Desemprego empurra para a emigração

Organizações católicas lembram situações de «escravatura laboral» e deixam apelo contra o racismo e a xenofobia

O Fórum das Organizações Católicas para a Imigração (FORCIM) alertou para as dificuldades por que passam os portugueses que tiveram de emigrar, “tantas vezes feitos vítimas de exploração e de escravatura laboral”, condenando ainda a persistência de “muitas situações de injustiça, exclusão, marginalização, racismo e xenofobia” contra os imigrantes no nosso país.

Na sua mensagem de Quaresma, enviada à Agência ECCLESIA, o Fórum salienta que a subida do desemprego no nosso país fez baixar os números da imigração. Por outro lado, pelo mesmo motivo, muitos portugueses viram-se “forçados a abandonar a pátria, sonhando com países como a Inglaterra, a Suíça, o Luxemburgo, a França, Angola”.

“São centenas de milhares que não encontraram aqui os meios para a construção de uma vida digna, sem esquecer aqueles que se sujeitam a esquemas de trabalho temporário em Espanha, França, Holanda, na agricultura e na construção, tantas vezes feitos vítimas de exploração e de escravatura laboral”, alerta a mensagem.

Segundo as mais recentes estimativas, saem anualmente do país entre 90 a 100 mil portugueses. Esta vaga de emigração, protagonizada por jovens com formação académica, técnica e profissional, é diversa da que ocorreu no passado. O diagnóstico foi traçado durante o encontro anual dos Coordenadores da Pastoral das Comunidades de Língua Portuguesa da Europa, que se realizou em Londres neste mês de Fevereiro.

A este respeito, D. António Vitalino, Bispo de Beja, Presidente da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana da CEP, lembra na sua mensagem quaresmal que o desemprego “só não cresce mais porque muitos optam pela emigração, hoje mais facilitada dentro do espaço Schengen, mas também menos segura, devido à crise, ao medo, à xenofobia, ao terrorismo”.

“Precisamos de reforçar as nossas qualidades de povo hospitaleiro, solidário, ajudando estes novos emigrantes e suas famílias”, indica.

O FORCIM, por outro lado, convida os portugueses a olhar para “as vítimas da injustiça e da exploração”, observando que “cada vez mais a situação de crise global leva multidões a decidirem ou a verem-se forçadas a sair da sua terra de origem buscando outras paragens onde possam construir um projecto de vida com dignidade, segurança e estabilidade”.

“Quaresma é tempo de orientar a atenção para os mais pobres e marginalizados, para aqueles a quem a sorte parece não sorrir, para aqueles que vivem despojados da dignidade humana e de filhos de Deus, sabendo que entre eles estão muitos migrantes, sem a alegria de viver e despidos de auto-estima”, indica o documento.

Neste sentido, em relação aos imigrantes, condena-se “a exploração laboral, o trabalho mal pago e quase escravo, a precariedade, a exploração sexual em ligação com o tráfico de seres humanos, a não efectivação de direitos consagrados na lei por parte de instituições civis e do próprio Estado” português.

O FORCIM integra as seguintes instituições: Capelania dos Imigrantes Africanos, Capelania Nacional dos Imigrantes Ucranianos, Capelania dos Brasileiros, Caritas Portuguesa, Centro Padre Alves Correia (CEPAC), Liga Operária Católica / Movimento de Trabalhadores Cristãos (LOC/MTC), Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM), Serviço Jesuíta aos refugiados (JRS), Comissão Justiça e Paz dos Religiosos, Comissão Nacional Justiça e Paz, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (FAIS), Comissão Episcopal da Mobilidade Humana (CEMH), Comissão de Apoio às Vítimas de Tráfico de Pessoas (CAVITP).

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