Fiéis Defuntos: Bispos portugueses apelam à responsabilidade na «romagem» aos cemitérios

CEP pede «respeito» por «medidas suplementares de proteção» que permitem aos fiéis católicos prestar homenagem aos seus entes mortos

Foto: C. M. Porto

Lisboa, 31 out 2020 (Ecclesia) – A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) pediu às autoridades que evitem o encerramento de cemitérios, por ocasião da homenagem que habitualmente se realiza na celebração de Todos os Santos e dos Fiéis Defuntos, momento de “intensa piedade dos fiéis católicos”.

“É certo que não depende da Igreja a gestão da grande maioria dos cemitérios nacionais. Confiamos, porém, que as autarquias e entidades que os tutelam saberão interpretar as exigências do bem comum encontrando um justo, mas difícil equilíbrio entre os imperativos de proteger a saúde pública e o respeito pelos direitos dos cidadãos”, indicou um documento do Conselho Permanente da CEP, intitulado ‘Avivar a chama da esperança’, no passado dia 12.

O Conselho de Ministros aprovou um decreto que declarou o dia 2 de novembro como dia de luto nacional, em Portugal, “como forma de prestar homenagem a todos os falecidos, em especial às vítimas da pandemia”.

O Governo anunciou ainda a proibição de circulação entre concelhos de 30 de outubro até 3 de novembro.

Os bispos admitem que, dado o estado atual da pandemia, “é sensato que se imponham medidas suplementares de proteção”, como a obrigatoriedade do uso de máscaras e o controlo do número de visitantes, mas consideram que “não seria apropriado o encerramento completo dos cemitérios”.

A nota destaca que “não se adoece apenas de COVID-19”, para referir que “a impossibilidade de exprimir de forma sensível e concreta saudades e afetos também é causa de sofrimento e de doença”, lembrando as “muitas famílias enlutadas neste período nem sequer puderam acompanhar adequadamente os seus entes queridos em exéquias muitas vezes celebradas, como diz o Papa Francisco, de um modo que fere a alma”, assinala a CEP.

“Para diminuir ocasiões de maior aglomeração de pessoas, recomendamos aos párocos que considerem nestes dias, em coordenação com as autoridades locais, a possibilidade de celebrar a Eucaristia nos cemitérios”, pediu ainda a CEP.

No dia 14 de novembro, às 11h00, na Basílica da Santíssima Trindade do Santuário de Fátima, a Conferência Episcopal vai celebrar uma Eucaristia de sufrágio pelas vítimas da pandemia em Portugal.

Em Aveiro, o Conselho de Arciprestes, que inclui o vigário geral e responsáveis dos diversos setores pastorais (do seminário à liturgia, da pastoral juvenil à pastoral social), e presidido pelo Bispo de Aveiro, D. António Moiteiro, decidiu que a celebração de Todos os Santos e Fiéis Defuntos não terá missas nos cemitérios.

“As celebrações de domingo serão nas Igreja, embora, quem tenha espaços largos e suficientes e respeitando as normas da DGS, as distâncias determinadas, o uso de máscaras e a desinfeção das mãos, o possa fazer ao ar livre. Os sacerdotes devem “r aos cemitérios, rezar pelos defuntos da sua paróquia, mas sem determinar a hora” e as indicações emanadas da reunião devem ser “comunicadas a toda a Diocese”, realça o documento enviado à Agência ECCLESIA.

D. Jorge Ortiga escreveu uma mensagem à arquidiocese de Braga onde pede que “o aglomerado de familiares à volta das sepulturas” seja substituído pela “revitalização de coisas já esquecidas”

A mensagem do Arcebispo de Braga afirma que a circunstância actual deve ser aproveitada para se refletir “mais profundamente” e refere a redescoberta da família “como Igreja doméstica” para falar da oração – como da caridade – como uma forma de “revitalizar” a devoção, explica numa nota enviada à Agência ECCLESIA.

D. Jorge Ortiga diz que a ligação aos entes falecidos “passa pela oração, na eucaristia e na vida pessoal e familiar, pelas esmolas e por todas as experiências de caridade” – mais valiosas “que todas as flores, círios ou sepulturas ornamentadas”, alertando também para as “alminhas” que hoje estão abandonadas e que esta é uma oportunidade para as recuperar, “restituindo o significado que sempre tiveram: o convite à oração”.

O Arcebispo de Braga estabelece, na mensagem, o cancelamento das celebrações comunitárias nos cemitérios – assim como relembra a proibição de procissões e romagens –, mas pede aos sacerdotes que, sem aviso prévio, se desloquem aos cemitérios para que, “pessoalmente e como pastores das comunidades, rezem por todas as pessoas falecidas”.

O Arcebispo de Évora vai presidir à Eucaristia, não comunitária, pelas 15h30, esta segunda-feira, na Capela Interior do Convento da Cartuxa, por todos os fiéis defuntos da arquidiocese, “sobretudo aqueles que não têm ninguém das suas famílias que os lembrem na Oração de Sufrágio”.

