Ecumenismo: António Lourenço vai ao Vaticano mostrar à filha de sete meses «pedaços de verdade» que existem noutras confissões religiosas

«Quando esteve em Lisboa, o Papa Francisco falou em todos – ele não disse todos os cristãos ou todos os católicos, disse todos, toda a família humana. É importante orar, viver e peregrinarmos juntos», valoriza jovem médico

Foto: Agência ECCLESIA/TAM

Lisboa, 27 set 2023 (Ecclesia) – António Lourenço vai participar, com a sua esposa e a filha de sete meses, na celebração ecuménica que no sábado vai reunir, no Vaticano, os líderes das confissões religiosas num momento de oração como preparação da Assembleia Sinodal.

“Quando esteve em Lisboa o Papa Francisco falou em todos – ele não disse todos os cristãos ou todos os católicos, disse todos, toda a família humana – é possível que muçulmanos, judaicos ou outras religiões tragam este contributo para a humanidade perceber como deve caminhar junta. Cada um tem a sua pertença religiosa e lê a realidade de acordo com essa pertença e não é tudo igual, caso contrário haveria apenas uma religião. Mas há pedaços de verdade em cada religião que importa valorizar e é importante caminhar juntos, percebendo que o todo é sempre maior do que a soma das partes”, indica o jovem médico à Agência ECCLESIA.

António Lourenço conheceu a comunidade ecuménica de Taizé em 2011 e valoriza a experiência de caminho conjunto acessível a todas as pessoas.

“Discernindo juntos, rezando juntos e vivendo juntos – tal como nos lembra a comunidade de Taizé – conseguimos caminhar juntos. As discussões teológicas são importantes mas devem ser tidas por teólogos; para a pessoa comum passa pela experiência de oração, vivência e peregrinação conjunta”, aponta.

No percurso de formação pessoal, o jovem médico, especialista em Medicina Geral e Familiar, considera que a Academia de Líderes Ubuntu, que conheceu em 2017, lhe permitiu cimentar o valor do crescer em conjunto, valorizando o outro como um ser essencial ao crescimento da pessoa humana.

Em Taizé a tónica é insistida no diálogo ecuménico, onde várias Igrejas cristãs percebem que é mais aquilo que as une do que as separa, porque o que as une é Cristo, mais do que qualquer diferença teológica, estrutura doutrinal. Na Academia reconhece-se o bem que há no outro, independentemente da sua raça ou crença religiosa. Numa perspetiva humanitária eu poderia dizer «Eu sou porque tu és»; numa perspetiva religiosa eu digo «Nós somos porque Deus é»”.

António Lourenço estará no Vaticano, juntamente com cerca de três mil jovens a participar na celebração ecuménica e, ao seu lado, estará a sua esposa e a sua filha de sete mes4es.

“A partir do momento em que casamos e constituímos família há muitas coisas que apenas fazem sentido se forem feitas em família, a primeira Igreja doméstica. Viver a experiência ecuménica só faz sentido assim”, indica, esperando que desta forma, a participação da sua filha seja uma semente que ajude a estrutura a sua pertença a uma Igreja ecuménica.

“O sonho ecuménico não foi inventado pelo irmão Roger, nem pelo Papa Francisco, mas dito por Jesus – que todos sejam um. É esta experiência da vida cristã que eu quero que a minha filha experiencie, que isto seja constitutivo da sua vida cristã e que perceba que o que está no centro não são teorias mas o encontro com Cristo”, sublinha.

A opção pelo estudo e pelo exercício da Medicina surgiu na vida de António Lourenço quando percebeu que “a unicidade de cada pessoa” era uma forma “um sinal concreto de Deus”.

“A singularidade da pessoa humana é muito interessante. Cada pessoa é criada à imagem e semelhança de Deus mas tem a unicidade. Poder olhar para a pessoa na sua singularidade e descobrir de que forma essa pessoa em concreto é sinal de Deus, que é único para cada pessoa, é o que mais me fascina. A medicina geral e familiar acaba por permitir olhar a pessoa como um todo, não apenas numa perspetiva biológica mas perceber a pessoa no seu contexto familiar, social, profissional, até o económico, e perceber como isso interfere na sua saúde física e mental”, explica.

Olhar para a Medicina como “uma ferramenta e não um fim em si mesmo”, que ajudaria António Lourenço a “melhor amar e servir” levaram-no a São Tomé e Príncipe, a Lesbos e ao Bangladesh.

O primeiro paciente que tive foi na Grécia, num contexto de pessoas migrantes e refugiadas e percebi como a Medicina que lá se praticava era tão diferente da que hoje pratico mas o princípio estava lá: o cuidado com o outro, servir da melhor forma, ir ao seu encontro percebendo as suas inquietações e dar-lhe resposta – isso não é muito diferente do contexto da Grécia ou o que tenho hoje em Lisboa”.

“Não levamos nada, vamos ao encontro de quem nos espera. Deus já se encontra no outro, em qualquer outro e, especialmente, no outro que mais sofre, e que mais tem necessidade de alguém que lhe dê de beber. Esta experiência foi muito marcante porque fui ao encontro de quem já me esperava”, acrescenta.

A conversa com António Lourenço pode ser acompanhada esta noite no programa ECCLESIA na Antena 1, pouco depois da meia-noite, e escutada posteriormente no portal de informação e no podcast ‘Alarga a tua tenda’.

LS

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