Homilia do Bispo do Funchal na missa Te Deum

É a passagem de 2007 para 2008, celebrada em louvor e acção de graças a Deus pelos dons recebidos e em suplica confiante das bênçãos desejadas Funchal, 31 de Dezembro de 2007 “Deus se compadeça de nós e nos dê a sua bênção. Resplandeça sobre nós a luz do seu Rosto” (Num 6, 24). Dando cumprimento a uma já longa tradição, aqui nos encontramos na bela e vetusta Catedral da nossa diocese a celebrar a eucaristia e a cantar solene Te-Deum ao cair da tarde do dia em que um ano termina e tudo se prepara para a entrada no novo ano. É a passagem de 2007 para 2008, celebrada em louvor e acção de graças a Deus pelos dons recebidos e em suplica confiante das bênçãos desejadas. É tempo de balanço, é tempo de projecto. Na verdade, consciencializar aquilo que de bom aconteceu e realizamos na nossa vida pessoal e na vida das instituições a que estamos ligados faz aflorar também os sonhos e projectos não concretizados e as nossas próprias responsabilidades assumidas ou negligenciadas. Fazer balanço ao ano 2007 conduz-nos certamente a um compromisso ainda maior na construção de um projecto de vida pessoal e de serviço à comunidade de maior qualidade para que a todos vá chegando resposta às suas carências e problemas, no respeito dos direitos humanos universalmente reconhecidos e nos sentido da fraternidade humana que ressalta da mensagem do espírito do Natal tão festivamente celebrado. Tempo de balanço, é tempo de projecto. Cabe a cada pessoa e instituição fazer a sua própria avaliação. O bem que reconhece e deseja agradecer, as necessidades e projectos que reclamam novos ou maiores compromissos. Apenas gostaria de sublinhar no âmbito da vida da nossa Igreja diocesana e em simples referência alguns pontos profundamente marcantes neste ano e com sentido de futuro, designadamente as bodas de prata episcopais do meu antecessor, a minha entrada como novo Bispo do Funchal, os múltiplos contactos realizados e a definição das prioridades pastorais, as mensagens tornadas pública e a reestruturação dos serviços diocesanos, as visitas pastorais ao Porto Santo e à paróquia do Monte, o encontro com o Papa Bento XVI na visita ad limina e, por fim, a melhor prenda deste Natal, como dizia ontem, foi a ordenação de três novos diáconos e a esperança de três novos sacerdotes a ordenar-se se Deus quiser no último sábado de Julho de 2008. Celebramos nesta tarde a Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus, na oitava do Natal do Senhor, dia 1 de Janeiro, primeiro dia do ano novo. Na Carta aos Gálatas, proclamada na segunda leitura, São Paulo dá-nos o sentido desta Solenidade: “Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o Seu Filho nascido de uma mulher para nos tornar seus filhos adoptivos.” A Mãe do Filho de Deus é Mãe de Deus, proclama a fé da Igreja. A Mãe de Cristo é Mãe da Igreja, é nossa Mãe. Daí a grande devoção e carinho do povo cristão, nomeadamente do povo madeirense e porto-santense para com a Virgem Nossa Senhora de tantos modos nomeada e invocada. Que por sua intercessão suba até Deus o nosso louvor e acção de graças deste dia. Que o seu exemplo constitua um forte estímulo a vivermos na fé e confiança, como Ela conservava e meditava no seu coração tudo aquilo que ia vivendo, sobretudo os acontecimentos cujo alcance não vislumbrava de imediato. Por isso a invocamos com o Papa Bento XVI: “Maria, estrela da esperança”. Dia 1 de Janeiro é também o Dia Mundial da Paz. Por iniciativa do Papa Paulo VI lançada em 1968 e continuada pelos Papas seguintes que sempre a valorizaram propondo um tema de reflexão para cada ano. Formulados com diversos slogans interpelativos, os temas dos 39 anos já decorridos constituem uma importante mensagem da Doutrina Social da Igreja em ordem à construção da Paz. Apontam princípios e valores fundamentais que têm de ser promovidos e respeitados pelas pessoas e instituições que desejam sinceramente construir caminhos de paz entre os homens, caminhos de paz entre os povos. “Família humana, comunidade de paz” é o tema que o Papa Bento XVI propõe na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz 2008. Olhando para o conjunto dos povos da terra como uma única família humana, o Papa parte da instituição familiar fundamental, fundada a partir do matrimónio