Franciscanos: Museu do Oriente apresenta 36 «livros raros» e esculturas do Convento da Arrábida

«Uma exposição não apenas para se ver, mas para se aprender» – Padre Vítor Melícias

Lisboa, 28 jul 2018 (Ecclesia) – A Fundação Oriente inaugurou ‘Olhares sobre a Livraria do Convento da Arrábida’ com 36 obras, que são “alguns dos livros mais raros e preciosos” dessa biblioteca franciscana, expostas pela primeira vez.

Em declarações à Agência ECCLESIA, o frade franciscano capelão da Arrábida afirma que é necessário “promover como valores de cultura” o que são museus bibliográficos, exposições bibliográficas, sobretudo, quando têm “uma importância” como a que foi inaugurada esta quinta-feira.

“É absolutamente necessário para que não sejamos um povo de memórias do passado de coisas belas de ver mas de coisas belas de ler e de aprender”, disse o padre Vítor Melícias, à margem da sessão no Museu do Oriente.

A coordenadora técnica Maria Eduarda Dimas, uma das responsáveis da exposição, explica que a ideia principal foi mostrar “a riqueza do património bibliográfico” e a diversidade temática do Convento da Arrábida, fundado em 1542 por frei Martinho de Santa Maria.

Na biblioteca do convento existem obras como o ‘Tratado de Oração e Devoção’, de S. Pedro de Alcântara (1739), livros de teologia dogmática e moral, um sermão contra a idolatria no oriente, do século XVII, filósofos e historiadores, áreas científicas, história militar.

‘Olhares sobre a Livraria do Convento da Arrábida’ apresenta 36 obras, datadas entre 1507 e 1860, que revelam a “transdisciplinaridade” dos livros dos frades Franciscanos.

Destaca-se um livro de S. Boaventura (1221-1274), que foi superior-geral da ordem fundada por São Francisco de Assis, e ‘Jardim Spiritual’, de frei Pedro de Santo António (1632), onde Nossa Senhora da Arrábida está coroada por um sol raiado, uma iconografia rara segundo o museu que a escolheu como imagem da exposição.

Existem “curiosidades”, como um tratado de quiromancia manuscrito, “do século XVIII, com uma tabela dos signos do zodíaco”, e Maria Eduarda Dimas destaca também um livro de botânica, do mesmo século, que foi “editado ou publicado” apenas três anos depois de ter sido descoberta uma planta e demonstra a “atualidade” das obras.

Para a coordenadora técnica do Museu do Oriente é curioso também a livraria do Convento da Arrábida ter “muitos livros censurados pela Inquisição”, onde está uma obra de 571 páginas de Santo Agostinho, e seis podem ser vistos até 28 de outubro, quando encerra a exposição.

“É possível verificar diferentes tipos de censura sobre os livros – cortes de páginas, rasura de títulos, de autores, emendas de capítulos inteiros, anotações manuscritas”, acrescentou.

O padre Vítor Melícias realça que o espólio, que “foi possível conservar após a expulsão dos frades em 1834”, “é muito rico porque revela as preocupações” dos Franciscanos que ali se “dedicavam à pregação popular e ao acolhimento de confissão”.

A mostra inclui duas esculturas – Jesus flagelado preso a uma coluna e outra de Cristo morto – bem como alfaias litúrgicas que também estão expostas ao público pela primeira vez.

O capelão da Arrábida explica que as imagens “faziam parte do devocionário popular daquele tempo”, como nas festas das indoências, e eram usadas “para pregar ao povo”.

“Estes exemplares e objetos litúrgicos são postos aqui com muita felicidade para ligar a espiritualidade escrita e a espiritualidade em imagem. Provocar os bons sentimentos e os valores espirituais através da imagem”, desenvolveu o padre Vítor Melícias.

Da parte institucional, Maria Eduarda Dimas salienta que quiseram partilhar “um pouco do espírito” do Convento da Arrábida numa homenagem “aquele espaço e homens que ali viveram”.

O acervo bibliográfico do convento, com 2865 volumes, foi inventariado e pode ser consultado no catálogo online do Centro de Documentação António Alçada Baptista.

Com a exposição, a Fundação Oriente, proprietária do antigo convento franciscano desde 1990, comemora os seus 30 anos de existência e os 10 anos do museu, que ainda vai promover uma visita comentada, conferência de encerramento e atividades gratuitas, em outubro.

O padre Vítor Melícias saúda a iniciativa “como estímulo” para que os portugueses se assumam “orgulhosos sempre do passado, assumindo o presente, voltados ao futuro na base dos valores”.

Com uma atividade de caracter cultural e preservação histórica, em 25 hectares do Parque Natural da Arrábida, o convento tem capelão sem “culto diário mas episódico” onde se destaca o Círio da Senhora da Arrábida, na primeira semana de julho.

CB

 

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