Igreja: «A nossa filha com trissomia 21 é importante para o mundo»

A Arca, fundada por Jean Vainier, que junta em comunidades voluntários e pessoas com deficiência, quer dar os primeiros passos em Portugal

Fátima, 04 mai 2018 (Ecclesia) – Joana Morais e Castro e Miguel Martins dos Santos, pais de quatro crianças, uma delas com trissomia 21, descobriram A Arca, fundada por Jean Vanier, uma comunidade residencial que junta voluntários e pessoas com deficiência.

“Fiquei com uma necessidade de transmitir ao nosso mini-mundo que a nossa filha é importante e que o mundo precisa dela. E isto tornou-se uma missão para nós, por isso transformou-nos”, explica à Agência ECCLESIA Joana Morais e Castro.

No final de 2016 o casal participou, em França, num retiro organizado pel’A Arca e, no verão de 2017, regressaram a uma quinta terapêutica para, com os quatro filhos, experimentarem a vivência comunitária.

Esta experiência transformou a vida “de manhã à noite”, recorda Joana.

A possibilidade de os filhos “brincaram e viveram na aldeia com muita liberdade”, assim como o contato mais próximo com Jean Vanier refundou as suas vidas e deu-lhes a missão de alargar A Arca a Portugal.

“Não pode ser um projeto; a Arca é uma vocação, uma forma de vida. Não podemos, nem queremos olhar só como um projeto”, esclarece Joana.

No entanto, indica Miguel Martins dos Santos, à medida que foram “reunindo amigos nas mesmas circunstâncias” perceberam “gente comum que tem a mesma vontade”, acrescenta a esposa.

A ligação de Joana Morais e Castro e Miguel Martins dos Santos à Arca surge com o nascimento da sua filha com trissomia 21, ocasião que levou o casal a formar-se e a informar-se sobre a temática.

Realizaram um retiro e encontraram um lugar “muito especial”, e sentiram-se “completamente integrados” numa comunidade residencial onde voluntários e pessoas com deficiência partilham o mesmo espaço.

“Há uma certa magia naquele relacionamento entre todos os membros da comunidade que toca muito quando lá estamos. E sentimos uma atração especial por aquele espaço. A quinta em si, para além de ser linda, tem pessoas fabulosas. Viemos tocados”, recorda Miguel Martins dos Santos, da primeira experiência em 2016.

O casal enaltece ainda o contacto com o fundador Jean Vanier, filósofo e teólogo, que apelidam de “mestre do acolhimento”.

“Jean Vanier faz-se sentir próximo com muita facilidade. Isto é de um líder servidor que marca muito. Faz-nos lembrar Jesus. Foi isso que senti, este exemplo e privilégio de estar ao lado de um homem, de muita idade, e que em toda a sua vida foi coerente em todos os pormenores do seu dia-a-dia, e que isso nos aproxima de Jesus. É de uma humildade total”, recorda Joana Morais e Castro.

Sobre a convivência das pessoas com deficiência, o casal sublinha o quanto se aprende conhecendo.

“Não são pessoas dependentes mas que nos ajudam a descobrirmo-nos a nós próprios. Essa realidade é muito tocante”, indica Joana, que sublinha o quanto a sociedade atual tem dificuldade em lidar com os defeitos e problemas.

“Nesta sociedade olhamos para uma pessoa com dificuldades como alguém que necessita de ajuda, mas ajudam-nos a ver os nossos problemas, defeitos e dificuldades em lidar com o mundo. Ensinam-nos que é mais fácil assumir que somos frágeis e que temos também nós de pedir ajuda”.

O livro «Ouve-se um Grito – O mistério da pessoa é o encontro», da autoria de Jean Vanier, foi ontem apresentado em Fátima.

PR/LS

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