G7: Papa desafia líderes mundiais a travar uso autónomo da inteligência artificial em cenários de guerra

«Nenhuma máquina, em caso algum, deveria ter a possibilidade de optar por tirar a vida a um ser humano» – Francisco

Borgo Egnazia, Itália, 14 jun 2024 (Ecclesia) – O Papa desafiou hoje os líderes mundiais a travar o uso autónomo da inteligência artificial, em cenários de guerra, falando perante os líderes do G7, reunidos na localidade italiana de Borgo Egnazia, região da Apúlia.

“Nenhuma máquina, em caso algum, deveria ter a possibilidade de optar por tirar a vida a um ser humano”, declarou, no seu discurso, durante a parte da cimeira aberta a países convidados, onde falou dos temas da paz e da inteligência artificial.

“Num drama como o dos conflitos armados, é urgente repensar o desenvolvimento e o uso de dispositivos como as chamadas ‘armas autónomas letais’, a fim de banir a sua utilização, começando desde já pelo compromisso efetivo e concreto de introduzir um controlo humano cada vez mais significativo”, insistiu.

Francisco deslocou-se à Apúlia, a convite do Governo italiano, tornando-se o primeiro Papa a participar cimeira do G7, num programa que inclui audiências privadas com dez responsáveis internacionais, incluindo os presidentes Zelenskyy, Macron, Biden e Lula da Silva.

O grupo dos sete países mais industrializados do mundo (G7) é constituído pelos Estados Unidos da América, a Alemanha, a França, o Canadá, a Itália, que, atualmente, preside ao grupo, o Japão e o Reino Unido.

Segundo o Papa, o uso de formas avançadas de inteligência artificial “não estará totalmente sob o controlo nem dos utilizadores nem dos programadores que, no momento da conceção, definiram os seus objetivos originais”.

A intervenção destacou a complexidade da inteligência artificial, “um instrumento sui generis” que pode “adaptar-se autonomamente à tarefa que lhe é atribuída e, se for projetada dessa forma, fazer escolhas independentes do ser humano para alcançar o objetivo estabelecido”.

Foto: Lusa/EPA

Francisco abordou o uso de programas projetados para ajudar os magistrados nas decisões sobre penas judiciais, advertindo que pode estar em causa “a referência aos preconceitos inerentes às categorias de dados utilizados pela inteligência artificial”.

“O ser humano está sempre em evolução e é capaz de surpreender com as suas ações, algo que uma máquina não pode ter em consideração”, sustentou.

O Papa destacou que “a inteligência artificial não é outro ser humano”, lembrando que “a qualidade das respostas que os programas de inteligência artificial fornecem depende, em última análise, dos dados que usam e da forma como são estruturados”.

O encontro decorre no resort de Borgo Egnazia, no município de Savelletri di Fasano, a cerca de 60 quilómetros da cidade italiana de Bari.

Foto: Vatican Media

Francisco deixou o Vaticano pelas 10h30 (menos um em Lisboa), chegando a Borgo Egnazia pelas 11h50, onde foi recebido pela primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni.

Os primeiros encontros privados foram com Kristalina Georgieva, diretora-geral do FMI; Volodymyr Zelenskyy, presidente da Ucrânia; Emmanuel Macron, presidente da França; e Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá.

Após todas as intervenções da sessão comum tem lugar a foto oficial com os participantes, pelas 17h30.

Francisco vai ainda encontrar-se com William Samoei Ruto, presidente do Quénia; Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia; Joe Biden, presidente dos EUA; Lula da Silva, presidente do Brasil; Recep Tayyip Erdogan, presidente de Turquia; e  Abdelmadjid Tebboune, presidente da Argélia.

OC

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