Assis, Memória e Profecia Assis é simplesmente amor. A luz que nos vem da cidade universal da paz, desde o século XIII, mantém actualmente o seu ininterrupto brilho e todo o seu esplendor. Quem já teve a felicidade de visitar esta pequena e bela cidade medieval, património da humanidade, sabe que nela continuam a ecoar os Cânticos de louvor e alegria do filho de Pedro Bernardone, louvando o Altíssimo, Omnipotente e Bom Senhor. A Pobreza mergulhou Francisco num oceano de liberdade e o seu sorriso iluminado e sincero revela uma profunda e secreta paixão: num ilimitado e ardente amor a Jesus Cristo. O respeito e ternura por todas as criaturas, imortalizados no Cântico do Irmão Sol, nasceram junto desta nascente de Água Viva e fez de Francisco o Irmão Universal. A Irmã Clara No conventinho de S. Damião, Clara e as suas Irmãs trazem no coração a ressonância deste admirável e silencioso Cântico de Amor. Não é possível fazer memória de Francisco sem recordar Clara, a mais fiel discípula do Pobrezinho, aquela que guardou no seu coração, qual vaso puríssimo e transparente, o carisma: Viver o santo evangelho, na pobreza, na simplicidade e em santa unidade. Subordinado ao tema “Memória e Profecia”, e integrado na celebração da Graça das Origens, os 800 anos da vocação de S. Francisco, o Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores, Frei José Carballo,ofm, reuniu-se em Assis com as Presidentes das Federações de Clarissas de todo o mundo, de 26 de Janeiro a 06 de Fevereiro de 2008. Pela primeira vez na história, o Rosto da nossa Fundadora foi visível em Assis, nas várias cores e línguas, expressando harmoniosamente o mesmo sentir e viver evangélico. Os objectivos principais deste encontro foram: oferecer às Irmãs o conhecimento mútuo e, juntas, peregrinar aos lugares franciscanos-clarianos mais significativos; programar o caminho futuro, para celebrar o VIII Centenário da fundação da Ordem das Pobres Damas de São Damião; refletir sobre alguns temas mais importantes. Tendo o sucessor de Francisco eminente autoridade espiritual sobre todas as Irmãs Clarissas, o seu gesto foi acolhido com alegria e entusiasmo. O Ministro Geral manifestou grande júbilo e esperança neste primeiro encontro histórico multicultural. Evidenciou a urgência de comunhão fraterna, para crescermos juntos no amor ao carisma dos Fundadores. Toda a família franciscana, a Primeira Ordem, a Segunda e a Terceira é convidada a ajudar-se reciprocamente e a viver o santo evangelho, “em santa unidade”. A Graça da vocação O dom da vocação foi para Clara VIDA, assumido com paixão e entusiasmo até à hora da morte. Ninguém conseguiu dissuadi-la de seguir de perto a Nosso Senhor Jesus Cristo – o pobre Crucificado. Todas as Clarissas reunidas em Assis se aperceberam e foram convidadas a regressar ao Essencial, à Graça das Origens. Neste congresso recordaram-se os desafios e oportunidades, em ordem ao futuro. Surgiram propostas concretas: deixar-se tocar pelo Fogo do Espírito, abertas ao futuro com esperança e coragem. Crescer na consciência de pertencer a uma Ordem; abrir-se à realidade dos outros países e a uma maior responsabilidade recíproca, partilhando experiências e iniciativas. Deu-se particular importância à pastoral juvenil e formação permanente. Opção pela radicalidade da vida contemplativa, em “altíssima pobreza”, “santa unidade”, que “livremente prometemos ao Senhor”. Preparar a celebração do 8º centenário da Vocação e início da Ordem de Santa Clara em 2012. As participantes, depois de várias propostas amadurecidas em diálogo, acordaram nesta orientação celebrativa, a nível mundial: Vocação (2009). Contemplação (2010). Altíssima pobreza (2011). Ano da Celebração. A Santa unidade (2012). Com o apoio dos nossos Irmãos franciscanos e de permeio às conferências, trabalhos de grupo linguístico e partilhas gerais, as participantes visitaram o Protomosteiro, o Sacro Convento, S. Damião, o Monte Alverne e Santa Maria dos Anjos. Em Assis encontramos “ao vivo” a espiritualidade franciscana, irradiando humildemente luminosa por todos os lados. É com a mais profunda gratidão que recordamos, os Irmãos, de Francisco, o Definitório, a comissão ad hoc, os tradutores e outros colaboradores deste congresso, que foram inexcedíveis na delicadeza e acolhimento fraterno às Irmãs Clarissas. O encontro terminou com a solene celebração eucarística na Porciúncula, presidida pelo Ministro Geral, e a cerimónia do envio. O sucessor de S. Francisco, emocionado pelo profundo júbilo e amizade fraterna, despediu-se dizendo a todas as Irmãs Clarissas do mundo: Ide e, em todo o momento e lugar, abraçai a todos homens e mulheres da terra, principalmente os mais pobres e necessitados; abri as portas do vosso coração ao divino Mendicante do vosso amor e que nada nem ninguém vos aparte do seu Amor. Ide alegres e felizes. Não tenhais medo, pois não estais sós, o Senhor será sempre o vosso defensor. Ide com a bênção de Deus e a minha, vosso ministro e servo. Era Francisco a pedir-nos outra vez, que traduzíssemos em gestos concretos o anseio do seu coração generoso, aberto ao Infinito de Deus. Assis é memorial da bondade do Senhor escrito pelo dedo do Deus vivo nos corações e na vida de Francisco e Clara. Não é por acaso, que pessoas de todo o mundo, mesmo ligadas a outros credos religiosos, procuram Assis para reflectir e rezar a Francisco. Nele encontram o homem da Paz, da ecologia, do diálogo inter-religioso e da Fraternidade universal. O Pobrezinho, marcado pelas Chagas de Cristo e plenamente configurado e transfigurado pelo Fogo do Espírito, pertence à humanidade. E Clara, silenciosa, humilde e alegre, continua ao lado de Francisco como a mais bela estrela do firmamento franciscano. Neste mundo globalizado, marcado por tantos sofrimentos, o Espírito de Assis continua bem actual, a anunciar Jesus Cristo – esperança viva para todos os povos. É convite urgente a viver a espiritualidade da ternura, da pequenez e da Pobreza, a Paz e o Bem, como fonte de autêntica sabedoria e liberdade criativa. Ir. Maria da Cruz, osc