Educação não é monopólio do Estado

Director do Colégio de São João de Brito pede «autonomia pedagógica» e lamenta restrições ministeriais O director do Colégio de São João de Brito, em Lisboa, pediu ao Presidente da República que salve o ensino português, depois de criticar a falta de autonomia pedagógica permitida pelo actual sistema educativo. “Estamos longe de uma verdadeira autonomia pedagógica. A autonomia que nos concedem em Portugal é tão regulamentada que não dá vontade de levar adiante o ensino”, disse o Pe. Amadeu Pinto durante a sua intervenção na sessão comemorativa dos 60 anos da instituição, na qual participou também o Presidente da República, Cavaco Silva. Segundo o sacerdote jesuíta “não há, em Portugal, ‘liberdades de aprender e de ensinar’, porque se nega aos cidadãos a livre e efectiva hipótese de opção pela escola das suas preferências”. Daqui, referiu no seu discurso, “resultam graves constrangimentos. “A ‘igualdade de oportunidades’, de tão propalada, não passa, afinal, de uma ilusão, de uma miragem. Com efeito, os pais que conseguem matricular os filhos neste colégio, (como em muitos outros do EPC), são constrangidos a suportarem duplamente a sua educação…”, acusa. O responsável criticou ainda as contenções que o colégio está a sofrer, responsabilizando a actual política do Governo. Entre essas contenções, destacam-se cortes no curso nocturno que o Colégio proporciona desde 1952 a alunos com maiores dificuldades, “provenientes de bairros difíceis como o da Musgueira, que sempre foi gratuito e que desde a década de oitenta conta também com o apoio do Estado”. “Está agora a sofrer medidas redutoras dos alunos abrangidos por contratos de associação e está actualmente com cerca de metade de alunos, não por falta de candidatos, mas porque a Administração Central assim o impôs unilateralmente”, explicou o Pe. Amadeu Pinto, realçando que as dificuldades que o colégio vive “têm a ver com o próprio sistema de ensino” “É pernicioso para o sistema que hoje os professores já quase não tenham tempo para ler o que o ministério quer que leiam, e muito menos para preparar aulas”, afirmou, acrescentando que esta situação “é grave” e ataca a dignidade do ensino. “Senhor Presidente, peço-lhe que salve o nosso sistema de ensino, porque ao salvar o nosso sistema de ensino salva-nos a todos”, pediu o Pe. Amadeu Pinto, defendendo que “cada pessoa e cada escola possam viver numa verdadeira autonomia na sua diferença”. Em resposta, o Presidente da República salientou mais uma vez a importância decisiva do ensino para o progresso do país, uma missão que atribuiu a todos, “incluindo as escolas privadas, principalmente as de qualidade”, entre as quais o colégio de São João de Brito foi considerado um bom exemplo a seguir. “O sucesso educativo é compatível com modelos diferenciados de ensino. Não é preciso que todas as escolas tenham o mesmo modelo educativo”, afirmou Cavaco Silva. O discurso do director do colégio São João de Brito encontra-se disponível em http://www.csjb.pt/DiscursoPAmadeu7022008.pdf Redacção/Lusa História “Estamos a celebrar, neste ano lectivo de 2007-08, o sexagésimo aniversário do CSJB. São 60 anos de vida, “vida dada” à mais nobre missão de quantas podem ser confiadas a humanos: a de contribuir, por doação ousada, com competência de saberes e de conhecimentos, também, mas mormente, pelo exemplo e coerência de vida, que é, ainda, o que mais e melhor ensina e educa…, para a formação de pessoas, as quais, no horizonte ideal da sua eminentíssima dignidade, serão propensas a serem “homens e mulheres para e com os outros”. Esta celebração acontece na festa do nosso Padroeiro, S. João de Brito, que este ano, por força de calendário, não decorreu, como é hábito, a 04 de Fevereiro, dia oficial do seu nascimento para o céu. É “pelos frutos que melhor se conhecem as árvores”, tal como é “pelas obras que se reconhecem os bons obreiros”, na linha do que ensina Jesus Cristo ao afirmar que “pelos frutos, pois, os conhecereis” (Mt 7,20). O