, referiu, observando ainda sobre alguma indemnização que “tem de ser vista no lugar próprio”, e “sendo esta uma questão que a sociedade está a discutir, “tem que ser feita em conjunto com a Igreja”.

O portal ‘Igreja Açores’ informa também que o Parlamento Açoriano, por iniciativa do PAN Açores, e com o apoio de todas as bancadas, saudou a decisão da Diocese de Angra em relação aos dois sacerdotes, denunciados por alegado abuso sexual de menores.

O Vaticano disponibiliza desde 2020 um “vade-mécum” para ajudar os bispos e responsáveis de institutos religiosos no tratamento de denúncias de abusos sexuais de menores.

CB

 

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