Dar a vida pela Missão em Moçambique

Padre Tony Neves com D. Luiz Lisboa, em Roma

Foto padre Jaime Patias, consolata, D. Luiz Lisboa com o padre Tony Neves, em Roma

Pequeno, franzino, D. Luiz Lisboa engana-nos pela fragilidade da aparência. Basta começar a falar para, na humildade e serenidade das suas palavras, percebermos como é grande o missionário que ali se esconde. Brasileiro de nascença, Passionista de Congregação, D. Luiz Lisboa é missionário em Moçambique há muitos anos. Foi escolhido para ser o Bispo de uma das zonas mais ‘quentes ‘da África Oriental: a Diocese de Pemba que tem por geografia a Província de Cabo Delgado.

Por muitas razões (ainda pouco claras), esta região do norte de Moçambique está a ferro e fogo, sobretudo desde 2017. Grupos armados invadem povoações, matam (mais de 2 mil), destroem, semeiam o pânico e põem as pessoas em fuga. São já muitos milhares os deslocados (mais de 600 mil), muito abandonados à sua pobreza, apenas ajudados pelas famílias, pelo bom povo da região e por instituições como a Caritas.

O rosto mais notável da denúncia desta situação e da tragédia que este povo sofre é D. Luiz Lisboa, Bispo que tem a cabeça a prémio. Os seus gritos ao mundo têm ecoado e irritado muita gente, mas também aberto muitos caminhos de solidariedade. O Papa Francisco fez da tragédia de Cabo Delgado tema da sua intervenção e bênção ‘Urbi et Orbe’ de Páscoa, em Roma. Depois, telefonou-lhe a 19 de agosto: ‘um grande susto porque nunca esperei um telefonema do Papa’ – confessa. Mandou apoio financeiro de 100 mil euros, ‘para construir dois hospitais de campanha para os deslocados’. Esta sexta feira, recebeu-o no Vaticano, ‘nuns longos e inesperados 45 minutos em portunhol’. Diz que este Papa vindo de uma periferia quer trazer as periferias para o centro: ‘isto tem tudo a ver com a Encarnação, com o Natal’. Mas, para o Bispo de Pemba, ‘não é possível viver o Natal sem pensar nas crianças que estão a viver nas tendas dos deslocados’.

Tudo isto e muito mais partilhou D. Luiz na homilia da Eucaristia que presidiu na Igreja de Santa Maria al Monti, em Roma, neste domingo. Concelebraram cerca de 20 padres de Moçambique e Brasil e os cânticos foram entoados pelo coro moçambicano. A celebração lembrou as vítimas da violência que arrasa o norte do país, bem como as pessoas atingidas pela pandemia e suas muitas consequências. No momento penitencial, o Bispo pediu perdão pelos pecados de cada um, ‘pelos que não pedem perdão e por aquelas empresas que não olham a meios para ter lucro e apenas zelar pelos seus interesses’.

D. Luiz voltou a ser claro, durante a homilia, na denúncia da gravidade da situação que atinge as populações de Cabo Delgado. Insistiu na ideia de que a violência não tem motivações essencialmente religiosas, mas claramente económicas: há jogos de interesses que têm a ver com a riqueza da região e a necessidade de expulsar as pessoas da área. O facto dos bandos armados se confessarem muçulmanos não é o mais relevante, segundo o Bispo., pois eles também matam crentes islâmicos.

Tenta explicar que não é mais possível silenciar a situação que ali se vive, mas, sobretudo, quer indicar-nos caminhos para apoiar as populações martirizadas e acabar com a tragédia. Pede três coisas: oração, denúncia das barbaridades para se combater a indiferença do mundo e ajuda financeira para apoiar as vítimas. É muito claro ao afirmar que reconstruir Igrejas não é a prioridade actual. Agora há que investir na reconstrução de vidas que é urgente salvar.

O Bispo fala em nome das pessoas que gritam por ajuda, mas a sua voz é fraca e não se ouve ao longe: ‘a voz da Igreja é a voz dos sem voz!’. A Igreja em Pemba é samaritana e as populações locais estão a dar ao mundo um exemplo enorme de hospitalidade: ‘há famílias que acolheram nas suas casas e quintais duas ou três famílias de deslocados!’.

No fim, D. Luiz voltou a exprimir a sua grande convicção: ‘Deus não nos abandonou; Ele caminha connosco e sofre connosco’. E – citando a Fratelli Tutti do Papa Francisco – concluiu: ‘Somos todos irmãos e irmãs, responsáveis uns pelos outros’.

Tony Neves, em Roma

 

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