Desafios aos leigos

Ser Igreja na reflexão e debate, na escuta e diálogo, nos reencontros e amizades, na partilha espiritual, na abertura e solidariedade Estávamos no início do ano de 1982, quando recebi um convite do então cardeal patriarca de Lisboa, senhor D. António Ribeiro, para estar presente no dia 12 de Maio na Sé de Lisboa, para receber o Papa João Paulo II, que vinha visitar Portugal. Foi com muita alegria que naquele dia estive na Sé para ver e ouvir o Papa. Recordo toda a “confusão” da sua chegada à Sé e as consequências da acção dos seguranças, mas o que mais recordo foi o olhar que o Papa lançou sobre aquela multidão que enchia a catedral, bispos, sacerdotes, religiosos e muitos leigos. Não esquecerei nunca a emoção que senti e sobretudo a responsabilidade, como representante de um movimento de leigos ao ouvir o que o Papa nos disse. Falou da Igreja, da necessidade de esta se configurar com os ensinamentos do Concílio Vaticano II, iluminada pelo Espírito do Senhor que nos veio propor. Falou da primeira missão da Igreja – o anúncio testemunhal de Jesus Cristo, que leva à fé cristã e à inerente adesão pessoal e comprometida ao mesmo Jesus Cristo, na Igreja, pela força da graça. Falou especificamente aos bispos, aos sacerdotes, aos religiosos e aos leigos e disse: “sois o corpo consciente e militante do comum dos fiéis que integram o povo de Deus nas vossas dioceses, todos vocacionados pelo baptismo a serem membros vivos e activos da Igreja, dignos e corajosos cidadãos do Reino. Tendes parte activa, responsável e insubstituível, quer na construção da própria Igreja, quer na edificação e animação cristã da sociedade onde vos encon-trais inseridos. Esta dupla tarefa, vós a realizais através do testemunho de uma vida cristã exemplar, em todos os campos da vida – privada, familiar, profissional, social. Depois, pelo apostolado directo de evangelização, assegurando a presença da Igreja, com a luz do evangelho de Cristo, nas estruturas, ambientes e actividades da vida”. E o Papa continuou e eu ouvia querendo reter tudo o que então dizia. Também hoje, o Papa Bento XVI, se preocupa com os leigos. Na recente visita ad limina do Episcopado português, lhes recomendou uma cuidada formação e preparação do laicado, a fim de assumirem funções mais específicas e concretas na Igreja. Não conheço bem as realidades das dioceses, mas sei bem o que a diocese do Porto tem feito, relativamente ao trabalho do laicado Por ocasião do Jubileu do ano 2000 e, por iniciativa do então bispo auxiliar do Porto, D. António Carrilho, foram convocadas as direcções das Instituições, Movimentos e Obras para uma reunião, na qual foi constituída uma comissão para preparar o programa do Jubileu das Associações, Movimentos e Obras do Apostolado laical da Diocese do Porto. Do programa, fez parte uma Assembleia que se realizou em vésperas da solenidade de Cristo Rei. Nessa tarde procuramos congregar à volta do Bispo Diocesano uma porção do laicado, numa grande manifestação de comunhão eclesial e apostólica. Foi desenvolvido o tema: “O papel dos leigos no sec. XXI”. Foi tempo de comunhão de anseios, de partilha de experiências e de procurar descobrir caminhos comuns no sentido da unidade de vocação. Sentimos que era necessário encontrarmo-nos periodicamente, de promover actividades com e para o laicado, de pormos em comum os nossos programas de acção, de robustecer forças para um trabalho apostólico mais actuante e participativo. Desde então, todos os anos se tem realizado esta Assembleia das Direcções dos Movimentos e Obras no final do mês de Setembro e na Festa de Cristo Rei umas Jornadas Diocesanas do Apostolado dos Leigos. Sempre temos connosco os nossos senhores Bispos, alguns Assistentes dos Movimentos, Secretariados Dioce-sanos e representantes de algumas paróquias. Os nossos Bispos têm como suas grandes preocupações o acompanhamento dos leigos, nomeadamente através dos Movimentos e Obras, que têm acarinhado e valorizado. Recordo, a propósito, o que disse o senhor D. Manuel Clemente aos mais de 300 leigos presentes “ o cristianismo sobreviveu em muitos países, graças à acção evangelizadora do laicado” e, num tom convincente afirmou: “dada a escassez do clero, o futuro da Igreja do Porto está na força do laicado”. Durante a minha vida, sempre estive integrada em Movimentos de Igreja, a LEC/MEC, enquanto professora e, agora, no Movimento Cristão de Reformados – Vida Ascendente, onde procuro ser fiel aos três pilares do movimento: Amizade, Espiritualidade, Apostolado. Aqui, ponho a render a minha experiência, os meus sucessos, as dificuldades e limitações. Na reflexão e debate, na escuta e diálogo, nos reencontros e amizades, na partilha espiritual, na abertura e solidariedade, faço uma reflexão cristã e partilha fraterna sobre o sentido da vida, os compromissos e os desafios actuais da sociedade onde estou inserida. Tudo isto me leva a crescer na Fé e no Amor ao irmão. Todavia, não renuncio ao meu empenhamento na vida da paróquia onde nasci para o mundo e para Deus, onde cresci e tenho as minhas raízes. Tento colaborar com o meu Pároco, estando disponível para os trabalhos necessários que conduzam a uma maior vivência do evangelho naquele espaço que muito amo. Considero serem estes alguns dos desafios que se põem hoje aos leigos. Corresponsabilidade, empenhamento, partilha de experiências, para descobrir caminhos comuns no sentido da unidade de vocação, missão e carismas, numa verdadeira eclesiologia de comunhão entre todos quantos constituímos a Igreja de Cristo. Maria Leopoldina Pinho, Coordenadora da Secretaria dos Movimentos da Diocese do Porto

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