Guimarães deve reavivar a sua alma franciscana

O Prefeito da Congregação vaticana para as Causas dos Santos exortou ontem todos os vimaranenses a «alma franciscana de Guimarães ». O Cardeal Saraiva Martins, que presidiu às comemorações centenárias da Irmandade de São Gualter, referiu que a cidade berço deveria «fazer brilhar as grandes virtudes da alma do seu padroeiro numa sociedade cada vez mais secularizada e tentada pelos reducionismos do material e temporal». Na homilia que proferiu na igreja dos Santos Passos, o purpurado começou por explicar que «uma recorrência jubilar constitui sempre uma ocasião privilegiada para um encontro com as origens, neste caso com a graça da fundação». Dirigindo-se aos membros da Irmandade de São Gualter, referiu que as comemorações não se deveriam «limitar a uma evocação ou ocasião de festejos», mas deveria ser «um reencontro espiritual com a motivação que levou os fundadores a congregarem fiéis para a execução dos objectivos que presidiram ao nascimento da Irmandade». «Seja este centenário uma ocasião privilegiada para reler as origens, purificar o presente e dar nova motivação que levou os fundadores a congregarem fiéis para a execução dos objectivos que presidiram ao nascimento da Irmandade », disse o purpurado na sua intervenção. Reportando-se aos objectivos de uma Irmandade – «conjugação de forças, uma solidariedade para a solidariedade», recordou que «a religião cristã não pactua com isolamentos, personalismos ou individualimos; é essencialmente comunitária e sacramental». «As mais genuínas imagens de Igreja são de associação», «onde os fiéis irmãos se tratam por irmãos. Associações, corporações, congregações, irmandades…. fazem parte do seu DNA», disse aos presentes o Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos. «São Gualter é um Santo que foi tal por ter um carisma e por ter feito dele [do carisma] uma graça para o povo de Deus, este povo de Guimarães, numa determinada época histórica, coincidente com os alvores da nacionalidade e com a reevangelização destas terras, pouco a pouco reconquistadas para a cristandade », referiu o purpurado aos presentes, que lotavam a igreja dos Santos Passos. «São Gualter tem a sua identidade» e «celebrar a sua festa é reencontar-se também com essa identidade e com a mensagem que dela deriva». «Foi um exímio filho de São Francisco, que se deu de alma e coração à evangelização destas terras, fazendo-o como Fanciscano », ou seja, «podemos dizer que Guimarães, que foi palco da acção de São Gualter, tem uma alma franciscana», garantiu. «Os “filhos” [de São Francisco] pregam-nos com a palavra e sobretudo com o testemunho de vida. A pobreza é um valor, porque coloca as coisas deste mundo no seu verdadeiro lugar e função: são criaturas ao serviço de Deus e da pessoa humana. A verdadeira pobreza leva à harmonia do criado. Daí que São Francisco seja talvez o Santo mais apreciado e amado, mesmo pelos que não têm fé, mas acreditam nos valores da paz e da ecologia. [Trata-se de] um Santo eminentemente ecuménico, que consegue harmonizar religiões e causas nobres. Assis é um património mundial. Basta lembar as iniciativas ecuménicas e interreligiosas de que é cenário», disse o Cardeal Saraiva Martins, antes de sustentar que «Guimarães se honra de ter um franciscano – São Gualter – por evangelizador e padroeiro; pois que se empenhe em fazer brilhar essas grandes virtudes da sua alma, sobretudo numa sociedade como a nossa, cada vez mais secularizada e tentada pelos reducionismos do material e temporal», concluiu.

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