D. Manuel Clemente é o Prémio Pessoa 2009

Bispo do Porto confessa «surpresa» e fala em maior responsabilidade como homem da Igreja e da Cultura

D. Manuel Clemente, Bispo do Porto desde 2007 e presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, é o vencedor do Prémio Pessoa 2009, uma iniciativa do Expresso patrocinada pela Caixa Geral de Depósitos e que visa distinguir a personalidade nacional que se tenha destacou durante o ano.

Em declarações aos jornalistas, D. Manuel Clemente diz ter recebido a notícia com “grande surpresa” e referiu que o prémio traz mais responsabilidade.

“Não estava à espera, nunca me passou pela cabeça”, admitiu, referindo que ontem, ao receber o telefonema, julgava que estavam “simpaticamente a comunicar quem era o premiado deste ano, mas não pondo a minha pessoa no assunto”.

“Agradeço, com certeza, reconhecendo que não sou merecedor de um galardão como este, que tomo como um encargo e uma responsabilização, também, porque sou um homem de Igreja e tento ser um homem da Cultura e da Sociedade, no sentido mais constitutivo do termo e isto agora também me responsabiliza para ainda o ser mais, porventura”, acrescentou.

A notícia foi dada esta Sexta-feira na conferência de imprensa do júri do Prémio Pessoa, no Palácio de Seteais. O júri é presidido por Francisco Pinto Balsemão, tendo como vice-presidente Fernando Faria de Oliveira. António Barreto, Clara Ferreira Alves, João José Fraústo da Silva, João Lobo Antunes, José Luís Porfírio, Maria de Sousa, Mário Soares, Miguel Veiga, Rui Baião e Rui Vieira Nery compõem igualmente o corpo do júri, que distingue com 60 mil euros o vencedor deste galardão.

“D. Manuel Clemente é uma referência para a sociedade portuguesa”, salientou Balsemão.

No decurso de uma visita pastoral à paróquia de Santa Marinha, Vila Nova de Gaia, o Bispo do Porto salientou, a este respeito, que “eu sou o que vou conseguindo ser”.

“A referência ética é o quadro de valores e isso tem sido sempre a minha preocupação”, acrescentou, pedindo que “as decisões pontuais e as resoluções situadas se façam sempre em relação a valores”.

Nesse contexto, e a respeito da possível legalização dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo, o Bispo do Porto considera que o debate em torno do casamento entre pessoas do mesmo sexo “é uma ocasião para a sociedade reflectir sobre o valor da família”.

“No que diz respeito à família, toda a tradição da humanidade sempre se configurou nesse nexo de família em volta de um casal de homem e mulher, aberto a geração de filhos e integrador de gerações. Este núcleo tem sido sempre permanente”, salientou.

Quanto às “outras realidades” que existem na sociedade, e que dependem da liberdade de escolha de cada um, o prelado espera que “não ponham em causa esta realidade que a humanidade já escolheu há muitos séculos”.

D. Manuel Clemente acredita que este é o momento para “conversar” com o Governo, apelando ao “diálogo e aprofundamento de valores”.

Este responsável disse que a sua missão passa por estar com as pessoas, “animá-las, dar-lhes esperança e garantir-lhes que, como representante da mais antiga instituição cultura do país estou ao dispor em tudo aquilo que possa contribuir”.

O prelado ainda não decidiu em que irá utilizar o montante do prémio (60 mil euros), não só por “ainda” estar “muito atordoado com tudo isto”, mas também por ter “um fim-de-semana preenchidíssimo”. “Depois terei tempo para pensar nisso”, afirmou.

Para 2010, o Bispo do Porto deixou votos de que “nos reencontremos como portugueses o melhor de nós próprios”, aludindo a “uma cultura magnífica”. Também voltou a referir a sua satisfação com a visita de Bento XVI à cidade, agendada para 14 de Maio do próximo ano.

O Prémio Pessoa é concedido anualmente à pessoa de nacionalidade portuguesa que durante esse período – e na sequência de uma actividade anterior – tiver sido protagonista de uma intervenção particularmente relevante e inovadora na vida artística, literária ou científica do país.

Além da vasta obra historiográfica, o júri destacou “a sua intervenção cívica tem-se destacado por uma postura humanística de defesa do diálogo e da tolerância, de combate à exclusão e da intervenção social da Igreja. Ao mesmo tempo que leva a cabo a sua missão pastoral, D. Manuel Clemente desenvolve uma intensa actividade cultural de estudo e debate público”.

“Em tempos difíceis como os que vivemos actualmente D. Manuel Clemente é uma referência ética para a sociedade portuguesa no seu todo”, pode  ler-se na acta da reunião do júri.

Entre os distinguidos encontram-se o historiador José Mattoso – vencedor da primeira edição (1987) -, a pianista Maria João Pires (1989), o escritor José Cardoso Pires (1997), o arquitecto Souto Moura (1998), o investigador Sobrinho Simões (2002)e o constitucionalista Gomes Canotilho (2003). No ano passado, o prémio foi entregue ao arquitecto Carrilho da Graça.

Nota biográfica

Manuel José Macário do Nascimento Clemente nasceu em Torres Vedras a 16 de Julho de 1948. Após concluir o curso secundário, frequentou a Faculdade de Letras de Lisboa onde se formou em História.

Licenciado em História, ingressou no Seminário Maior dos Olivais em 1973. Em 1979 licenciou-se em Teologia pela Universidade Católica Portuguesa, doutorando-se em Teologia Histórica em 1992, com uma tese intitulada Nas origens do apostolado contemporâneo em Portugal. A “Sociedade Católica” (1843-1853).

