Eutanásia: Se legitimar «negócio da morte», humanidade «bate no fundo» – Laurinda Alves

Cronista e professora apela a debate sério na sociedade portuguesa

Lisboa, 15 abr 2016 (Ecclesia) – A cronista e professora universitária Laurinda Alves afirmou que a eutanásia exige “um debate sério” na sociedade portuguesa, por considerar que o tema está a ser conduzido com base em “pressupostos pouco claros”.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, a jornalista salientou que em causa não está apenas “uma questão de compaixão, de quem está mais pelo lado da dignidade”, ou de “quem é mais humano e humanitário”.

Segundo a cronista, a legalização ou não legalização desta prática vai também além da discussão do “valor da vida” que “é um valor sem valor” pelo qual é preciso lutar “coletivamente”.

“Não pode haver relativismo quando falamos de vida, a vida ao nascer e ao morrer. Dar como única resposta a eutanásia é dar muito pouco”, sustentou Laurinda Alves.

Para a professora de Comunicação, Liderança e Ética na Universidade Nova de Lisboa, é essencial “pôr todas as cartas na mesa” e perceber que do resultado desta reflexão à volta da eutanásia depende também determinar a quem pertence “a decisão última de terminar uma vida”.

“Quem não pode pagar, ir à clinica, quem não pode sequer decidir, ou seja, um doente do foro psiquiátrico, um doente mental, vai decidir sobre a sua própria vida e morte?”, questiona a jornalista.

Legitimar a eutanásia, prossegue Laurinda Alves, seria abrir as portas a “um negócio, o negócio da morte” que traz consigo toda “uma lógica comercial que tem de estar dentro da discussão”.

“Como é que se gera lucro, como é que se fidelizam clientes, se levam pessoas a uma clínica destas. Quem seriam estes profissionais que, sob a aparência de médicos e a capa da medicina”, seriam “os profissionais da morte?”, aponta Laurinda Alves, convicta de que quando forem iluminadas estas “zonas de sombra”, talvez “mais pessoas não queiram a eutanásia”.

Sobre o argumento de que a eutanásia será uma forma de acabar com o sofrimento das pessoas mais doentes e debilitadas, a jornalista salienta que “não existem vidas indignas de serem vividas” e que a humanidade, ao considerar isto, “bate no fundo”.

“Conheço pessoas que atravessaram não um, nem dois mas três cancros. Pessoas que são pais e mães de filhos, que vivem felizes, que atravessaram esse massacre e porque o atravessaram se fortaleceram, apesar da fragilidade toda. Imagine que ao primeiro cancro só eram confrontadas com a possibilidade de acabar com a vida”, complementa.

Para Laurinda Alves, exemplos como estes mostram que é possível querer mais do que a eutanásia, que é possível “abrir para outras perspetivas para além de uma morte imediata ou de uma morte a pedido”.

Porque “existem outras maneiras de minimizar, às vezes até eliminar o sofrimento físico”, lembra a também tradutora, apontando para os cuidados paliativos que existem apenas para possibilitar a “estas pessoas viverem com dignidade até à hora da morte”.

“Não há vida sem sofrimento, e não é por masoquismo, é porque ele existe. E no dia em que acharmos que descartando o sofrimento, descartando os velhos, os feios, os gordos, os magros, os que têm qualquer coisa fora do padrão, acho isto muito perigoso”, conclui.

Laurinda Alves é uma das entrevistadas do próximo programa ‘70×7’ (RTP2), que vai ser transmitido no domingo, às 13h30, tendo como pano de fundo a recente nota pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa sobre a Eutanásia, tema em destaque na mais recente edição do Semanário ECCLESIA.

LFS/JCP

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