França: Exposição de património religioso do Alentejo recebeu 110 mil visitantes

Mostra apresentou peças «praticamente desconhecidas», mesmo em Portugal

A exposição “Portugal Eternel – Patrimoine de la Région de l’Alentejo” (“Portugal Eterno – Património da Região do Alentejo”), que esteve patente em Lyon, França, até este Domingo, recebeu cerca de 110 mil visitantes.

A iniciativa contou com uma ampla divulgação: cartazes nas estações do Metro, programas na rádio e na televisão e artigos na imprensa escrita. Nos últimos dias, a afluência de público levou os responsáveis do museu a alargar o horário de abertura, prolongando-o pela noite.

Na inauguração da mostra, que ocorreu a 3 de Outubro de 2009, o cardeal arcebispo de Lyon e primaz das Gálias, D. Philippe Barbarin, desafiou os lioneses a visitarem uma exposição que, como referiu, mostrava a importância da arte como factor de mediação entre povos, culturas e religiões.

“A arte alentejana desperta, em França, um interesse que vai dos meios académicos ao grande público”, afirmou José António Falcão, director do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, entidade responsável pela iniciativa, em parceria com o Museu de Arte Religiosa de Lyon, localizado junto à basílica de Notre-Dame de Fourvière.

“Há o gosto de olhar todas e cada uma das peças, explorando-lhes os pormenores, captando a mensagem de fundo, valorizando as diferenças”, assinalou o responsável. Além dos franceses, que constituíram a maioria dos visitantes, registaram-se também entradas de suíços, italianos, alemães, espanhóis, gregos e japoneses, entre outras nacionalidades.

Aos fins-de-semana e feriados foi frequente verem-se famílias de portugueses e de luso-descendentes. Para a comunidade lusa residente na segunda maior área urbana de França, a exposição foi uma oportunidade de reencontro com as raízes. A Federação das Associações Portuguesas e o Consulado-Geral em Lyon acompanharam de perto a iniciativa.

Tesouros desconhecidos

A exposição permitiu a apresentação de peças praticamente desconhecidas, mesmo em Portugal. Uma dessas obras é a “Cabeça Degolada de S. João Baptista”, escultura de madeira em tamanho natural sobre uma bandeja de prata, que pertencia ao antigo Convento da Conceição, em Beja.

Após o falecimento da última religiosa, em 1892, muitas outras peças do espólio conventual transitaram para a Mitra, sendo expostas no Museu Episcopal. Com a nacionalização dos bens da Igreja pela I República, as peças ficaram na posse do Estado, integrando os fundos do futuro Museu Regional de Beja.

Quando o Governo, ao abrigo da Concordata de 1940, devolveu à Diocese o património que lhe pertencia, a impressionante cabeça permaneceu no museu, ao passo que o prato foi entregue à catedral. Só agora voltam a ser reunidos, sendo um exemplo de colaboração entre a Igreja e Estado.

A crítica francesa destacou os tesouros do Gótico, do Maneirismo e do Barroco, sublinhando a relevância europeia das igrejas das ordens militares – Santiago, Avis e Hospital (Malta) – e a importância dos conventos e mosteiros, bem como de muitas paróquias rurais e urbanas. Foi também sublinhada a presença de importantes obras de arte contemporânea que integram as colecções dos museus diocesanos de Beja, entre as quais a tela “Jacob e o Anjo”, do pintor António Paizana (1994), e a escultura “El Matador”, de Joana Vasconcelos (2007).

Além da exposição, foram realizadas visitas guiadas, palestras, sessões de acolhimento, jantares temáticos, encontros com os professores e alunos de português da Université Lumière e um congresso do Comité de Indumentária do Conselho Internacional dos Monumentos.

Na organização colaboraram a Agência para o Desenvolvimento do Turismo no Alentejo, o Instituto Camões (Ministério dos Negócios Estrangeiros), o Município de Beja, o Serviço Internacional da Fundação Calouste Gulbenkian e o Turismo de Portugal. A iniciativa decorreu sob o alto patrocínio do Presidente da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva.

Imagem: “Jacob e o Anjo”, por António Paizana (1996) (Detalhe).

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