Ordenado presbítero em 29 de Junho de 1979, foi Coadjutor das paróquias de Torres Vedras e Runa, formador e Reitor do Seminário dos Olivais e, desde 1997, membro do Cabido da Sé de Lisboa. Nomeado Bispo Auxiliar de Lisboa e titular Pinhel, em 6 de Novembro de 1999, foi ordenado na Igreja de Santa Maria de Belém (Jerónimos) no dia 22 de Janeiro de 2000.

Nesse mesmo ano desempenhou o cargo de Coordenador da Comissão Preparatória da Assembleia Jubilar do Presbitério para o Ano 2000. Tem-se empenhado, por outro lado, no Congresso Internacional para a Nova Evangelização, cuja sessão lisboeta se realizou em Novembro de 2005, como presidente da Comissão Central de preparação do ICNE.

Na Conferência Episcopal Portuguesa tem sido promotor da Pastoral da Cultura desde 11 de Abril de 2002 e é membro da Comissão Episcopal de Comunicações Sociais desde 20 de Junho de 2002. Actualmente é presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais.

Paixão pela História

Licenciado em História e doutorado em Teologia Histórica, lecciona História da Igreja na Universidade Católica Portuguesa desde 1975 e foi Director do Centro de Estudos de História Religiosa da mesma Universidade.

É autor de obras como “A Igreja no Tempo, História Breve da Igreja Católica” [Lisboa, Grifo 2000] e de vários trabalhos sobre o catolicismo em Portugal a partir do Liberalismo.

É também presença habitual no Programa Ecclesia, na RTP2, com a rubrica “O passado do presente”, dedicada à História da Igreja.

D. Manuel Clemente é conhecido e respeitado no meio cultural pelo diálogo com os diferentes sectores do pensamento intelectual e social.

Publicações

Livros e estudos sobre temas das áreas de História, Teologia e Pastoral, publicados em edições e revistas da especialidade, de que se destacam:

– Portugal e os Portugueses. Lisboa, Assírio & Alvim, 2008.

– 1810 – 1910 – 2010; Datas e Desafios. Lisboa, Assírio & Alvim, 2009.

– Um Só Propósito. Homilias e Escritos Pastorais. Lisboa, Pedra Angular, 2009.

– Os Papas do séc. XX. Lisboa, Paulus, 2007.

– Igreja e Sociedade Portuguesa do Liberalismo à República. Lisboa, Grifo, 2002.

– A Igreja no tempo. Lisboa, Grifo, 2000.

– ESPÍRITO e espírito na história ocidental – os despistes da esperança. In As razões da nossa esperança. A caminho do terceiro milénio. Lisboa, Rei dos livros,1998.

– Das prelaturas políticas às prelaturas pastorais: o caso de Pinhel. In Lusitania Sacra. Segunda série. Lisboa, 8-9, 1996-1997.

– Milenarismos. In Creio na vida eterna. Lisboa: Rei dos livros, 1996.

– Sínodos em Portugal: um esboço histórico. In Estudos Teológicos. Coímbra. 1, 1996.

– As paróquias de Lisboa em tempo de liberalismo. In Didaskalia. Lisboa, 25, 1995.

– Os Seminários de Lisboa. In Novellae Olivarum. Nova série. Lisboa, 8, 1994.

– Universidade Católica Portuguesa: uma realização de longas expectativas. In Lusitania Sacra, Segunda série. Lisboa, 6, 1994.

– A sociedade portuguesa à data da publicação da Rerum Novarum: o sentimento católico. In Lusitania Sacra. Segunda série. Lisboa, 6, 1994.

– Igreja e sociedade portuguesa do Liberalismo à República. In Didaskalia. Lisboa, 24, 1994.

– Nas origens do apostolado contemporâneo em Portugal, A “Sociedade Católica” (1843-1853). Braga, 1993.

– Cristandade e secularidade. In A salvação em Jesus Cristo. Lisboa , Rei dos Livros, 1993.

– Fé, razão e conhecimento de Deus no Vaticano I e no Vaticano II. In Communio. Lisboa, 10:6, 1993.

– A Igreja e o Liberalismo. Um desafio e uma primeira resposta. Communio. Lisboa, 9:6, 1992.

– Laicização da sociedade e afirmação do laicado em Portugal (1820-1840) . In Lusitania Sacra, Segunda série. Lisboa, 3, 1991.

– O Congresso católico do Porto (1871-1872) e a emergência do laicado em Portugal. Lusitania Sacra , Segunda série. Lisboa, 1, 1989.

– Cardeal Cerejeira: Pensamento, coração e relação com o poder. In Novellae Olivarum. Nova série. Lisboa, 15, 1989.

– Clericalismo e anticlericalismo na cultura portuguesa. In Reflexão Cristã. Lisboa, 53, 1987.

– Reflexões sobre os 50 anos da Acção Católica Portuguesa. In Novellae Olivarum. Nova série. Lisboa, 8, 1984.

– Católicos, Estado e Sociedade no Portugal oitocentista (congressos católicos de 1891 e 1895). Communio. Lisboa, 1:3, 1984.

– Notas de cultura portuguesa. Do teatro sagrado ao teatro profano. In Novellae Olivarum. Nova série. Lisboa, 6-7, 1983.

– Notas de cultura portuguesa. Os papas e Portugal. In Novellae Olivarum. Nova série. Lisboa, 2-3, 1983.

– Monsenhor Pereira dos Reis. (Em colaboração). Lisboa, 1979.

– A Igreja no tempo. História breve da Igreja Católica. Lisboa, 1978.

 

Textos e intervenções de D. Manuel Clemente na Agência ECCLESIA

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