Empregabilidade e fé

Pedro Salgueiro, Instituto Padre António Vieira

A caminho da Futurália cruzo-me com uma rapariga de vinte e tantos anos com quem já trabalhei em tempos. Conta-me que esteve recentemente empregada num shopping de Lisboa. Nem é preciso puxar conversa. Conta-me quase tudo: salário precário, contrato precário, horários desumanos, extras a toda a hora, maltratada quase todos os dias. Licenciada e com uma imensa capacidade para a escrita, foi finalmente resgatada no mês passado para voltar a ser jornalista numa publicação para jovens.

Tenho tido o privilégio de percorrer o país e tomar o pulso ao tema da empregabilidade dos jovens universitários. As Job Party promovidas pela Forum Estudante têm enchido os maiores anfiteatros das universidades e politécnicos portugueses. São seminários de um dia inteiro sobre temáticas diversas ligadas à empregabilidade. Podem acompanhar o decorrer destas iniciativas no portal: www.emprego.forum.pt.

Recentemente, lançaram-me o desafio de coordenar o projeto História do Futuro que promove ações de formação para jovens licenciados à procura de emprego. Podem conhecer este projeto e as suas iniciativas em: www.historiadofuturo.org

Num espaço de poucos meses encontro-me cercado pelo tema da empregabilidade dos jovens! Pela adesão aos seminários e pelas estatísticas dos sites, História do Futuro e Fórum Emprego são projetos com muito potencial para crescer…

Quase não consigo entrar na Futurália. Centenas de pessoas com menos de 20 anos tentam entrar nos dois pavilhões. Querem tomar decisões informadas sobre a sua própria formação. Universidades, politécnicos, escolas profissionais e outras instituições tentam atrair estes jovens. Tenta-se conversar, no meio de muito ruído. Algumas universidades orgulham-se das suas altas taxas de empregabilidade – será que é mesmo assim? – outras apostam nas cores, brindes, design e música até com DJ´s!

No dia seguinte a Job Party é no Instituto Superior de Agronomia. Uma sala linda, forrada de estantes com livros antigos, faz lembrar a Sociedade de Geografia. Está cheia de futuros agrónomos, silvicultores, engenheiros florestais e alimentares. Os formadores insistem nos temas da empregabilidade. Os universitários sabem que, apesar de tudo, compensa ter um curso superior. Sem o “canudo” há três vezes mais probabilidade de não conseguirem emprego.

Que futuro terá a história dos atuais estudantes universitários? Que interesse futuro tem o tempo que se passa na universidade? O que valerá mais? Importa fazer outras coisas para além de estudar? Então e o estudo puro e duro não vale nada? Os conhecimentos técnicos ensinados e aprendidos tornar-se-ão mais cedo ou mais tarde obsoletos? Então andamos a perder tempo? Ou andamos só a “ginasticar” a cabeça? Que competências são mais necessárias?

Um estudo muito interessante da Universidade de Kent revela as 10 competências mais procuradas pelos empregadores. Para as conhecer e aprofundar pode consultar-se: http://www.kent.ac.uk/careers/sk/top-ten-skills.htm

Voluntariado, desporto, viagens, Erasmus, projetos em equipa, estágios apresentações em público, experiências de negociação, vendas e contacto com clientes, organização de eventos, passeios culturais e linguísticos, liderança em associações juvenis; todas estas práticas permitem adquirir e trabalhar competências muito importantes em futuros empregos e empreendimentos.

Regresso à Job Party em Agronomia. Os estudantes agora fazem perguntas. Perguntas práticas, detalhes, pormenores. As respostas da formadora são prontas, pragmáticas, experienciais.

Gosto da lógica do coworking, concretizada aqui bem perto na Lx Factory. Para conhecer pode consultar-se: www.coworklisboa.pt. É interessante ver como o coworking está a contribuir para mudar a forma como trabalhamos e onde trabalhamos: http://youtu.be/le0dfcG_jVw

Em Alcântara vejo uma enorme fila de pessoas desempregadas à porta do Centro de Emprego. São sobretudo pessoas mais velhas, para quem o desemprego tem consequências dramáticas. Os jovens, sobretudo universitários, estão em grande vantagem: têm tempo, podem arriscar, não têm família, têm sonhos e ilusões, vivem em casa dos pais, etc.

É curta mas intensa a minha experiência de contacto com o tema da empregabilidade. Não quero ficar um “teórico” do assunto. É um tema que tem qualquer coisa de “lepra do nosso tempo”: é desagradável. Para estar neste tema há que agir mais do que falar. Tentar ser autêntico. Não iludir nem se auto iludir. Há que medir as palavras, evitando um subtil sentimento de superioridade que facilmente se instala em alguém que está empregado quando fala com alguém que está desempregado. Até porque há muitas zonas cinzentas. Não vale a pena pintar o cenário de cor-de-rosa. Nem de rosa nem de negro. Quem se aproxima dos 40 percebe que as coisas na vida são cíclicas. Depois do inverno vem sempre a primavera.

É preciso refletir mais sobre as formas de abordar o emprego e o desemprego juvenil. A Universidade de Warwick tem um centro de investigação muito interessante sobre estes temas: http://www2.warwick.ac.uk/fac/soc/ier/

Aproxima-se um ano da Fé e acreditar tem de ter a ver com tudo na vida. A partir de outubro, o tema do emprego jovem vai continuar a estar muito presente. Como viver a Fé e crescer na Fé nestes tempos que são os nossos?

Pedro Salgueiro, ‘História do Futuro’, Instituto Padre António Vieira

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