CSJB, ao avaliar os frutos produzidos nestes 60 anos de vida, reconhece, com humildade e verdade, que muito embora alguns lhe tenham saído menos grados, é consolador verificar, e apreciar, e admirar… o número incontável de frutos de superior qualidade, desses que dão à sociedade humana, em Portugal, sobretudo, mas também lá por fora, no estrangeiro, outro sabor à vida das pessoas. O CSJB começou com um pequeno grupo de 14 alunos, (entre eles, Ari dos Santos), em 28.10.47. Esse pequeno grupo de alunos cresceu e multiplicou-se, atingindo, hoje, quase milhar e meio de crianças e jovens, desde a Infantil (3 anos) até ao Secundário. E o que é verdadeiramente consolador é apercebermo-nos que os alunos gostam do seu colégio, vivem felizes e tiram proveito de quanto, nele, vivem… • Em 1952, nasce o curso nocturno, intencionalmente destinado a alunos mais carenciados. A ele acorreram, com efeito, gerações de alunos de bairros característicos, entre eles o da Musgueira, tornando-se os melhores defensores do colégio, – o seu colégio -, em épocas de maiores dificuldades. Foi sempre gratuito, primeiro por dedicação generosa da comunidade educativa, e, desde a década de 80, também com subsídios do Estado, em regime de contrato de associação. (…) • Em 1953 instituiu-se a Festa das Famílias, cujos lucros se convertiam em bolsas de estudos para alunos mais carenciados. • Na década de 70, nasce a Fundação S. Inácio, com alguns excedentes da venda de terrenos, após a construção da Primária, para beneficiar algumas dezenas de alunos por ano. • Funda-se, em 1961, a Associação dos Antigos Alunos dos Colégios da Companhia de Jesus em Portugal. A Associação dos AA de S. João de Brito, de que o colégio se orgulha com legitimidade, tem vindo a desenvolver actividades variadas e verdadeiramente interessantes, a saber: participação activa nas festas das famílias, organização de eventos tendentes a reunir (e a unir) os AA entre si e ao colégio, organização do primeiro congresso da Associação dos AA de Portugal (2002) e do XX congresso europeu de AA (2005). • Em 1975, nasce a Associação de Pais, como resposta à conveniência indispensável de proporcionar, entre o colégio e as famílias, aquela cooperação necessária e suficiente à formação de pessoas de modo equilibrado e harmonioso. Muito participativa, também ela, nas actividades do colégio, desenvolve iniciativas próprias, como reuniões temáticas de pais, passeios culturais de convívio entre pais e filhos, etc. • Mais recentemente tomou forma a Associação de Estudantes. Apraz-me registar, realçar e agradecer o contributo muito positivo que estão a dar na vida colegial. • Nos últimos tempos, foi criada, como fruto de muita amizade para com o colégio, a “Associação dos Amigos de S. João de Brito”, que promove campanhas de angariação de fundos que ajudam a sustentar a Fundação S. Inácio… • Outros acontecimentos contribuíram para darem ao colégio a vitalidade de que, muito legitimamente, se orgulha, em prol do serviço que presta. Apenas os refiro, sem comentários: o Criação dos Departamentos interdisciplinares (1972); o Aposta na formação contínua de educadores em colaboração com outros colégios da Cª de Jesus, em Portugal e Espanha; o Educação da Fé pela promoção da Justiça. mediante a oferta mais variada possível de actividades sociais e pastorais; o Presença influente, desde 1975, na árdua defesa das “liberdades de aprender e de ensinar”, militando, sempre, na primeira linha da AEEP; o Criação, em colaboração com a Associação de Pais, (1979), das actividades de ocupação dos tempos livres, com que se tenta corresponder à multiforme apetência vocacional dos alunos… o Os “Campinácios” — Campos de Férias inacianos para alunos dos 3 colégios — são uma formidável escola de formação de pessoas umas para e com as outras… o Dispõe de um eficiente Gabinete de Psico-pedagogia, de razoável Biblioteca, de modernos equipamentos em áudio visual e multimédia… etc., etc.” Pe. Amadeu Pinto

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