Igreja/Abusos: D. Nuno Almeida convida a assumir «erros, omissões e negligência» do passado

Coordenador da Comissão de Proteção de Menores da Arquidiocese de Braga aponta à criação de «programas de acompanhamento psiquiátrico e psicoterapêutico»

Foto: João Pedro Quesado/DM

Braga, 16 fev 2023 (Ecclesia) – O coordenador da Comissão de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis da Arquidiocese de Braga admitiu que a Igreja falhou no passado, perante casos de abusos sexuais, num comentário ao relatório da Comissão Independente (CI), divulgado na segunda-feira.

“As páginas duras do Relatório confirmam que a luta contra os abusos sexuais por parte de membros da Igreja ou no âmbito das suas atividades, no passado, não foi uma prioridade para a Igreja e houve erros, omissões e negligência”, refere D. Nuno Almeida, em texto divulgado online.

“Pedimos perdão a todas vítimas! Pedimos perdão por toda a falta de atenção ao sofrimento das vítimas de abusos sexuais e pela negligência na prevenção das suas causas”, acrescenta.

O responsável católico alerta para a ausência de “programas de acompanhamento psiquiátrico e psicoterapêutico, de acompanhamento espiritual e de reconciliação para as vítimas e abusadores”.

“Há que estudar as boas práticas de outros países e avançar também em Portugal com percursos de cura e reconciliação”, sustenta.

O bispo auxiliar de Braga reforça as suas críticas ao que chama de “conspiração do silêncio”, assinalando que foram as vítimas que “começaram a fazer ouvir a sua voz”.

  1. Nuno Almeida observa que o relatório da comissão coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht “confirma que perante indícios ou provas de abusos, no passado, houve desvalorização, encobrimentos, transferência de sacerdotes de um lugar para outro, ingénuas reparações privadas, na ilusão de compensar o dano sofrido pelas vítimas”.

“Somos convocados a empenhar-nos, decididamente, em garantir que as atividades pastorais se desenvolvam sempre em ambientes saudáveis e seguros”, aponta.

O coordenador da Comissão de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis da Arquidiocese de Braga pede ainda atenção aos agressores, com a “oferta de redenção, de perdão, reconciliação e cura”.

“Como discípulos de Cristo, acreditamos que uma pessoa se pode abrir à graça do perdão e deixar-se transformar, pois ninguém está irremediavelmente perdido. Há sempre essa possibilidade, mas tem de passar pela capacidade de admitir a culpa e pelo difícil equilíbrio entre a justiça, verdade e a misericórdia”, explica.

O responsável deixa votos de que estes momentos “duros” para a Igreja possam “marcam caminhos novos que levem a comunidades cristãs verdadeiramente sãs e seguras”.

“É preciso reforçar uma nova consciência sobre o poder de cada um para saber ouvir e ler os sinais de alerta, pois não é possível manter a impunidade nem o silêncio”, conclui.

A Conferência Episcopal Portuguesa vai reunir-se a 3 de março, em Assembleia Plenária extraordinária, para debater os dados do relatório e decidir sobre medidas concretas a tomar.

OC

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