Funchal: Homilia de D. Nuno Brás na Vigília Pascal

Foto: Agência ECCLESIA/PR

Porque hesitamos em acreditar?

É verdadeiramente grande a realidade futura que o Senhor nos promete; mas é muito maior o que Ele já fez por nós e que hoje celebramos” (Santo Agostinho, Sermo Guelferbytanus 3).

Estas palavras de Santo Agostinho, pronunciadas numa das Páscoas presididas pelo Bispo de Hipona, ajudam-nos a tomar consciência da nossa celebração pascal.

Que nos é dado hoje celebrar? Porque celebramos de noite, de velas acesas, e cantamos Aleluia?

Como discípulos de Jesus, também nós nos reunimos em comunidade, à espera daquela noite gloriosa em que terminará para todos este exílio terrestre, e nos será dado contemplar o rosto do Pai, juntamente com a gloriosa multidão dos santos e, sobretudo, com Jesus ressuscitado que nos ilumina e conduz à presença do Pai. Essa é a nossa esperança: a esperança na ressurreição e na felicidade eterna que é partilhar a vida de Deus.

Vigiamos, porque essa é a atitude do cristão: de olhos abertos, fixados no horizonte, aguardando a chegada definitiva do Senhor, procurando a madrugada — não já aquela da ressurreição de Jesus, mas a da ressurreição de todo o universo.

Vigiamos de velas acesas, porque a escuridão deste mundo foi já rasgada pela luz gloriosa de Jesus que venceu a morte e, com o Seu Espírito, nos ilumina no nosso peregrinar. Sim: as velas acesas que segurávamos nas mãos no início desta Vigília receberam a sua luz do Círio Pascal, sinal da presença de Cristo ressuscitado no meio de nós. Foi dele que recebemos este novo olhar que permite o caminho por entre as trevas do mundo — por entre as suas dúvidas, por entre as suas hesitações e pecados, por entre as suas negações e orgulhos.

Vigiamos de velas acesas porque esse é o estado do nosso coração, da nossa vida, da nossa fé. Uma luz rasgou as trevas da noite, e iluminou a nossa vida: a luz de Cristo vitorioso que, ressurgido das cadeias da morte, vem à nossa procura, para nos tomar consigo e nos conduzir à glória.

Final demasiado grandioso para tão pobre vida, como é a de cada um de nós. E facilmente duvidamos. É demasiado bom para ser verdade para nós. Porventura, poderá ser verdade para os santos, mas jamais para um pecador inveterado e hesitante.

Mas eis que, diante do nosso coração e dos nossos ouvidos, foram passando as narrativas das maravilhas que o Senhor realizou na história em favor do seu povo. Escutámos como no início Ele criou os céus e a terra — e escutámos também que a ressurreição de Jesus e a graça da redenção que ela nos oferece são ainda mais excelentes. Escutámos como o Senhor derrotou o Egito, símbolo do mal e dos obstáculos colocados a Deus, e como na água do Batismo, Ele assegura hoje a todos os povos o renascimento espiritual. Escutámos as palavras dos Profetas da Antiga Aliança e pedíamos que o Senhor fizesse aumentar em nós o desejo dos bens celestes e a esperança de os alcançarmos.

Sobretudo, ressoaram aos nossos ouvidos e penetraram no nosso coração as palavras sempre novas que proclamavam a ressurreição do Senhor: “Se morremos com Cristo, acreditamos que também com Ele viveremos, sabendo que, uma vez ressuscitado dos mortos, Cristo já não pode morrer; a morte já não tem domínio sobre Ele” (Rom 6,9).

Como hesita ainda a tua fé, se por ti, por tua causa, Deus realizou tudo isto? Como duvidas que te possa salvar e oferecer a participação da sua glória? Aquele que por ti sofreu a morte de cruz e ressuscitou glorioso? “Muito mais incrível, diz Santo Agostinho, é o que já se realizou: Deus morreu pelos homens”.

Não duvides: Aquele que morreu e ressuscitou por ti e pelo mundo inteiro tem igualmente poder para te dar a Sua Vida.

Por isso, nesta noite santa de Páscoa, quando ressoam os hinos que anunciam uma vez mais a ressurreição do Senhor, não hesites na fé, não diminua a tua esperança, nem fique tíbia a tua caridade: “É verdadeiramente grande a realidade futura que o Senhor nos promete; mas é muito maior o que Ele já fez por nós e que hoje celebramos”!

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