Homilia do Bispo de Viseu na Sexta-feira Santa

A Cruz: a “Hora de Jesus” é Hora de Salvação A escolha de Deus, tornando-Se Homem em Jesus Cristo, levou-O a assumir a nossa humanidade, para Se pôr no nosso lugar e tomar sobre Si as consequências dos nossos pecados. A consumação deste Projecto de Deus é a “Hora de Jesus” – a “Hora” para que veio, a “Hora” que Jesus aceitou na Sua obediência ao Pai e que viveu na totalidade da entrega, do sofrimento, da morte. É a “Hora das trevas” e do abandono na face terrível da Cruz. É a Morte de Cruz que se transforma na “Hora da Salvação”, a face vitoriosa do amor e da vida nova do Ressuscitado. Esta “Hora” faz nascer o Homem Novo, agente de renovação do mundo e da história. A “Hora de Jesus” – a hora a que Ele referia os momentos fundamentais da Sua vida – era o encontro pleno com o Pai, entregando-Lhe o Seu espírito, depois de cumprida a Sua missão – dando a Sua vida para que todos nós tenhamos a Vida divina. A “Hora de Jesus” era o sacrifício que conquistava a liberdade e que divinizava e eternizava o amor. Por isso, na “Hora das trevas”, quando Judas e outros chegam junto d’Ele, Jesus avança para perguntar: “a quem buscais?” e responde de seguida: “Sou eu”. Não havia tempo a perder!… Esta era a “Hora da salvação”. Chegara a “Hora de Jesus”, a “Sua Hora”. E por vontade do Pai que Jesus cumpre até ao fim, esta é, também, a “nossa Hora”. Desde a declaração profética de Caifás que decidiu que morresse um homem por todo o povo, Jesus assumiu a condenação, tomou o cálice – preço do pecado – e foi até ao fim no SIM à vontade do Pai – destruindo o mesmo pecado. No SIM ao cálice que Lhe deram, Jesus abdicou de estar com Deus, unindo-Se a nós pecadores, aniquilando-Se e fazendo-Se homem, em tudo igual a nós, exceptuando no ser pecador. Assumindo o pecado dos homens, foi desfigurado e desprezado, foi trespassado e esmagado, foi levado ao matadouro como um criminoso, foi elevado da terra no meio de malfeitores. Feito pecado, foi abandonado por Deus e, porque pecado, foi morto para nossa salvação. Mas… porque era inocente e confiou no Senhor; porque obedeceu até à morte e morreu por amor, Deus exaltou-O e deu-Lhe um nome que está acima de todo o nome. A Cruz e o Calvário são o Seu trono do Conquistador da liberdade, são as mediações do amor divino e infinito, são o espaço de deserto que permite a Jesus passar da forma de homem, para a qual tinha baixado, à forma de Deus, para a qual Deus O elevou. Está, também aqui, o caminho certo para podermos fazer e viver a nossa Páscoa: morrer para tudo o que é a nossa forma de pecadores para passarmos à nossa forma de filhos de Deus. Sem cruz, não há vitória sobre o pecado, não há conquista da liberdade, não há visibilidade da verdade do amor. Sem morte, não há vitória sobre os limites, não há Páscoa definitiva, não há acesso à ressurreição. Este dia de Sexta-feira Santa é um grande desafio para todos nós e oferece-nos as soluções para todos os nossos problemas. De facto, a Cruz e a morte de Jesus são o caminho para conquistar a verdadeira liberdade sobre o pecado, sobre os limites, sobre a morte. A Cruz e a morte de Jesus, que hoje evocamos, são a Festa para celebrar o amor e para viver a Páscoa, destruindo todos os males da humanidade. A Cruz e a morte de Jesus são um grito que condena e reprova todas as injustiças que continuam a teimar ter lugar no mundo dos homens. Porém, Sexta-feira Santa continua a acontecer e a Cruz e a morte de Jesus continuam nas pessoas que morrem de fome; nos inocentes que sofrem a guerra e as suas consequências; nos desempregados que não conseguem trabalho; nos jovens que não têm esperança nem sentido para viver; nas crianças que não chegam a nascer; nos casais que destroem o amor; nos idosos que sofrem o abandono e a solidão… E os escândalos que deram origem à Sexta-feira Santa e à Cruz e morte de Jesus continuam a repetir-se nos corruptos que dão origem a todas as crises; nos políticos que fazem e aprovam leis iníquas contra a vida, contra a família, contra o amor; nos corações insensíveis à dor e à injustiça da humanidade… E o maior dos escândalos é que Jesus morre também por estes; também os quer salvar; também pede por eles ao Pai… A Cruz e a morte de Jesus continuam a unir todos os sofrimentos do mundo, no grande Calvário que os homens continuam a erguer. A Cruz e a morte de Jesus continuam a desafiar todos os homens, pedindo solidariedade, justiça, liberdade e amor… É “Hora de Salvação” que Jesus vive na Cruz e na morte. Aceitemo-la, construindo e distribuindo salvação. Um sentimentalismo de lamento e de compaixão estéril seria ofensivo, porque inútil e agressivo. Jesus continua a pedir-nos que não choremos por Ele mas a que vamos consolar, libertar e amar os Seus irmãos… Nós Vos adoramos e bendizemos, Senhor Jesus Cristo! Pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo! Obrigado, Senhor! Ilídio Leandro, bispo de Viseu

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