Dia Mundial da Paz: Comissão Nacional Justiça e Paz adverte para riscos «graves» associados a sistemas de inteligência artificial

Organismo Católico une-se a apelo deixado pelo Papa Francisco para que «progressos no desenvolvimento de formas de inteligência artificial sirvam, em última análise, a causa da fraternidade e da paz»

Lisboa, 29 dez 2023 (Ecclesia) – A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNPJ), da Igreja Católica em Portugal, alertou para os riscos associados à utilização dos sistemas de inteligência artificial, cujo propósito pode ser o “mal”, e sublinhou os perigos que acarretam, numa nota divulgada hoje, sobre a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz 2024.

“Como qualquer instrumento, os sistemas de inteligência artificial podem ser utilizados para o bem e para o mal. Tudo depende da finalidade que lhes é atribuída e dos meios que se aceita possam ser utilizados para alcançar tal finalidade. Quem define essas finalidades e esses meios são as pessoas e as comunidades humanas”, pode ler-se no texto enviado à Agência ECCLESIA.

No documento intitulado “Inteligência Artificial e Paz”, para o Dia Mundial da Paz 2024, o Papa abordou as “formas de manipulação e controlo social” potenciados pela inteligência artificial e assumiu que esta é uma ferramenta que se vai tornar “cada vez mais importante”, advertindo para as “oportunidades entusiasmantes”, mas também para “o grave risco” que as novas tecnologias apresentam.

“O controlo absoluto da vida pessoal, a manipulação oculta de escolhas políticas e comerciais, ou a influência de preconceitos discriminatórios na análise da idoneidade de candidatos a empregos e empréstimos bancários, ou da probabilidade de reincidência na prática de crimes”, foram alguns dos perigos reafirmados pelo organismo católico.

Para a CNPJ, a inovação dos sistemas de inteligência artificial vai provocar “profundas transformações na organização” das sociedades.

Tal como no passado outras inovações tecnológicas permitiram que homens e mulheres se libertassem de penosos esforços físicos que puderam ser substituídos por máquinas, assim poderá suceder agora com atividades de âmbito intelectual, com maximização da sua eficiência. Mas, por muito aperfeiçoados que sejam os sistemas de inteligência artificial, haverá sempre uma especificidade humana que nenhuma máquina poderá substituir”.

O movimento laical da Igreja Católica destaca também “o desafio que representa a educação para o uso de formas de inteligência artificial, educação que deve visar sobretudo a promoção do pensamento crítico em relação aos dados que elas possam proporcionar”, salientado pelo Papa.

Para a Comissão Nacional de Justiça e Paz, “não pode ser ignorada a grande desigualdade gerada pelas diferenças de acesso a estes sistemas, tal como a probabilidade de desemprego massivo de profissionais qualificados”.

No final da nota, a CNPJ junta-se ao apelo de Francisco para que a reflexão que deixou para o Dia Mundial da Paz “encoraje a fazer com que os progressos no desenvolvimento de formas de inteligência artificial sirvam, em última análise, a causa da fraternidade e da paz» e resgata os perigos da utilização da inteligência artificial tem em contexto militar.

“No que às questões da guerra e da paz mais diretamente diz respeito, a mensagem alerta para o perigo, que já se nota, de a utilização de “armas letais autónomas” conduzir a uma perceção menor e mais fria da tragédia da guerra, assim como das responsabilidades morais que envolve, as quais nunca recaem sobre máquinas, mas sempre sobre pessoas”, escreveu a CNPJ.

No texto que redigiu para o Dia Mundial da Paz, o Papa Francisco alertou para as “graves questões éticas relacionadas com o setor dos armamentos”, em particular os sistemas de armas letais autónomas e alertou que armas sofisticadas podem cair em “mãos erradas”.

O Dia Mundial da Paz foi instituído em 1968 por São Paulo VI (1897-1978) e é celebrado no primeiro dia de cada ano, com uma mensagem papal.

LJ/OC

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Agência ECCLESIA

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