entre um homem e uma mulher para estabelecer alguns princípios gerais a ter em conta na construção da paz universal. A vida de família apresenta-se, assim, como referência para os esforços de paz ainda tão necessários no nosso tempo. Sem pretender substituir uma leitura atenta de toda a mensagem, especialmente por quantos têm maiores responsabilidades sociais, há breves princípios que desejo sublinhar aqui. Escreve o Papa: “ A família é a primeira e insubstituível educadora para a paz”; é que “na família se experimentam algumas componentes fundamentais da paz, a justiça entre irmãos e irmãs, a função da autoridade manifestada pelos pais, o serviço carinhoso aos membros mais débeis, porque pequenos, doentes ou idosos, a mútua ajuda nas necessidades da vida, a disponibilidade para acolher o outro e, se necessário, para lhe perdoar”. “Não admira”, pois, descreve o Papa que a violência, quando perpetrada em família, seja sentida como particularmente intolerável”. E depois de lembrar a Carta dos Direitos da Família, publicada pela Sé Apostólica em 1983, com proposta de protecção jurídica à família, o Papa conclui: “A negação ou mesmo a restrição dos direitos da família, obscurecendo a verdade sobre o homem, ameaça os próprios alicerces da paz”. Um segundo princípio, a família é “a principal agência de paz.” De tal modo que escreve o Papa: “tudo o que contribui para debilitar a família fundada sobre o matrimónio, aquilo que directa ou indirectamente refreia a sua abertura ao acolhimento responsável de uma nova vida, o que dificulta o seu direito de ser a primeira responsável pela educação dos filhos, constitui um impedimento objectivo no caminho da paz. A família tem necessidade da casa, do emprego ou do justo reconhecimento da actividade doméstica dos pais, da escola para os filhos, de assistência sanitária básica para todos. Quando a sociedade e a política não se empenham a ajudar a família nestes campos, privam-se de um recurso essencial ao serviço da paz”. E um terceiro ponto a sublinhar: “A família precisa duma casa, dum ambiente à sua medida onde tecer as próprias relações. No caso da família humana”, escreve Bento XVI, “esta casa é a terra, o ambiente que Deus criador nos deu para que o habitássemos com criatividade e responsabilidade. Devemos cuidar do ambiente: este foi confiado ao homem, para que o guarde e cultive com liberdade responsável, tendo sempre como critério orientador o bem de todos”. Neste âmbito do ambiente como casa comum, “merece urgente e especial atenção o equilíbrio ecológico e a gestão dos recursos energéticos do planeta”, a processar-se no diálogo entre os poderes instituídos e num quadro transcendente de valores que possam incrementar uma sábia utilização dos recursos e uma “equitativa distribuição da riqueza”, sem esquecer os pobres, em muitos casos excluídos do destino universal dos bens da criação. Estão assim afirmados alguns princípios fundamentais que assentam numa concepção de desenvolvimento centrada na pessoa humana e ao serviço dela, de tal modo que podemos dizer com o Papa Paulo VI: “O desenvolvimento dos povos é o novo nome da paz”. A aplicação dos princípios terá de fazer nos diversos âmbitos e níveis de acção social e económica, no maior respeito pelos humanos fundamentais. A terminar, irmãos e amigos, ficam os meus votos de um feliz e próspero ano novo de 2008 para todos os madeirenses e porto-santenses, onde quer que se encontrem. Oxalá que consigam concretizar os seus melhores desejos e aspirações, animados pela fé e esperança, com um ideal e sentido de vida que está para além dos simples bens materiais e nos projecta em Deus. “É Ele a nossa grande esperança”, escreve Bento XVI. E o Seu rosto, a Sua presença mais perto de nós, é Jesus Cristo, Seu Filho. Que a ninguém falte a luz, a força interior e a coragem para assumir a vida com as suas dificuldades e problemas, e para saborear também as suas alegrias. Servindo-me do texto da primeira leitura, também suplico as maiores bênçãos de Deus para todos. O Senhor vos abençoe e vos proteja, o Senhor faça brilhar sobre nós a Sua face e vos seja favorável, o Senhor volte para vós os Seus olhos e vos conceda a paz. Feliz ano novo para todos. † António Carrilho, Bispo do Funchal

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