Estratégia de João Paulo II para a Família

Em Setembro de 1980, João Paulo II abria a 5ª assembleia geral do Sínodo dos Bispos, o seu primeiro sínodo. O tema escolhido foi o da Família. O novo Papa vivera na sua terra natal experiências dolorosas de destruição das liberdades e da dignidade humana. Para ele eram claros os laços profundos que a família e a sociedade tecem entre si: a negação da liberdade e da dignidade individual produzem efeitos destruidores na vida familiar, comunidade anterior e fundamental à sociedade e ao Estado; por outro lado, a destruição da natureza e da missão da família provoca a destruição da própria sociedade, pois a família é a única instituição capaz de promover os valores que permitem a harmonia e coesão sociais. João Paulo II logo elegeu a família para um dos temas recorrentes do seu Magistério. Dos muitos documentos que nos deixou sobre a Família, ressalta a Exortação Apostólica pós-sinodal Familiaris consortio, de 22 de Novembro de 1981, um “evangelho da família e da solicitude da Igreja pelas famílias”. De facto, o Papa da Família apresenta nesta exortação as ideias fundamentais sobre a teologia do matrimónio e da família e as bases da pastoral familiar, como expressão da solicitude da Igreja pela família. Fortalecer a Igreja e transformar a sociedade O Papa ofereceu à Igreja e à cultura uma visão da família baseada na revelação. A identidade da família está inscrita no próprio pensamento de Deus, como realidade anterior e modelo inspirador de todas as famílias. A família, embora sujeita às condições históricas e locais, permanece como “imagem de Deus”, ícone da própria Trindade. Daí a expressão nem sempre bem compreendida e acolhida: família, torna-te aquilo que és! É nesta certeza que o Papa ancora a vida e a missão da família. A família não tem de ser reinventada; antes é chamada a renovar-se, recuperando permanentemente o projecto divino. Outra linha forte do pensamento do Papa foi a de que a primeira missão da família dirige-se a si mesma: de acordo com o projecto de Deus e à semelhança da comunhão das Pessoas divinas, a família é chamada a cultivar ad intra a comunhão, a unidade na diferença e complementaridade das pessoas e funções, à semelhança da Comunidade trinitária de que é imagem. A família tem, por outro lado, uma dimensão eclesial: é “igreja doméstica”, faz parte do tecido eclesial e nele tem funções insubstituíveis, de que sobressai a evangelização, a começar pela educação dos filhos na fé. À família, João Paulo II entregou, de modo especial, o serviço à vida, a sua protecção e defesa. Por isso, o Papa ofereceu às famílias, em particular aos jovens, uma desenvolvida e aprofundada teologia da sexualidade, do corpo humano, da fecundidade e do amor conjugal, situando todas estas realidades na perspectiva da vocação sobrenatural de cada pessoa. A partir de uma sólida consciência da sua identidade, vocação e missão, as famílias, segundo a visão de João Paulo II, têm o grave dever de intervir na vida pública, organizando-se para defender e promover os seus direitos. O bem da família e o bem da sociedade são interdependentes e só em comum podem ser alcançados. Renovar a pastoral familiar Elejo, como principal ideia-força de João Paulo II para a solicitude pastoral da Igreja pelas famílias, a afirmação de que a pastoral familiar não é uma pastoral sectorial, como se as famílias constituíssem, na Igreja, um grupo ao lado de outros. De acordo com a natureza e a missão da família, a pastoral familiar deve estar no coração da acção da Igreja, penetrando, inspirando e fazendo convergir à volta de si todo o agir pastoral, desde a catequese à acção sócio-caritativa, desde a liturgia às estruturas de animação e formação. Entre as várias prioridades da pastoral familiar, que não cabem neste brevíssimo aceno do lugar da família no magistério de João Paulo II, importa destacar o apelo do Papa para que a Igreja, embora não aceitando como regular o que é objectivamente irregular, acolha e ajude as famílias marcadas por situações difíceis. Um comentário final: muito (ou quase tudo?) do património que João Paulo II nos deixou sobre a Família e a Pastoral familiar está por cumprir; ainda não foi atentamente escutado e meditado o solene aviso que nos ele fez há 25 anos: o futuro da humanidade (e da Igreja) passa pela família! Pe. José João Aires Lobato Diocese de Setúbal

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