Devolver a esperança

Capítulo Geral das Espiritanas decorre em Portugal, procurando respostas em defesa das mulheres e dos mais desprotegidos «Devolver a esperança» poderia ser o lema do 13º Capítulo Geral das Irmãs Missionárias do Espírito Santo, que decorre pela primeira vez fora de França, país de fundação do Instituto, e é acolhido pelo Seminário da Torre da Aguilha – Carcavelos, de 2 a 25 de Agosto. Quase quatro dezenas de participantes representam, nesta reunião magna, as comunidades religiosas espalhadas por 17 países, num trabalho que vai dos bairros de lata de São Paulo a Paris, das Antilhas às florestas de África. Em declarações à Agência ECCLESIA, a Irmã Andrée Boutin, Superiora Geral do Instituto, admite que “ainda não encontramos” o lugar da Espiritanas no mundo de hoje, dado que “a situação que cada religiosa encontra na sua terra de missão é muito diferente daquela que existia antes”. Esta responsável lembra que a Congregação foi fundada nas primeiras décadas do século XX, para trabalhar em favor das mulheres, algo que “era muito mais fácil naquela altura”. Hoje é necessário mais do que ensinar a cozer, a ler ou a cuidar da casa, “dado que a mulher está confrontada com situações de violência, de guerra, de mobilidade forçada”. Por tudo isto, as Espiritanas querem estar “nos novos campos” de trabalho que se abrem junto das mulheres que mais sofrem, em todo o mundo. Nesse sentido, o Capítulo permite compreender a “situação real” de cada comunidade onde as religiosas estão inseridas. A Ir. Andrée Boutin assinala que a maior necessidade constatada até ao momento, nos trabalhos, é a de “dar esperança às pessoas”. Partir em Missão Todas as religiosas desta Congregação sabem, à partida, que o seu carisma as fará partir da terra natal rumo a um país diferente, para longe da família, ao encontro de novas culturas e novos desafios. A Ir. Luciana é francesa e teve de partir rumo ao Brasil, onde permaneceu durante 11 anos na periferia de São Paulo. Aprender a nossa língua, que ainda domina, “não foi assim tão difícil”, e a hospitalidade do povo brasileiro marcou-a para toda a vida. Também a Ir. Elisa teve de partir da sua Angola natal, para um destino lusófono: a Guiné-Bissau. Aqui trabalhou junto dos Manjacos, na promoção e evangelização das mulheres, para além da formação de catequistas. “Aqui foi um bocadinho difícil, porque as pessoas aderem mais a práticas e rituais tradicionais”, confessa. De Portugal partiu a Ir. Sofia, encontrando-se no Gana desde a fundação da comunidade, em 2001. O início da missão foi “um caminhar na paciência”, dado que foi preciso começar do zero. “Nós fomos por causa da educação das meninas. Quando elas chumbavam na escola acabavam por atravessar a fronteira com a Costa do Marfim, acabando muitas vezes na prostiuição”, refere. A pedido do Bispo de Berekum, as Espiritanas instalaram-se no local para abrirem escolas exclusivamente para meninas, algo que não foi muito bem aceite pela população local, numa pequena aldeia onde o Evangelho só chegou há 40 anos. Outro problema liga-se à mentalidade reinante, que impede o surgimento de mais novas vocações: “A ideia de ir para fora ganhar dinheiro não se enquadra com a nossa ideia de sair para ajudar os pobres”. A Ir. Olga partiu de Portugal já em 1992, tendo passado desde então pela República Centro-Africana – “um país de que não se ouve falar muito”, mas onde há muitos problemas -, Costa do Marfim e actualmente encontra-se no Congo-Brazzaville. Aqui foi reabrir uma comunidade que tinha sido encerrada em 1997, após violentos confrontos. Em 2004 já não havia comerciantes portugueses no local, a guerra tinha “arrasado tudo”. O regresso das religiosas foi um sinal de esperança para a população e ainda hoje são as únicas na zona. A situação, contudo, ainda é complicada: “É muito difícil dar esperança aos jovens quando eles estudam e depois acabam por não encontrar trabalho”.

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