Domingo da Palavra: Tradução da Bíblia deve respeitar «sentido profundo» que deu origem aos textos – padre Mário de Sousa

Presidente da Associação Bíblica Portuguesa destaca importância da celebração criada pelo Papa, em 2019

Foto: Folha do Domingo/Samuel Mendonça

Albufeira, 20 jan 2023 (Ecclesia) – O padre Mário de Sousa, presidente da Associação Bíblica Portuguesa, disse à Agência ECCLESIA que uma tradução dos textos da Escritura devem respeitar o “sentido profundo” que está na sua génese.

“Como podemos olhar para um livro que foi produzido a partir de uma comunidade, que expressa uma fé, sem sermos orientados por essa mesma fé?”, refere o coordenador da comissão responsável pela nova tradução da Bíblia, para a Conferência Episcopal Portuguesa.

O entrevistado fala num esforço coletivo, de vários tradutores e outros especialistas, que procura respeita a “própria natureza” dos textos bíblicos, atendendo ao “sentido profundo que lhe deu origem”.

Para o padre Mário de Sousa, há uma “grande diferença” entre a linguagem descritiva, mais habitual na cultura ocidental, e a linguagem “evocativa” da Bíblia.

A função de um tradutor é ajudar aqueles a quem o texto se destina a descobrir o mundo do texto, que não é o nosso, e o mundo por detrás do texto, que está muito distante da nossa cultura”.

A Igreja Católica prepara-se para celebrar o Domingo da Palavra (22 de janeiro), estabelecido pelo atual Papa, a 30 de setembro de 2019, que na sua quarta edição vai ter como lema ‘O que vimos e ouvimos é o que também vos anunciamos’, da primeira carta de São João (1 Jo 1,3).

“É um domingo em que somos convidados a redescobrir como, na Bíblia, encontramos a Palavra de Deus”, evitando olhar para a Escritura como para “outro livro qualquer”, aponta o padre Mário de Sousa.

O sacerdote da Diocese do Algarve sustenta que “a Palavra tem uma centralidade que é inquestionável”, mas é importante celebrar datas como as do próximo domingo, com o objetivo de “parar e recentrar” a vida cristã.

“A Bíblia é uma espécie de tenda do encontro, onde nos podemos encontrar com Deus, como Moisés fazia”, sustenta.

Foto: Lusa/EPA

O Papa vai presidir a 22 de janeiro à Missa do Domingo da Palavra, numa celebração em que, pelo segundo ano consecutivo, institui no ministério de leitor e de catequista leigos e leigas católicas, na Basílica de São Pedro.

Durante a celebração, “com o objetivo de reavivar a responsabilidade que os fiéis têm no conhecimento da Sagrada Escritura, entregará aos presentes o Evangelho de Mateus”, adianta uma nota do Dicastério para a Evangelização (Santa Sé).

O padre Mário de Sousa entende que a valorização do ministério de leitor é “um desafio a um aprofundamento cada vez maior do conhecimento da Bíblia”.

Em ano de assembleia geral do Sínodo dos Bispos, o sacerdote sublinha que o Novo Testamento mostra vários momentos de tensão e debate, com sensibilidades diferentes, sem que se tenha perdido de vista a “verdade do Evangelho” e a “novidade que Jesus sempre implica”.

“A escuta é o princípio do caminho eclesial, do caminho da fé”, acrescenta.

Celebrar o Domingo da Palavra de Deus, neste processo sinodal, é ouvir Deus repetir-nos de novo que o princípio de tudo, que há de acompanhar o caminho da Igreja, é a escuta”.

A entrevista ao presidente da Associação Bíblica Portuguesa está em destaque na emissão do Programa ECCLESIA do próximo domingo, na Antena 1 da rádio pública, pelas 06h00, ficando depois disponível online.

OC

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