Ecumenismo: Relação entre Igrejas cristãs deve caminhar para o «pensar e realizar» em conjunto – D. Jorge Pina Cabral

Bispo da Igreja Lusitana afirma que sociedade polarizada pede «sinal de unidade» e afirma que «processo de escuta e discernimento» sinodal da Igreja católica «não pode estar confinado só à própria Igreja Católica»

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 24 jan 2024 (Ecclesia) – D. Jorge Pina Cabral, bispo da Igreja Lusitana, de Comunhão Anglicana, pediu para as Igrejas cristãs cooperarem mutuamente e apelou a uma “mudança de paradigma que contagie o “pensar e realizar” em conjunto.

“Às vezes não é tão só o conteúdo, mas também a forma. Há aqui, digamos, uma mudança de paradigma que importa acentuar que é pensarmos em conjunto para depois realizarmos também em conjunto. E isso pressupõe um exercício de humildade, reconhecendo outras realidades eclesiais que existem em Portugal porque é isto que o mundo quer, o que as pessoas querem ouvir”, explica à Agência ECCLESIA.

O responsável pela Igreja Lusitana, em Portugal, fala na importância de dar um “sinal de unidade ao mundo”, numa altura em que a sociedade está “polarizada na dimensão política, social”, escuta “discursos populistas que alimentam a divisão”, as Igrejas podem ter uma “oportunidade única de mostrar uma relação, uma unidade e proporem um discurso de construção comum”.

“Eu diria que, a Igreja Católica Romana, sendo a Igreja maioritária em Portugal, tem um papel muito importante; deve assumir esta consciência que passa por se questionar a si própria mas também, se aquilo que se propõe fazer e muitas vezes até dizer, pode ser dito também com os outros”, indica.

Questionado sobre o Sínodo da Igreja católica, que decorre desde 2021 e tem a segunda Assembleia Plenária em outubro, o responsável da Igreja Lusitana, fala na importância de escutar outros.

“Este processo de escuta e discernimento no seio da própria Igreja Católica não pode estar confinado só à própria Igreja Católica. A Igreja tem que perceber que o Espírito Santo também está presente fora da Igreja Católica e neste sentido tem que escutar também os outros, outras Igrejas, aqueles que por vezes, estando de fora da própria instituição, são capazes de ver, talvez até com maior clareza, determinados aspetos, uns que têm que ser mudados, outros que têm que ser também aprofundados”, avança.

A Igreja Lusitana vai celebrar o seu centésimo Sínodo neste ano e vai receber, em fevereiro, o arcebispo da Cantuária, D. Justin Welby, para um programa de dois dias.

Sagrado bispo em 2013, para servir uma comunidade de cerca cinco mil fiéis, presentes em 14 paróquias espalhadas em Portugal, D. Jorge Pina Cabral, fala no desafio de “abrir a Igreja a novas realidades”, num contexto “muito exigente e muito adverso ao crescimento da Igreja”.

“Nós vivemos um tempo e uma cultura de grande secularização, de grande descompromisso em relação a qualquer tipo de instituição, seja ela de que natureza for, e em particular à Igreja ou às Igrejas”, reconhece.

O responsável indica que o desafio passa por construir e viver uma “Teologia viva”.

“A relação de proximidade, uma teologia de proximidade, para ouvirmos, acolhermos e deixarmos ser tocados é imperativa para as Igrejas hoje. A Teologia não se faz hoje nas faculdades; a Teologia nasce da vida e desta proximidade”, convidou.

O convidado do programa Ecclesia, emitido esta noite na Antena 1, durante a Semana de Oração pela unidade dos Cristãos, recorda como a vivência ecuménica foi estruturante no seu crescimento e amadurecimento da fé, tendo sido professor de Educação Física, antes de se tornar padre, aos 30 anos.

“O facto de eu ter vivido a minha fé na paróquia de São João Evangelista, em Vila Nova de Gaia, permitiu que, desde cedo e particularmente na década de 70, me abriu à relação ecuménica. Foi possível estabelecer relação com a Igreja Católica Romana, e particularmente com a comunidade cristã da Serra do Pilar, na altura orientada pelo padre Arlindo de Magalhães, e com naturalidade, começamos a subir à Serra do Pilar para rezar o Pai Nosso. Esta abertura que se foi desenvolvendo através do movimento ecuménico permitiu também perceber que a nossa Igreja não era uma Igreja fechada, mas sim uma Igreja capaz até de estabelecer pontos e de criar espaços de relação”, recorda.

A conversa com D. Jorge Pina Cabral pode ser acompanhada no programa Ecclesia, esta noite na Antena 1, pouco depois da meia-noite, ficando despois disponível no portal de informação e no podcast «Alarga a tua tenda».

LS

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