Homilia do Bispo de Viseu na Festa da Sagrada Família. Ordenação de quatro Diáconos

Neste último Domingo de 2009, Festa da Sagrada Família, celebramos um dia de grande júbilo para a nossa Diocese e para o nosso Presbitério, um grande dom de Deus neste Ano Sacerdotal – a Ordenação de 4 novos Diáconos: Carlos Miguel Monge, Jorge Miguel Gomes, Luís Carlos Almeida e Marco José Cabral.

Porque é o último Domingo deste ano, é ocasião propícia para reflectirmos sobre o ano que termina e que temas e sugestões nos aparecem – motivadores, estimulantes e significativos – para a acção dos Diáconos, para a Igreja e para a missão do Presbitério e de cada Presbítero. Para o ano a iniciar dentro de 4 dias e nas contingências eclesiais e sociais presentes e previstas, perguntemo-nos: que desafios nos surgem a pedir acção profética e entrega, feliz e empenhada, pelos quais valha a pena estes 4 jovens, com todos os outros que já fizemos essa escolha, consagrarem-se totalmente, no anúncio de Jesus Cristo e da Sua Palavra de Salvação?

As leituras deste dia são iluminadoras e mostram-nos um programa muito actual, a empenhar-nos a todos, em missão diaconal e sacerdotal. Enumero 3 pontos, que desenvolvo como homenagem e louvor à Família, na sua natureza e missão e como proposta pastoral a aprofundar por estes 4 jovens, brevemente Diáconos na nossa Diocese:

1º Ponto – Família: natureza, essência e fins. Apesar da crise por que passa e apesar de todas as mudanças e alterações de modelos, a autêntica Família não pode deixar de requerer 3 características fundamentais: unidade de um homem e de uma mulher; fidelidade a um projecto de vida e amor, para vivência das relações mútuas e estáveis de afecto e de confiança; fecundidade na vivência, transmissão e educação da vida e dos valores, originando a construção de um lar que faça projectar e crescer um futuro feliz. Fora destas concepções fundamentais, a configurar a natureza, a vocação e a missão, a família não poderá ser a célula fundamental, nem poderá cumprir o seu plano de instituição estruturante, na concepção da Pessoa humana, da Sociedade e da Igreja.

 

2º Ponto – Família: formação para os valores. A 2ª leitura é riquíssima no apontar valores que procedem da educação e da formação familiar e que nenhuma outra instituição tem capacidade ou vocação para assumir. Nenhuma outra instituição consegue a serenidade necessária para o diálogo e a aceitação total do outro, sobretudo numa época de rápidas mudanças, como a actual; nenhuma outra instituição atinge a profundidade da confiança e da relação pessoal para a transmissão e desenvolvimento dos valores espirituais, morais, sociais e afectivos; nenhuma outra instituição vive a proximidade e a intimidade nas relações, para a aprendizagem, o treino e a experiência nos sentimentos mais nobres e mais pessoais que favoreçam e desenvolvam atitudes novas. A Família é a única instituição que oferece o lugar natural e o espaço vital para a diversidade e riqueza da aprendizagem dos valores humanos, espirituais, éticos, cívicos e sociais. À pessoa que não teve oportunidade de nascer, crescer e viver numa família normal, faltarão sempre essenciais elementos de equilíbrio psicológico e humano, dificultando uma integração social plena.

 

3º Ponto – Família: educação para opções livres e responsáveis. Disse o Papa João Paulo II, como conclusão da Familiaris Consortio, que “o futuro da humanidade passa pela Família”. O futuro da humanidade e o futuro da Igreja passam muito pela Família. A sociedade e os poderes constituídos em autoridade, nomeadamente os governos dos povos, mas também a Igreja, na actualização e aprofundamento da sua reflexão pedagógica e da sua acção pastoral, deverão empenhar-se mais e mais pela valorização e apoio à família, ajudando-a no cumprimento das suas nobres e decisivas tarefas. À família cabem tarefas essenciais e inadiáveis, para termos uma Sociedade adulta, equilibrada e responsável. A comunhão na vida e no amor como programa e projecto de vida; a riqueza pessoal e afectiva do amor conjugal e familiar; a transmissão responsável da vida e dos valores; a obra nobre da educação e da formação do carácter e da personalidade para uma realização pessoal feliz e uma integração social sadia; a criação de um ambiente social, cultural e humano que permita apoio solidário entre casais e famílias, de modo a haver inter-ajuda na prossecução de fins comuns… Tudo isto exige que as Famílias sejam verdadeiras células, criadoras e multiplicadoras de vida e de amor.

Para todas estas tarefas, a família precisa de apoio que todas as outras instituições não podem nem devem rejeitar. O Estado, a Escola, a Igreja e outras instituições intermédias, todas devem compreender e viver uma acção subsidiária para com a Família, não a privando de condições essenciais e de investimentos possíveis para que ela possa realizar-se na sua identidade, na sua missão e nos seus fins. E não tenhamos medo de apelar aos Casais e às Famílias com a fidelidade, a indissolubilidade, a procriação e a educação assentes no Amor. Depende delas a felicidade de todos.

 

Caríssimos Jovens, caríssimos Sacerdotes e caríssimos Irmãs e Irmãos, a missão do Diácono, a missão do Pastor e, na realidade, a missão do Cristão deve ser a de Jesus e que Ele refere a José e a Maria no Evangelho de hoje: “devo ocupar-me nas coisas de Meu Pai”. O bem das Famílias pertence às “coisas do Pai”. Devem merecer a atenção do Diácono e de cada Pastor. Ao cuidar das crianças, dos jovens, dos idosos, dos doentes – é na família que cada um tem a sua referência. Quando há anomalias, sejam de tipo pessoal, social, afectivo, psicológico ou comportamental, é na família que está a génese dos problemas e a sua mais fácil, rápida e inteira solução.

São muitas as tarefas que nos devem ocupar, pastoralmente, a partir da Família e são muitos os meios e propostas que a Igreja nos oferece. Eis algumas que eu gostaria que vós, Diáconos dentro de momentos e todos os Sacerdotes reflectísseis: celebrar bem o Domingo como o Dia da Família; acolher bem cada pessoa para que se sinta em Família; visitar a pessoa doente ou os casais em situações difíceis, estimulando ao ambiente de Família; estar presente nos momentos de sofrimento – por doença ou por morte – e nos momentos de alegria, partilhando e acompanhando a vida de cada Família; organizar encontros, actividades ou reflexões onde seja privilegiado o tema Família; aproveitar propostas e experiências de Movimentos especializados na área da Família; preparar bem, com alegria e proximidade, a constituição e a celebração de uma nova Família… Tudo isto, por um lado promove a Família e, por outro, cria relações familiares que tornam a Igreja – e as pessoas que a representam – muito presente e acessível, para um acompanhamento e apoio à vida da Família.

Que a Sagrada Família de Nazaré seja modelo de todas as famílias e seja estímulo para a acção dos novos Diáconos!… Que, como Maria, estejam atentos a Jesus e ouçam a Sua Palavra e A guardem no coração!… Que no serviço generoso e alegre a cada pessoa e a cada família, ajudem a crescer a caridade, a unidade, a fidelidade e a paz, na escuta de Deus e da Sua Palavra. AMEN!

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