Dia Mundial da Paz: Postura dos cristãos portugueses está «muito aquém» das propostas do Papa

Alfredo Bruto da Costa, presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, pede «voz profética» sobre modelo de sociedade

Lisboa, 31 dez 2013 (Ecclesia) – O presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), Alfredo Bruto da Costa, considera que “postura” dos cristãos na sociedade portuguesa está “muito aquém” das propostas do Papa na mensagem para o Dia Mundial da Paz.

“A comunidade cristã como um todo está a ter uma presença muito fraca enquanto voz profética na situação em que nos encontramos”, considera o presidente da CNJP em declarações à Agência ECCLESIA, após ler o documento do Papa para o dia 1 de janeiro de 2014 e onde encontra repetidos desafios da exortação apostólica “A Alegria do Evangelho”.

“Quando exortação apostólica ‘A Alegria do Evangelho’ saiu tive a noção de que a nossa postura na sociedade portuguesa estava muito aquém daquilo que resultava da exortação”, afirma Alfredo Bruto da Costa, que propõe analisar o documento nas próximas reuniões da CNJP.

Para o anterior ministro da Coordenação Social e dos Assuntos Sociais do Governo de Maria de Lurdes Pintassilgo, os cristãos têm de intervir sobre “o modelo de sociedade”, sobre as “estruturas de poder”, denunciando a “ligação evidente” que existe com “o meio económico e financeiro”.

“Há qualquer coisa que tem de ser dita sobre o modelo de sociedade que temos, da estrutura de poder que temos. Os documentos do Papa mais recentes dão-nos a entender a ligação evidente entre o meio económico e financeiro e as estruturas do poder nas sociedades”, afirmou Bruto da Costa.

“Esta é uma situação que não se altera quando nos limitamos apenas a ajudar as pessoas a matar a fome, por mais importante que isso seja”, refere o presidente da CNJP

Alfredo Bruto da Costa sublinha que “há muitas instituições cristãs e muitos cristãos e até não cristãos dedicados aos problemas da fome e da falta de bens essenciais”, e o que se está a fazer “é bem feito e é necessário”, mas “fica por fazer a componente de mudança social para ir de encontro às causas dos problemas”.

“Essa dimensão de mudança social ainda não está assumida pela comunidade cristã como um aspeto absolutamente inseparável do dever da caridade”, afirma Alfredo Bruto da Costa

Para o presidente da CNJP, a grande novidade desta mensagem para o Dia Mundial da Paz reside na dimensão do outro que o Papa Francisco aprofunda, referindo-o sempre em termos de “doação”, e a exigência do reconhecimento de paternidade, nomeadamente transcendente, como condição da fraternidade.

“Sempre que o Papa fala da nossa ligação ao outro, nunca fala dessa ligação de uma forma neutra. Fala do outro, da doação ao outro, do cuidar do outro, de zelar pelo bem-estar do outro. É uma relação pró-ativa”, comenta Bruto da Costa recordando que o Papa especifica “quem é” o outro: “Pessoa, grupo ou nação”.

O presidente da CNJP afirma que, de acordo com o documento para o Dia Mundial da Paz, da justiça depende a fraternidade, a solidariedade e a caridade.

“A grande força da mensagem é que pressupõe que não há fraternidade sem solidariedade, sem justiça. Nós não podemos pensar que o Papa imagina uma fraternidade que seja um mero sentimento”, considera.

Alfredo Bruto da Costa sublinha ainda o convite a um estilo de vida “frugal” que o Papa Francisco sugere no documento, capaz de estabelecer “uma relação sóbria com os bens materiais”.

“Fraternidade, fundamento e caminho para a paz” é o tema da mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz, analisada por Alfredo Bruto da Costa numa entrevista que vai ser emitida no programa Ecclesia, com emissão no dia 1 de janeiro de 2014 a partir das 20h30.

HM/PR

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top