A celebração não comunitária terá transmissão online na página de Facebook e no Site da arquidiocese de Évora.

“Julgo que este momento exige muita sensatez, muita humanidade, a todos, aos autarcas e às pessoas que tem os seus entes queridos no cemitério”, sublinha no site da arquidiocese.

Um outro alerta, “relevante”, vai para o arranjo das sepulturas que nestas datas são alvo de profundas limpezas e decoração própria, nomeadamente com flores, vendidas, muitas vezes, à entrada dos cemitérios.

“Não se permitam grandes aglomerados de pessoas e que haja muito cuidado”, recomenda, o arcebispo de Évora, alegando que “nos nossos cemitérios montam-se, por vezes, uma espécie de feiras de flores onde se juntam muitas pessoas”.

Na diocese da Guarda, D. Manuel Felício pediu para não se realizar a “habitual romagem aos cemitérios”.

“Cada um, respeitando as regras vigentes, poderá fazer a sua romagem pessoal”, escreveu o bispo da Guarda, D. Manuel Felício, numa nota enviada à Agência ECCLESIA.

No documento, D. Manuel Felício realça que existe autorização para “celebrar a Eucaristia, nos espaços fechados das Igrejas e em outros espaços, incluindo ao ar livre, desde que sejam respeitadas as regras oportunamente anunciadas de higienização, distanciamento e uso obrigatório de máscaras”.

O bispo de Portalegre-Castelo Branco anunciou que na diocese “não se farão as habituais romagens aos cemitérios”, num comunicado sobre a festa de Todos os Santos e a comemoração dos Fiéis Defuntos (1 e 2 de novembro), pedindo que se evitem aglomerações.

“Sabemos como estes dias provocam a movimentação das pessoas, das famílias e das próprias comunidades em direção à Eucaristia e visitas ao Santíssimo Sacramento nas igrejas, às romagens e celebrações em cemitérios. Este ano, porém, não o podemos fazer como desejaríamos, estamos em situação de pandemia. Temos regras a cumprir, temos o dever de cuidar uns dos outros”, escreveu D. Antonino Dias.

O responsável católico descarta a possibilidade de celebrações litúrgicas, “quer Eucarísticas quer Celebrações da Palavra ou outras”, nos cemitérios.

A diocese de Setúbal informou que “os nove municípios que integram a extensão do território decidiram manter os cemitérios abertos, adotando medidas adicionais de contingência e alargando, em vários espaços, o período de visita”.

Foto: Agência ECCLESIA/HM

“Em todos os cemitérios é necessário cumprir as normas de segurança que as autoridades de saúde indicam, sendo obrigatório o uso da máscara, a higienização das mãos na entrada dos cemitérios e o distanciamento físico mínimo de dois metros (exceto para coabitantes)”, devendo ainda ser respeitado o número de pessoas que poderão estar juntas, sendo o limite definido pelas autarquias, “que variam entre as duas e as 10 pessoas”.

D. António Luciano dos Santos, bispo de Viseu, convida as pessoas a rezar em sufrágio dos defuntos “participando na celebração da Eucaristia, na visita ao cemitério de forma privada, respeitando sempre as medidas profiláticas de saúde pública”.

O documento intitulado «Viver a Esperança na Vida Eterna» realça que com o aproximar dos dias 1 e 2 de novembro em que “muitas pessoas se deslocam aos cemitérios, especialmente durante as romagens e as celebrações de sufrágio dos fiéis defuntos, havemos por bem olhar para a comunidade com o bom senso pastoral, a virtude da prudência e da caridade”.

D. António Luciano dos Santos escreve que não estão autorizadas “procissões ou romagens aos cemitérios” e a “celebração da Eucaristia na Capela do Cemitério ou qualquer outra celebração comunitária de fé está proibida”.

O bispo de Viseu pede também aos padres para aproveitarem as homilias para “apresentar o verdadeiro valor e sentido da vida, o chamamento de todos à santidade, a beleza da vida eterna, a importância da oração de sufrágio pelos fiéis defuntos, o sentido pleno da morte, procurando educar e formar as pessoas e os cristãos para o verdadeiro sentido das exéquias, ajudando também os fiéis a fazerem de modo sadio e cristão o luto”.

O Santuário de Fátima vai, na Solenidade de Todos os Santos, durante a Missa das 11h00, na Basílica da Santíssima Trindade, expor à veneração dos fiéis as relíquias dos Santos Francisco e Jacinta Marto.

Foto: Vatican News

O Papa Francisco vai celebrar a Missa no Campo Santo Teutónico, cemitério no Vaticano, de forma estritamente privada, no dia 2 de novembro, pelas 16h.

Na conclusão, Francisco irá se deter em oração no cemitério, depois irá às Grutas Vaticanas para prestar homenagem aos Pontífices falecidos.

No dia 5, às 11 horas (hora de Roma), o Papa vai presidir à celebração, no Altar da Cátedra na Basílica do Vaticano, por sufrágio dos cardeais e bispos que faleceram durante o ano.

PR/OC/LFS/CB/LS

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