Dia do Pai: «Eles foram-nos dados; nós fomos-lhes dados» (c/vídeo)

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Quando a paternidade se concretiza com três irmãos que alteraram a vida de um casal sem filhos

 

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Lisboa, 18 mar 2019 (Ecclesia) – José Carlos e Ana Isabel, casados há 14 anos, decidiram adotar três irmãos e concretizar o desejo de constituir uma família, dia que celebram a cada 13 de março.

“Eles foram-nos dados; nós fomos-lhes dados. Não foram gerados por nós, foram gerados por outros mas por alguma razão, aconteceu assim. E eles estão aqui hoje, felizes e contentes”, explica José Carlos à Agência ECCLESIA para falar da relação de paternidade que estabeleceu com os seus três filhos, adotados há cinco anos.

O processo que os levou a optar pela adoção, conta José Carlos, aconteceu após seis tratamentos de fertilidade sem resultados.

“Se Deus quer outra coisa para nós, se de facto Deus quer que seja outro o caminho, então porque não este? Sabíamos que ao contrário do biológico, em que uma pessoa fica ansiosa com o resultado porque não sabe o que acontecer, aqui sabíamos que iria acontecer. Então vamos esperar o tempo que for preciso”, conta à Agência ECCLESIA José Carlos.

Sabiam que poderiam ter um tempo de espera de cerca de oito anos e que a cada 18 meses teriam uma reunião de rotina para reafirmar a vontade de prosseguir com o processo de adoção.

Durante os anos de espera “não se cria uma ideia de ser pai” mas, inevitavelmente, questiona-se: “Se eles já nasceram, quando nasceram, onde estarão, como será a sua vida, serão batizados? Foram coisas que fomos perguntando ao longo da espera”, recorda o professor de biologia.

A notícia chega, quatro anos depois, numa reunião que seria de rotina.

 

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“Nem tínhamos percebido bem a coisa. Apresentaram a proposta: «agora vão para casa, pensem e digam-nos». E nós, no momento, dissemos logo: «nós vamos pensar, mas se é esta a proposta que têm para nós, vamos aceitá-la». Temos muito a ideia de dizer o «sim» de Nossa Senhora: se nos apresentam uma coisa e conhecem-nos bem, então vamos dizer «sim»”.

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O pedido feito no processo de adoção seria referente a irmãos, sem nunca indicarem um número e idades específicas.

 

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A proposta veio com os três irmãos Maria, Ana e José (nomes fictícios), na altura com nove, sete e quatro anos, respetivamente.

“Puseram-nos o processo à frente, sem fotografias. Como já tínhamos definido o sim, o que fizemos foi escrever os nomes e à frente de cada um tirar o máximo de informações: que roupas vestem, o que querem ser, a cor preferida, o que mais gostam de fazer…”, recorda José Carlos, referindo-se a informações atuais e futuras, mais do que fixar o seu contexto e circunstância que os levou ao acolhimento numa instituição.

 

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“Isso também lá estava, tudo: as origens, o processo… mas queríamos saber o que eles já eram. Era isso que nos motivava para o futuro e para construir uma vida com eles”.

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O José, hoje com nove anos, quer ser piloto de aviões; a Ana, com 11, diz que quer ser veterinária, e a Maria, com 14 anos, afirma que um dia irá trabalhar na área do desporto.

“É um ótimo pai. É uma experiência diferente. Nós não tivemos um pai sempre connosco, teve muitos problemas. Percebi que isto é que é um pai. É super divertido, quando se chateia, é mesmo por razão. Foi a melhor coisa que eu tive até agora”, diz a adolescente à Agência ECCLESIA.

“Normalmente ao sábado à noite jantamos pizza, ficamos nos sofás e vemos filmes engraçados que o pai escolhe”, conta a Ana, que das brincadeiras que faz com o pai elege os sustos que habitualmente ele prega.

Já o pequeno José diz que “carne ou peixe” gosta de tudo o que o pai cozinha.

Esta é uma conversa feita a cinco: os pais José Carlos e Ana Isabel sabem que a história e a herança não se escolhe, mas opta-se de que forma se quer construir o futuro.

O pai afirma que não “fazia sentido fazer de outra forma”, uma vez que, no caso da Maria, já com nove anos, “tinha idade para se lembrar de muita coisa”.

“Mas também não queríamos esconder porque faz parte das suas vidas. Uma amiga nossa disse uma vez: «Quando a luz da noite se apaga não fazemos ideia do que lhes vai na cabeça»”, recorda José Carlos, sem esconder receios e medos do futuro.

“Há uma certeza de que isto aconteceu, e é para ser vivido assim. E eles estão aqui hoje, felizes e contentes”.

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Despois de “muita confusão” inicial, inevitável de quem passa de uma rotina de dois para cinco, José Carlos dá conta da satisfação enorme que é “poder transmitir valores, cultura e sabedoria” a alguém.

“Não lhes damos tudo o que querem, mas damos tudo o que pensamos que eles precisam. Não sabemos, mas achamos que é o que precisam”, explica olhando para esta relação de cinco anos de paternidade.

Um dia marcante na vida dos cinco assinalou-se quando a Maria, a Ana e o José foram batizados.

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“O que eles vão ser no futuro, na sua vida não sei… Não sei se serão católicos. Mas o que quisemos com o batismo foi dar-lhes a vida eterna e isso é o que qualquer pai quer para um filho. No futuro, será a sua liberdade, mas o que lhes quisemos dizer é que aqui há esperança e um amor maior que podem aproveitar”.

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De filhos adotivos, a Maria, a Ana e o José tornaram-se filhos: se foi o processo de adoção que explicou o início da sua relação, não é mais hoje isso que rege a ligação com o pai José Carlos e a mãe Ana Isabel.

A Igreja católica celebra no dia do Pai a memória litúrgica de São José, esposo de Maria e pai legal de Jesus, que trabalhava como carpinteiro, em Nazaré.

A reportagem com esta família pode ser escutada no programa de rádio de domingo, na Antena 1, às 6h.

LS

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Agência ECCLESIA

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